A CADA DIA ELES FICAM MAIS OUSADOS

A CADA DIA ELES FICAM MAIS OUSADOS

É complicado compreender o que está ocorrendo com grande parte dos jovens brasileiros: drogam-se, são portadores de vícios diversos, muitos não estudam, não têm empregos formais, não têm lazer programado e muitos são analfabetos. “Quando a família se desestrutura, a sociedade cambaleia e desagrega” (Divaldo Franco) – citação em palestra proferida em Brumado.

O ônus disso tudo fica para a comunidade. Os pais, dominados pela pobreza, pelo alcoolismo e por não terem a proteção necessária do Estado e da sociedade, são vítimas e cúmplices das atitudes dos filhos, terminando por aceitar o envolvimento ilícito destes. Por necessidade, fazem vista grossa, aceitando os crimes praticados, acobertando-os por medo das consequências.

Desocupados, até por falta de oportunidades e qualificação, muitos jovens entregam-se aos desmandos sociais para adquirir algo e gastar à vontade nas festas programadas que são realizadas em sua cidade. Para extravasar as suas energias, utilizam drogas, lícitas ou não, roubam e praticam todo tipo de ilicitudes que as facilidades lhes oportunizam.

Por não se sentirem incomodados e, em virtude disso, promiscuídos, viram marginais e até chefes de gangues que desrespeitam a sociedade e as leis do país. Tornam-se um transtorno para as autoridades, principalmente quando são menores. Protegidos legalmente pelo ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), eles se sentem acobertados e arrostam a todos pela certeza da impunidade.

Cabe aqui, diante dessa exposição, relatar o seguinte fato: certa pessoa deparou-se com um sujeito menor, que estava à espreita de facilidades para dar um golpe. Achegou-se oferecendo para lavar o carro, o que foi prontamente rejeitado, por motivos óbvios, pois, além de não portar nenhum apetrecho para tanto, o dono do veículo intuiu tratar-se de um ladrão – foi o que aconteceu. Imagina-se que o lalau verificou as travas do veículo e constatou que o fundo do carro estava aberto e, dessa forma, retirou a parte frontal do aparelho toca-fitas, satisfazendo o seu prazer por mais um objeto surrupiado.

Alguém que viu o malandro saindo do automóvel com o produto do roubo confidenciou que não o reprimiu com medo de represália. Pelas ações criminosas de que se têm notícias, verdade ou não, a eles são atribuídos todos os furtos da redondeza. Agora, é costume os larápios intimidar as vítimas, ameaçando-as para que não os denunciem.

A vítima não fez o boletim de ocorrência, por entender que nada será feito por tratar-se de menor, acobertado pela lei. E assim sendo, esse delito não constará das estatísticas da violência local. Infelizmente, a descrença, às vezes, toma conta do cidadão que vê, na falta de ações das autoridades coativas, a imputabilidade prevalecer, e assim fica com o sentimento de uma grande decepção.

É necessário entender que, mesmo menor, o elemento bandido que já teve várias passagens pela delinquência perpetrada é marginal. Ainda que a lei o proteja, há de se pensar no bom senso. Esta é a opinião de muitos: quem não é útil à sociedade, pela prática da ilicitude, ainda que seja menor, há de ser responsabilizado pelo crime cometido.

Embora se tenha discutido muito sobre o assunto e cada um tenha a sua opinião, a realidade é que ninguém nasce bandido. “O homem é produto do meio” e como tal os meios devem ser disponibilizados, como a presença da família, a educação, a disciplina, o esporte, o trabalho e a religião, que é um freio dos ímpetos da juventude.

Enfim, que, também, o Estado e a sociedade se unam às entidades protetoras: Direitos Humanos, ECA, Defensoria Pública e outras com a finalidade de sanar os problemas da delinquência. Sem esse envolvimento é impossível se fazer alguma coisa em prol da causa. Segundo Santo Agostinho, “o homem é composto do bem e do mal e sua atuação depende do que ele irá desenvolver com maior ênfase”. A atitude marginal depende da punição que poderá advir da sua criminalidade.

Diz a máxima popular que “as cadeias brasileiras são as universidades do crime”. Em virtude dessa definição, hão de adotar-se medidas socioeducativas para minimizarem a situação. A questão carcerária, por exemplo, tem-se transformado num processo de grande periculosidade devido ao número elevado de pessoas presas em ambientes de pouca dimensão e sem culpa formada judicialmente. Cabe ao Estado tomar as iniciativas para a resolução dessas pendências.

O advogado Luiz Frederico Rego (Fredinho) cita a sentença do pensador Sartre: “O homem não é nada se não for um contestador”. Portanto, cabe ao cidadão contestar e exigir os direitos que as leis colocam à sua disposição para que haja as mudanças desejadas. “Quem cala consente”.

A frase do senador Marco Maciel ajuda a compreender o assunto: “O mundo, atualmente, está diante de um antigo desafio que cresceu e se multiplicou – o desafio ético”. Afirma, ainda, constar das declarações de Dom Geraldo Majella Agnelo a seguinte visão: “Acredito que o mundo está passando por uma transformação muito grande. O esquecimento dos valores, a perda de referências, o subjetivismo e a fragmentação geram o isolamento e o egoísmo”.

De acordo com o conceito psiquiátrico, essa atitude pervertida é um desafio que satisfaz aquelas pessoas com a mente deturpada. Quem vem de famílias desequilibradas, de drogados, alcoolizados, socialmente tende a ter um comportamento agressivo de desabafo e revolta contra os bem-nascidos e melhor aquinhoados.

Infelizmente as drogas tem sido o refúgio dos desesperançados.

Antonio Novais Torres

antorres@terra.com.br

Brumado, em 17/07/2007.

Antonio Novais Torres
Enviado por Antonio Novais Torres em 18/11/2014
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