AGORA EU SOU FUNCIONÁRIO PÚBLICO

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O fazendeiro, um agropecuarista muito bem-sucedido, homem de grandes fortunas, arrematou um animal da raça vacum, afamado por seu vigor, pelo porte avantajado e pela desenvoltura da raça. Possuía estilo! Fora talhado para a reprodução e, por conta disso, ganhou o primeiro lugar em muitas exposições agropecuárias das quais participara.

Diante dos prêmios conquistados nas exposições, o touro foi considerado um grande vencedor. Pelo mérito do porte, era um animal cobiçado, sendo, por isso, alugado para pessoas interessadas em fazer a devida cobertura no intuito de produzir animais com as suas características.

O proprietário do animal, uma pessoa avarenta, sempre aumentava o preço do acasalamento, tornando inviável, devido ao alto custo, o aluguel do reprodutor para os fins desejados.

O prefeito, que tinha o perfil de político populista, à vista do ocorrido, na intenção de agradar aos seus correligionários fazendeiros e, por extensão, aos pecuaristas vizinhos, comprou, por vultosa quantia, o touro e fez dele um patrimônio da prefeitura. Justificou a compra dizendo que seria para melhorar o plantel do município com uma raça apurada de animal de grande porte.

Essa posição teve a finalidade de atender os que procurassem o alcaide com o objetivo de utilizar-se do animal para a produção de crias semelhantes, advindo, dessa atitude, dividendos políticos.

A partir do fechamento do negócio, o touro ficou à disposição do interessado, contudo o reprodutor pôs-se desanimado e macambúzio. As vacas trazidas não lhe despertavam o interesse e, em assim sendo, outras de melhor porte, mais vistosas, foram trazidas, mas o animal continuava sem a lubricidade que sempre lhe despertaram as fêmeas. Uma atitude inusitada e decepcionante que necessitou da presença do ex-proprietário para explicar a conduta do touro que ficou apático repentinamente, atitude injustificada conforme avaliação do prefeito.

O vendedor dirigiu-se até o boi com bastante cautela e atenção especial, acarinhou-o, falando-lhe ao ouvido bem baixinho e com bastante cuidado, dizendo-se contrariado e decepcionado com a sua atuação, que não condizia com o seu papel e o seu valor de campeão reprodutor.

O reprodutor, então, muito sério e dono de si, respondeu ao ex-patrão: “Calma, meu senhor, agora eu sou funcionário público! Tenha paciência! As coisas mudaram de rumo e a minha atuação tem de ser contabilizada. Primeiro é necessário promover a licitação, obedecer à Lei de Responsabilidade Fiscal e a todos os trâmites legais”.

Antonio Novais Torres.

antorres@terra.com.br

Brumado, em 22/12/2006.

Antonio Novais Torres
Enviado por Antonio Novais Torres em 30/11/2014
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