Contrato Social

Rousseau distinguiu a vontade que olha o interesse individual, daquela que atende ao interesse comum.

A organização social, através de um empenho universal, se consolidaria na transposição do favor próprio.

Atualmente, isso não ocorre. É como se involuíssemos da comunidade para o "grupo", e, daí, para subgrupos e facções ainda mais restritas.

Essa tendência, consolidada nos rodeios políticos, prestigia a desigualdade e o isolamento, favorece o conflito e a inércia que se sobrepõem à convivência regular.

Por isso, as concepções axiológicas tendem a observar mais a forma do que o siso. E os grupos, representativos, seletos e compactos, valendo-se das pressões, não encontram obstáculos para usufruírem discutíveis vantagens.

Um encadeamento assim proposto, distinto a vontades isoladas, não pode agir em favor do interesse comum.

Rousseau refere que, sendo naturalmente desiguais por força e engenho, os homens tornam-se iguais por convenção e direito, mas adverte que sob maus governos essa igualdade é ilusória e aparente.

Seguramente, pode-se afirmar que a desigualdade coetânea não depende apenas de maus governos, mas também de um grau celuloso que organiza a tessitura impermeável dos interesses grupais, que desde o mais singelo consórcio articulam influências contrárias ao bem comum.

É nessa atmosfera, que se consagram as vulgaridades e os detraídos arquitetos das seletas assembleias.

Rousseau continua atualizado, quando diz que o estado social não é vantajoso aos homens, senão quando todos eles possuem alguma coisa e quando nenhum deles tem algo em demasia.

Mantido o prestígio como patrimônio grupal, a opulência e a carência estão nitidamente dispostas. Uma, no regaço clubista, a outra, no gris imenso do interesse geral.