Baixo calão

Baixo calão



Onze dias de trégua para o trabalhador brasileiro em 2015, graças aos feriados. Setores lamentam.

Ano passado assisti de camarote uma mega manifestação da CUT&Associados na Av. Paulista. Fiquei P da vida porque travaram o trânsito em várias artérias. Estava indo encontrar com meu filho que ficou engarrafado numa via secundária. No trajeto foi impossível discordar do que pleiteavam os manifestantes. Todas as suas reivindicações me pareceram as mais legítimas possíveis.

Palavra que eu nunca entendi esse governo.

Hoje, 10.02.15, Trabalhadores com salários atrasados fecharam uma das pistas da ponte Rio-Niterói. Porra, meu, os caras só querem receber o que lhes é devido, ao passo que um picareta delata para outras câmeras que ele sozinho passou um chequinho de 15 milhões para outro picareta e os milhões voam que nem passarinhos, presos por hora em nenhuma mão.

No citado dia, na Av. Paulista, pedia-se respeito pela jornada de trabalho de 8 horas, decência no que tange ao âmbito da previdência, e outros itens que não se pode dizer apenas justos sem atrela-los a intrinsecamente humanos. E setores vertem lágrimas pelos 11 dias de tomada de fôlego dos arroxados.

Também hoje deram um tapinha nas costas de um sujeito cujo nome não constará nesses autos por acusação de desvio de 600 milhões. Só isso. O novo presidente da TrevasBras teve delitos apontados por jornalista sério em emissora respeitável - legislou em causa própria para prover-se de uma aposentadoria de 60 mil/mês. Não entende picas de petróleo. Soltou uma grana preta pra uma loirona da TV.

Eu preferiria meter uma bala na própria cabeça do que ter no meu carma um rol de safadezas desse naipe apenas por não viver em Luxemburgo e sim numa vala continental que aspira para as próprias vísceras os vestígios de quem poderia ser um ser humano.

O governador do PR parece no intento de desmantelar a educação pública no estado. Um milhão de estudantes sem aula porque ninguém ainda na vala continental entendeu a importância dos professores.

Du-vi-de-o-dó que seja apenas impressão minha que o montante de filhos da puta existentes nesse país daria para encher uma frota de Arcas de Noé. Outra frota para os idiotas úteis servidores do contingente da primeira frota e bom negócio seria despacha-las ambas para além das nossas fronteiras com direito a retorno no dia em o que sol nascer no oeste.

Onze dias de folga extras ao longo do ano - pra um cara que tem que se deitar no chão do hospital, isso quando consegue entrar no hospital, e lamentar esses 11 dias constitui a soma hedionda da coalescência de mesquinharias que tem se tornado marca registrada por aqui.

Não vem de hoje.

A escritora Maria Graham, por volta dos anos 1820, ponderou acerca do quão pouco os brasileiros se importam com a sua terra: "As linhas prolongadas das casas de fazenda, que aqui e acolá se destacam da solidão da natureza, não sugerem nenhuma associação com qualquer idéia de progresso, seja no passado, seja no presente, nem nas artes que civilizam e enobrecem a humanidade. E, ainda que a natureza aqui seja tão maravilhosa como na Índia ou na Itália, a falta de qualquer relacionamento com o homem, seja intelectual ou moral, tira dela metade do encantamento".

Esclareço a avisados e desavisados que não sou de centro, de direita, de esquerda e ou de porra nenhuma de partido algum, seita, agremiação de bairro ou bingo de igreja. Sem religião, mas com religiosidade, creio na ideologia do PPQQ - pão, pão, queijo, queijo. E o chefe desta legenda, ao inaugurá-la, entre outras disse: a César o que é de César.




(Imagem: 1886 J.A.L.'s Crazy-patch Parlor Throw)





 
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 11/02/2015
Reeditado em 17/08/2020
Código do texto: T5133055
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.