SUA MAJESTADE A PALAVRA

Ah! As palavras, esses entes vivos que alguns pensam manipulá-los com facilidade!

Alguns autores reconhecem e falam de suas dignidades e as respeitam, outros nem tanto.O bom professor de português tem um carinho especial para com as palavras mesmo quando não se manifesta ruidosamente com elas.Eles, os professores, sabem o valor das palavras, e, usam de certa parcimônia para lidar com elas, pois sabem que elas são temperamentais e exigentes,mesmo quando expressadas de maneira muito simples.Numa frase mal concatenada as frases imediatamente reagem e reivindicam suas posições,e às vezes até gritam isso .

Mas como tudo na vida tem exceções, há palavras servis, que aceitam expor-se em qualquer posição e fazem sucesso pelo talento de seus escritores e não por ter sido observada sua função gramatical ou o bom uso da sintaxe. Isso quem nos explica, em pinceladas rápidas e certeiras, é o grande Luis Fernando Veríssimo em “O Gigolô das Palavras”.

O problema é que a palavra é mulher e como toda mulher por mais simples que seja, é perigosa, dúbia, por vezes explosiva, meiga, suave, amorosa e sarcástica. Ah! Como a palavra pode ser sarcástica.Quando a colocam numa posição indevida ela até pode permanecer ali, submissa, mas se relançarmos um olhar atento ela retribui com a reprovação do abuso e delatará a ignorância de quem pensa dominá-la.

Por isso até os homens poderosos por vezes se dizem de poucas palavras.Porque as temem, as respeitam e sabem que elas podem denunciá-los.

Ah! Essa coisa feminina de ser uma crítica contumaz amedronta e fascina, palavra, todos gostariam de dominá-la e usá-la habilmente; seria como plebeus dominando a”Majestade

Palavra”.

As palavras podem ser ricas e simples, pobres e complicadas no seu processo de transformação gráfico acústica. Isso depende de quem se apodera de um vocábulo ou entra no território das letras e de quanto respeitam as regras fonotáticas

Não existem apenas compositores de músicas, de arranjos ou sei lá o que... existem compositores neologistas atuais tão criativos que parece que o nosso idioma pátrio irá ressurgir num “boom” instantâneo irreconhecível. Vez por outra vemos o campo da sintaxe transformar-se em campo de futebol de várzea, onde as palavras depois de ortograficamente pisoteadas pela caneta na escrita são surradas pelo aparelho fonador e terminam perdidas sem saber onde é seu lugar.

Pois vejam; as palavras têm vida e viver é ter problemas, mesmo quando a maior parte do tempo estivermos enleados em flores. Por isso ficamos pesarosos por algumas palavras,coitadas, que não se fazem entender pelo próprio escritor que tenta dominá-la sem conhecê-la.Homens há, que jogam palavras ao léu .Até o homem muito humilde que nada tem a dar, ocasionalmente diz: eu te dou a minha palavra, ora que sentido de posse para com a pobre palavra! E há os que dizem: tirastes as palavras da minha boca, ou, estás colocando palavras na minha boca e isso é dito com raiva e a coitada da palavra nem queria estar naquela boca.Pobres palavras usadas como joguetes! Apesar de estar satirizando da palavra e de também usá-las inadvertidamente, quero deixar registrado aqui a importância destas vinte e três unidades do alfabeto que formam o corpo deste milagre primordial da comunicação; a palavra! Uma palavra pequena e simples pode ser o elo entre um homem e uma mulher, como num sim, num casamento; até sabemos que essas palavras mesmo quando faladas e escritas em tom de promessa , podem evolar-se quando proferidas em meio a testemunhas. Sabemos que poucas palavras podem causar muito dano, enquanto muitas palavras, gastas na escrita, ou faladas, podem não dizer nada e mesmo assim podem permanecer com ares de sapiência pelo fato de não acrescer ou diminuir o valor de um texto. Mas existe uma palavra que pode fazer a felicidade de uma mulher, de um homem de uma criança, de uma multidão e salvar o mundo.Uma palavra que se orgulha de ser pronunciada, escrita, soletrada, desenhada, balbuciada, expelida em altos brados: a palavra Amor!

JOYCE RABASSA

joycverabassa@hotmail.com