“Óia Procê Vê”: realidade, conhecimento e aprendizagem no século XXI.

“Óia Procê Vê”: realidade, conhecimento e aprendizagem no século XXI.

Resumo:

Oriundo de um movimento de idéias sobre a questão do ensinar e do aprender nos espaços e tempos institucionais, este artigo faz algumas aproximações entre processos de percepção do real, construção do conhecimento e aprendizagem, a partir de pressupostos teóricos presentes no campo da pesquisa pedagógica. Articulo aqui saberes e experiências essenciais ao ato de educar e demonstrar alguns aspectos fundamentais à reflexão sobre os temas em tela, percebendo os muitos desafios a serem enfrentados na atualidade, para que estejamos imersos, de fato, numa sociedade da informação e do conhecimento.

Palavras-chave: Realidade, Construção do Olhar, Conhecimento, Aprendizagem.

Abstract

Originating in by one movement of ideas above the question of the school and of the learn on the areas and time institutional this article ago some approximations among processes of perception of the real , building of the knowledge and apprenticeship , as of this date presupposed theoreticians presents into the field from research educational. Articulate here I will know and experiences essentials the act of bring up and demonstrate some appearances fundamentals on the reflection on the subject of the themes screen, sensing the a good many defiance the I shall be coping on actuality, wherefore we may be immersed , in effect , on a society on the information and of the knowledge.

Key-words:

Reality, building of the look, knowledge, apprenticeships.

Introdução:

Realidade, conhecimento e aprendizagem no século XXI. Três temas de grande importância à ação dos educadores, dos gestores em educação, dos psicopedagogos institucionais e clínicos, enfim, temas de relevância quando se trata de cotidiano escolar.

Faz tempo, dedico meus estudos e escritos sobre a construção do olhar, tema que é recorrente em minha produção teórica e minhas reflexões sobre aprendizagem, educação e psicopedagogia (1).

Aqui, neste artigo iniciado com uma expressão que muito ouvi e vivenciei nos dois últimos anos pela ação psicopedagógica e de docência em cidades no sul de Minas Gerais, “Óia Procê Vê”, faço novas reflexões sobre este olhar, objetivado a compartilhar idéias que possam, talvez, colaborar com a revisão paradigmática que percebemos tão presente em nosso tempo. A partir disso, elaboro uma divisão didática para este texto, elencando algumas anotações sobre realidade, depois sobre conhecimento e por fim aprendizagem no século XXI, elaborando, a posteriori, um pequeno conjunto de reflexões como proposta de conclusão.

I - Realidade:

“Digo: o real não está na saída nem na chegada:

ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”

Guimarães Rosa

Para percebermos a realidade e suas complexidades precisamos ter nossas consciências ampliadas com a observação critica do contexto onde, de algum modo, nos inserimos. A análise do real depende dos olhos de quem vê, ou seja, é sempre a partir de nossas vivências que buscamos compreender o que está em nosso entorno. São as experiências que acumulamos através de nossa trajetória aprendente que nos dão suporte para tal movimento, pois essencial é iniciarmos com uma busca de reflexão “sobre o onde estamos, o como estamos e com quem estamos” (2).

Neste sentido, a tarefa de compreensão deste real faz com que tenhamos que fazer um outro movimento: o da escolha. Ou seja, que instrumentais usarei para tentar compreende-lo? Este é um primeiro passo necessário, pois somente a partir dele podemos dar outros passos, como o de intervir, interferir, sugerir, modificar, propor. Por que afirmo isso? Para olhar, para ver; preciso sempre escolher as “lentes” com que vejo, ou seja, não se pode compreender o real sem uma teoria que o justifique. Afinal, aquilo que existe efetivamente e é real, precisa ser explicado.

À medida que a realidade é contraditória, inacabada, indeterminada, ela possui inúmeros aspectos e formas de percepção, porque é plural e diversa. Tentar compreender o real envolve perceber múltiplos aspectos que o compõem, diferenciando-os e tenha a noção de que tal “percepção perpassa por formação de juízo de valores, por escolhas ideológicas, por modos e formas de ver e compreender o mundo e suas complexas relações.” (3).

O processo interno que desenvolvemos, então, é de saber que é a nossa inserção com o contexto e meio social que nos dá a capacidade de agir, interagir, viver enfim: é a diferenciação que fazemos entre o que nos é possível a fornecedora de nossas matrizes psicológicas de percepção deste real. A busca pelo conhecimento só acontece quando desejamos compreender a vida e suas complexidades a partir desta diferenciação. Se acomodados com a nossa realidade primeira, nada realizamos e nada fazemos, não seguimos adiante. A insatisfação com o que está posto sempre foi o que moveu o mundo, o que possibilitou um número imenso de avanços, invenções, criações. O humano se constituiu como tal por interagir com o que era dado como real e, ao assim fazer, buscar alterá-lo, mudá-lo, transformá-lo enfim, ou, ao “menos, termos uma maior compreensão de sua dinâmica.” (4).

A dialética existente entre o real e o que se deseja ser real vincula-se a proposição de compreender tal dinâmica, sempre presente na vida humana. Na trajetória evolutiva de nosso planeta, enfim, na evolução da humanidade, sempre existiram os que desejaram uma outra realidade e inúmeros exemplos históricos poderíamos aqui relacionar. É interessante, entretanto, perceber que em processo de transformações paradigmáticas “... o novo é a superação do velho pela sua incorporação e transformação. Está contido no velho como germe e como causa mortis. Destrói o velho, fazendo nascer dele o novo, como a morte da semente faz germinar a planta e a morte da flor germina o fruto...” (5).

II - Conhecimento:

Para conhecer é preciso a investigação e a descoberta, que são geradoras da alegria de aprender. É a curiosidade que faz, refaz, constrói e reconstrói o conhecimento em permanente movimento. A pesquisa, como princípio educativo, fornece inúmeras possibilidades de formação humana e de aprendências.

O conhecimento, percebido como modo de aquisição de repertório de saberes codificados é, antes de tudo, o domínio de ferramentas e instrumentos para a melhoria da qualidade da vida humana, compreendida em suas múltiplas dimensão, em sua integralidade. Compreender o mundo que nos é essencial para o viver com dignidade, e ao assim, desenvolver as nossas inúmeras potencialidades com sujeitos. Conhecer é o prazer de compreender, de interrogar, questionar.

Uma busca perene é o que deve ser a busca pelo conhecimento e, por isso, para conhecer mais e cada vez melhor, precisamos sempre estar em movimento de aprender e aprender, pois novos desafios sempre surgem, fazendo com que tenhamos que reaprender novos conteúdos e desaprender o que não é mais de serventia. Os processos do conhecer sempre serão inacabados e incompletos, em permanente construção: para conhecer é necessário encontrar prazer na própria procura, é buscar sempre novos significados para tal ato humano, percebendo que conhecer "significa penetrar através da superfície, a fim de chegar às raízes e, por conseguinte, às causas; conhecer significa "ver" a realidade em sua nudez".(6).

Conhecer, talvez seja nosso modo de buscar alguma lucidez em num mundo tão complexo e repleto de idiossincrasias, com tantos desafios para que a vida humana seja valor maior a ser compreendido por todos que exercem alguma forma de poder e influência. Conhecer também pode ser a ampliação do sentido da própria vida. E mais uma vez, recorro à poesia, um trecho de Orides Fontela, para ilustrar este pensar:

“(...) a busca do conhecimento não é para nada”

e sim VIDA, aqui e agora.

E é esta vida que precisa ser resgatada (...)

...na raiz cega deste espanto/ há um cristal (...)

quem o fitar ficará lúcido para sempre”.

III - Aprendizagem:

“Quem ensina aprende ao ensinar,

quem aprende ensina ao aprender.”.

Paulo Freire

Muito escrevemos e falamos, discutimos e ouvimos sobre aprendizagem, este fantástico fenômeno humano, onde a vida ganha sentido e faz com que, enquanto espécie, sigamos adiante. Leituras vinculadas aos novos paradigmas em educação nos mostram o quanto à vida humana é focada na aprendizagem: somos animais que aprendem, constantemente, durante toda a nossa vida.

Aprender é, por isso, energia vital e força maior que conduz nossos atos de sermos e estarmos em interação com os outros, com o mundo e com a herança histórica de nossa humanidade. Aprender é fazer parte de, é interagir com a diferença, é olhar para poder ver, ampliando recursos internos e nossas capacidades de assimilação, acomodação e estruturação, em movimento dinâmico e permanente.

Ensinantes e aprendentes comungam visões de mundo, encontram idéias parecidas e, principalmente, lidam com a diversidade de percepções do real, da realidade que nos é presente. A mudança essencial a ser perseguida neste nosso complexo tempo é buscarmos, então, criarmos novos modos de olharmos para os fenômenos que a vida nos apresenta. A diversidade que encontramos amplia nossas possibilidades de aprender e, por isso, ensinar é desafio sempre novo, visto estarmos inseridos num novo tempo, repleto de estímulos e de veículos agenciadores de informações e conhecimentos.

Com o advento das novas tecnologias de informação e de conhecimento, tal revisão é de extrema urgência. A Psicopedagogia, enquanto campo do conhecimento que surgiu nesta transição paradigmática, busca em seus pressupostos teóricos e em sua práxis, ser elo entre este dois movimentos: o de ensinar e o de aprender. (7) Penso que os atos humanos de ensinar e aprender

“são processos vitais na busca constante da conquista e do encantamento da autoria do pensamento, presente no universo da relação entre a magia da vida e a própria vida de cada aprendente, sendo espaçotempo de desenvolvimento de nossa poética existencial, essencial, pessoal, única, singular.”(8).

A busca pela ampliação de nosso olhar e de nossas matrizes psicopedagógicas nos auxiliam na revisão de nossas trajetórias de “aprendentes e ensinantes”, nos nossos próprios processos vinculados ao aprender. Evitar rotinas mecânicas e competitivas e superar o excesso de individualidade presente no cotidiano das instituições de ensino pode ser de grande valia nesta reestruturação necessária aos processos de ensinagem (9), propondo-nos a construção de um cotidiano escolar de fato inclusivo, facilitador da construção de uma nova sociedade que seja, realmente, uma sociedade para todos e inclusiva. (10)

IV: Conclusão: um pequeno conjunto de reflexões como propostas de aprendizagem no século XXI.

Os temas aqui desenvolvidos realidade, conhecimento e aprendizagem são inesgotáveis, pois representam imensas possibilidades de reflexão. Um número imenso de idéias pode surgir quando sobre eles nos detemos, com parcimônia e respeito pela diversidade de opiniões e teorias que existem em suas próprias fundamentações.

Enquanto sujeito envolvido em todas estas questões e com a experiência que venho tecendo em minha cotidianidade profissional, instiga-me profundamente as proposições, ou seja, diante do que está posto, o que podemos mudar, ou auxiliar a mudar (11). Um pequeno rol de idéias aqui elenco, com este objetivo da proposição ao nosso pensar e agir:

1-Redimensionar nossa própria vida e criar parcerias para projetos comuns;

2-Estabelecer movimentos de entre - ajuda;

3-Instigar vínculos de cooperação e colaboração permanentes;

4-Desenvolver novas habilidades a administração de conflitos e nas situações de problematizações;

5-Lidar com opiniões e pensamentos divergentes com respeito e contra-argumentação;

6-Substituir a competitividade agressiva pela cooperação, para o enfrentamento das exigências presentes no cotidiano institucional;

7-Gerar novos modos de gestão, tanto do conhecimento como de pessoas;

8-Aprofundar referenciais no campo psicopedagógico;

9-Cuidar das relações interpessoais com respeito à diversidade de opiniões;

10-Estimular, nos espaços e tempos institucionais, movimentos de formação de grupo de estudos e de pesquisas sobre temas que são pertinentes as discussões aqui referendadas.

Propostas de ações que talvez possam de algum modo colaborar. O desejo sempre expresso é o de compartilhar. E no fazer novos contatos, possibilidades de interlocução são criadas. Disponibilizo-me, sempre, para tal movimento, então, após esta leitura, faça contato e se expresse. E-mail: joaobeauclair@yahoo.com.br

Referências:

1- BEAUCLAIR, João. Olhar, ver, tecer: a busca permanente da teoria no campo psicopedagógico. In: PINTO, Silvia Amaral de Mello e SCOZ, Beatriz Judith Lima et al. (orgs.) Psicopedagogia: contribuições para a educação pós-moderna. Editora Vozes, Petrópolis, 2004.

2- BEAUCLAIR, João. Mansidão, afabilidade e doçura nas relações humanas: o resgate necessário a partir das instituições. [2005] Disponível em http://www.psicologia.com.pt/artigos/ver_artigo.php?codigo=A0251&area=d1 Acesso em: 10 nov. 2006.

3- Idem.

4- Idem, ibidem.

5- RODRIGUES, Neidson. 1987, p.17.

6- FROMM, Erich. 1979, p.56.

7- BEAUCLAIR, João. Para Entender Psicopedagogia: perspectivas atuais, desafios futuros. Editora WAK, Rio de Janeiro, 2006.

8- BEAUCLAIR, João. A coragem essencial: formação pessoal em Psicopedagogia. Disponível em www.profjoaobeauclair.net

9- Neologismo significando ensino-aprendizagem.

10- Aprofundo esta temática em: BEAUCLAIR, João. Incluir: um verbo /ação necessário à inclusão: pressupostos psicopedagógicos. Pulso Editorial, São José dos Campos, 2007 (no prelo).

11- BEAUCLAIR, João. Psicopedagogia: trabalhando competências, criando habilidades. Coleção Olhar Psicopedagógico, Editora WAK, Rio de Janeiro, 2004. Segunda edição: 2006.

Bibliografia:

BEAUCLAIR, João. Incluir: um verbo /ação necessário à inclusão: pressupostos psicopedagógicos. Pulso Editorial, São José dos Campos, 2007.

BEAUCLAIR, João. Para Entender Psicopedagogia: perspectivas atuais, desafios futuros. Editora WAK, Rio de Janeiro, 2006.

BEAUCLAIR, João. Psicopedagogia: trabalhando competências, criando habilidades. Coleção Olhar Psicopedagógico, Editora WAK, Rio de Janeiro, 2004. Segunda edição: 2006.

BEAUCLAIR, João. Mansidão, afabilidade e doçura nas relações humanas: o resgate necessário a partir das instituições. [2005] Disponível em http://www.psicologia.com.pt/artigos/ver_artigo.php?codigo=A0251&area=d1 Acesso em: 10 nov. 2006.

BEAUCLAIR, João. A coragem essencial: formação pessoal em Psicopedagogia. Disponível em www.profjoaobeauclair.net Acesso em: 10 nov. 2006.

BEAUCLAIR, João. Olhar, ver, tecer: a busca permanente da teoria no campo psicopedagógico. In: PINTO, Silvia Amaral de Mello e SCOZ, Beatriz Judith Lima et al. (orgs.) Psicopedagogia: contribuições para a educação pós-moderna. Editora Vozes, Petrópolis, 2004.

FROMM, Erich - Ter ou Ser? . Editora Zahar, Rio de Janeiro, 2ª ed., 1979.

RODRIGUES, Neidson. Por uma Nova Escola: o transitório e o permanente em Educação. Editora Cortez, São Paulo, 1986.