Nossos jovens precisam pensar muito mais

Muito infeliz um trecho da fala da presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff em entrevista ao programa “Bom Dia Brasil”, da Rede Globo, na última segunda-feira (22/09). Respondendo a uma pergunta sobre metas do Governo Lula e de seu governo para acabar com o analfabetismo, Dilma mencionou inicialmente que “os dois anos finais do ensino fundamental e o ensino médio, de fato, não estão bons” e que o governo Lula e o seu governo (entendi assim o “nós não conseguimos”) não conseguiram entrar na meta.

Logo em seguida a candidata ressaltou o seguinte: “nós temos esse diagnóstico do ensino médio. Tanto é assim que criamos o Pronatec. O Pronatec tem duas partes, uma parte é ensino técnico. Por que criar um ensino técnico? Porque o jovem do ensino médio, ele não pode ficar com 12 matérias, incluindo nas 12 matérias Filosofia e Sociologia. Não tenho nada contra Filosofia e Sociologia, mas um currículo com 12 matérias não atrai um jovem. Então, nós temos que primeiro ter uma reforma nos currículos e isso não é algo trivial. O governo não faz isso por decreto, porque têm todos os entes federados envolvidos”.

Para mim fica bem claro que Dilma acredita que o problema do Ensino Médio seja o excesso de disciplinas, e que, numa possível reforma curricular baseada nesta visão, a Filosofia e a Sociologia deveriam cair fora. Que pena ver uma presidente da República falar algo assim! Talvez ela não saiba, pois não conhece a fundo o cotidiano de uma escola ou, mais especificamente, do Ensino Médio, mas tudo que as atuais gerações de crianças e adolescentes mais precisam é aprender a pensar melhor, a lidar com questões coletivas, permeadas pela ética. Sem aprofundar ou entrar em pontos específicos dos programas das duas disciplinas, afirmo apenas que estas são bases fundamentais da Filosofia e da Sociologia.

Dilma, que honra tanto seu passado de combatente contra a ditadura militar no Brasil, talvez não se lembre que, entre as tantas ações focadas na censura do livre pensar e do livre agir, está justamente a retirada da Filosofia e da Sociologia do Ensino Médio. Lembro-me nitidamente que lá pelos idos de 1987, dois anos após o fim do último governo militar, eu e outros tantos estudantes de Filosofia e Sociologia da Universidade Federal da Bahia e da Universidade Católica de Salvador participávamos das campanhas pelo retorno das disciplinas no currículo do Ensino Médio.

Desde 1971, quando deixaram de ser lecionadas, as duas só retornaram ao Ensino Médio de forma obrigatória (passaram algum tempo como optativas) quase quatro décadas depois. Uma lástima saber que tive que conhecer formalmente conteúdos destas áreas apenas no Ensino Superior. Muitos países e até mesmo no Brasil a Filosofia é ensinada já no Ensino Fundamental 1, ampliando significativamente a capacidade de autonomia de pensamento e escolha de uma faixa-etária que logo estará na adolescência e, em seguida, na vida adulta.

A área de humanas vem ganhando espaço considerável em todo o mundo (principalmente nos países mais desenvolvidos). Seria de esperar que o Brasil pudesse assimilar que seu crescimento como nação tem a ver diretamente com o amadurecimento político-social de sua população. Desta forma, quanto mais as pessoas forem preparadas para opinar e para escolher livremente, mais elas se tornarão competentes no que quer que façam.

Não basta que as escolas deem formação técnica de boa qualidade. Isso já é um pressuposto básico. Elas precisam também dar suporte para que seus alunos consigam ser pessoas melhores, cidadãos mais dignos e profissionais íntegros e competentes. Neste sentido, a opinião da presidente sobre a Filosofia e a Sociologia no Ensino Médio é um verdadeiro retrocesso.