UM PADRE QUE TOCA BERRANTE NAS MISSAS

Aos 36 anos, o padre Adão Soares Pinto, que comanda há sete anos a Paróquia Nossa Senhora do Rosário, em Flores de Goiás, integra uma nova geração de sacerdotes católicos. Em comum eles têm a paixão pelo Evangelho e pela música sertaneja. Não apenas a música: incorporam todo o estilo de vida do homem do campo e levam para as igrejas, sem qualquer prejuízo para a mensagem cristã.

Adão é um padre diferente. De hábitos simples e jeito cativante, tem reunido uma multidão de admiradores em Goiás e no Distrito Federal. Suas missas sertanejas são muito concorridas. De chapéu, capa vermelha, cinto de fivela, bota e tocando berrante, o reverendo consegue atrair a atenção especialmente dos jovens, mais identificados com o ritmo sertanejo.

Em alguns momentos, o sacerdote mistura reza e música, toca gaita e recita poesia. "É um modo e um visual diferente de rezar, mas com a mesma liturgia, magnitude e imponência que a espiritualidade nos convida a celebrar", explica o padre.

Não é raro a população avistar o padre no lombo de um cavalo. “Gosto deste tipo de vida. Fui criado numa fazenda”, disse, ao se referir à vida que levou até os oito anos de idade, na fazenda Castelo, no município de Simolândia. Sétimo filho de uma prole de nove irmãos, Adão incorporou muito da vida no campo à sua atividade evangelística.

Antes de despertar para a paixão sacerdotal, Adão chegou a trabalhar em um cartório na cidade de Alvorada do Norte. “Mas meu chamado para trabalhar para Deus era maior”, acredita.

Sobre a missa sertaneja que celebra, Padre Adão não vê diferença espiritual das tradicionais. “Não há diferença do valor espiritual das outras missas. Até mesmo porque é celebrada pelo sacerdote”, explica. “As missas que celebro começam e terminam ao som do berrante. Tem um estilo próprio para lembrar as maravilhas do sertão e as criaturas da natureza. O fiel sertanejo se sente mais concentrado e interagido nas explicações da palavra de Deus”.

A reação das pessoas às missas sertanejas, de acordo com o padre, é a melhor possível. “Percebo a expectativa que os fiéis ficam quando essa missa é anunciada. Toca de tal maneira que muitos chegam a se emocionar com as homilias e músicas que retratam a vida deles e os colocam adentrados na palavra”, disse.

Segundo o padre, a paixão pela vida sertaneja vem de berço. “Desde criança ouvia músicas pelo radinho de pilha do meu pai na fazenda Castelo e comecei a tomar gosto pela moda sertaneja. Meu pai e os meus tios cantavam e tocavam viola e violão nos encontros de folias e festas na fazenda, fiquei curioso em seguir o mesmo”, lembra.

Além das obrigações com sua paróquia, Adão encontra tempo para se apresentar a outros fieis Brasil afora. Já tocou berrante e ministrou missa sertaneja em cidades como Formosa, Alto Paraíso, Niquelândia, Simolândia, Unaí (MG), Brasília (DF) e Viamão (RS), entre outras tantas.

Vida em verso

Em forma de poesia, o sacerdote-artista conta um pouco de sua trajetória de homem do sertão. “Eu nasci em Simolândia e na roça me criei/ Só Jesus Cristo quem sabe os caminhos que passei/ Com minha mãe Filomena e o meu pai Salviano/

Foi a razão do meu plano e de tudo que preparei/ Minha mãe muito devota rezava o Santo Rosário/ O meu pai bom rezador preparou todo cenário/ Mostrando a toda família que pra Deus não tem horário/ Com fé em nossa Senhora cumprindo seu calendário.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 11/03/2015
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