É fácil publicar um livro?


Em resposta para uma amiga que me perguntou como publicar um livro, respondi:

Querida Márcia, editora sem custo no Brasil (e talvez no mundo também) é uma utopia. Na verdade, a chamada "cultura" é um produto vendável a preço de ouro. A maioria das pessoas que estão envolvidas com a difusão e fomento da cultura está mais preocupada com suas vaidades pessoais que mesmo com os resultados práticos de suas atividades no mundo real. E na literatura não é diferente. Quem pode, banca projetos milionários de divulgação de seus trabalhos, daí, após cair no gosto da mídia, aparecem editoras querendo patrocinar... Fora disso, resta a quem escreve guardar seus escritos nas gavetas ou tentar uma editora que imprima o livro e coloque nas mãos do próprio autor para distribuir e vender...

Comigo não tem sido diferente. As editoras não querem publicar livros que não sejam bons de venda; e livros bons de vendas são aqueles escritos por grandes personalidades... "Escritos" é modo de falar, pois na maioria das vezes há um Ghost-Writer (*) por trás dessas pessoas, que não devem ter tempo para sentar na frente da tela de um PC para escrever coisa alguma...

O processo que realizo é o "devagar e sempre", divulgando meu nome em congressos, feiras, encontros, simpósios, bienais, etc. e tal, para ir ganhando espaço na mídia. E investindo, como posso, em publicações.

Agora estou promovendo um concurso de poesias, em que os vencedores terão seus trabalhos publicados em uma antologia. Já estou no terceiro ano desta iniciativa, que também é um trabalho de marketing pessoal. É coisa para futuro, e espero que o futuro venha logo, mas não venha de vez, pois ainda não estou preparado para isso (fama e afins).

Há os concursos literários, prêmios de toda espécie, e financiamento público da arte através dos programas de "renúncia fiscal" nos estados, em alguns municípios e no governo federal. Na Bahia, por exemplo, existe o "Faz Cultura", sobre o qual busco informações há quatro anos e somente agora consegui chegar perto da burocracia estatal e estou sonhando em publicar livros meus através desse programa. A prefeitura de Salvador também tem um programa semelhante, porém condiciona a aprovação do projeto à apresentação, pelo autor do pedido de financiamento, de uma empresa fonte dos recursos a serem utilizados... No governo federal tem a Lei Rouanet e Mecenato, além de outros mecanismos, através dos quais se consegue financiamento para arte e cultura em geral. São processos lentos, super burocráticos e complexos, mas que funcionam. Estou com um projeto a dois anos no Ministério da Cultura, em Brasília, aguardando "parecer técnico" (?)...

E nas editoras, é como você citou no seu e-mail, "às vezes, nem pagando eles querem publicar"... Engraçado, não é? O sistema recusando dinheiro. Mas tem por trás disso toda uma política de imagem da empresa, linha editorial, etc.

Meu primeiro livro eu só consegui publicar VINTE ANOS após anunciar que o faria... Mas agora as coisas estão fluindo melhor, pois já estou consciente de que eu tenho que fazer TUDO sozinho mesmo e não esperar por ajuda de entidades, organizações, governos etc. E espero que no futuro tudo seja melhor e mais fácil.

Não estou querendo desanimar. Apenas clarear um pouco sobre o assunto, a fim de que você não sonhe demais nem faça seus clientes ficarem numa expectativa muito grande...

O assunto me fez escrever o livro "Como escrever, divulgar e publicar um livro", que está à venda nas melhores livrarias: Cultura, Saraiva e outras.

Um forte abraço.
Valdeck Almeida de Jesus
(*) Ghost-Writer ou Escritor Fantasma, aquele que é pago para escrever livros e “vender” para terceiros.
Valdeck Almeida de Jesus
Enviado por Valdeck Almeida de Jesus em 24/05/2007
Reeditado em 21/05/2014
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