SENTIDOS

São praticamente incontáveis as citações de casos considerados extraordinários envolvendo pessoas e fatos que estão ocorrendo, ocorreram ou ocorrerão num futuro próximo ou distante.

Deixando de lado a tendência que as pessoas têm de atribuir ao sobrenatural tudo aquilo que está fora do entendimento corriqueiro, do dia a dia, podemos pensar que o ser humano possui a mesma sensibilidade que os outros animais demonstram ter, tanto para comunicação à distância como para antever o futuro?

É sabido que na ocorrência de catástrofes naturais como terremotos, tsunamis, erupções vulcânicas, furacões, tempestades ou inundações desde os insetos até os mamíferos de grande porte, esses nossos parentes procuram abrigo a fim de saírem ilesos, ou pelo menos pouco afetados, pelos seus efeitos danosos.

Assim como são sobejamente conhecidas narrativas de animais que “parecem” entender que estão sendo levados para o abatedouro, ou que alguém está em estado terminal, ou de pessoas, como o Papa Paulo VI que anunciou a própria morte poucas horas antes dela acontecer.

Existe um estudo documentado por universidade da Inglaterra onde o cão de determinada advogada sai da casinha e fica no alto da escada esperando-a a partir do momento em que ela decide voltar para casa.

E não se trata de reflexo condicionado porque foram feitos testes em diversas horas do dia, principalmente naquelas em que seria impensável a advogada voltar.

Há também relatos de interferência de estranhos para solucionar problemas que por recursos próprios, as pessoas envolvidas não conseguiriam, ocorridas após mentalização de uma ou mais pessoas.

Três casos podem bem ilustrar o que estou querendo por em discussão:

Caso 1- acontecido no decorrer do ano 1970;

Numa quarta feira, por volta das quinze horas, várias senhoras estavam reunidas no salão de uma das igrejas dos Mórmons no Recife, resolvendo os detalhes para a festa que seria realizada no final de semana, quando uma delas disse para as demais que estava sentido enorme aflição, como se o filho dela, que estava na Europa, onde fora procurar emprego estivesse em apuros, mesmo tendo recebido notícias recentes dando conta de que ele, o filho, estava com emprego garantido numa empresa de telecomunicações da Dinamarca.

Para que ela se acalmasse, as demais senhoras seguindo o instinto natural dos teístas reuniram-se em oração para que nada de mal estivesse acontecendo com o rapaz.

Dias depois essa mãe mostrou às senhoras que estiveram reunidas em oração, a carta onde o filho narrava o fato “extraordinário” de que, na mesma quarta feira por volta das dezenove horas, estando sem dinheiro, sem ter onde ficar e com muito frio, sentou numa das praças de Copenhagen e ficou pensando nela e de como seria bom se estivesse em casa, quando em dado momento, um senhor idoso escorregou no piso gelado da calçada bem em sua frente.

Seguindo o impulso natural das pessoas educadas, o rapaz levantou o idoso, ajudou ele a sentar, apanhou as compras que ele estava transportando.

Passado o susto, o senhor perguntou sobre quem era ele e o que estava fazendo na rua num dia como aquele.

Ao saber da verdadeira situação do rapaz levou-o para sua casa para dar-lhe abrigo e alimentação.

Dentro da lógica religiosa, todas elas cristãs, atribuíram o fato à interferência divina, mesmo sabendo que, o que o senhor idoso fizera, foi mera retribuição pela ajuda recebida.

O que esse caso tem de interessante é a sincronia dos horários, vez que, fora do horário de verão a Dinamarca está a quatro horas do horário oficial do Recife e a comunicação entre a mãe, o filho e as demais pessoas deu-se exatamente no mesmo momento. Quinze horas no Recife, dezenove horas em Copenhagen.

Caso 2 – acontecido comigo em 1981;

Eu trabalhava numa empresa que resolveu diminuir o efetivo. Como sempre o corte começa pelos mais altos salários, depois pelo tempo de serviço, etc.... Uma comadre minha, umbandista, tem a capacidade de visualizar através de copo com água fatos que irão acontecer.

Ela mandou que eu colocasse a mão espalmada sobre o copo e depois do exame, disse:

- Compadre, eu estou lhe vendo almoçando num salão bem grande, com muita gente e você não vai ser dispensado porque a lei não vai deixar. Parece que existe um acordo entre a empresa e os empregados...

Menos de um mês depois eu fui dispensado e o caso do copo foi esquecido.

Em 1996, a empresa em que eu trabalhava resolveu me dispensar, mas não pôde fazê-lo porque no acordo coletivo havia uma cláusula de que nenhum funcionário com mais de dez anos de casa e que estivesse a menos de dois para a aposentadoria, seria dispensado até que se completasse o tempo necessário para a aposentadoria proporcional. Nessa época ainda não haviam mexido no INSS, e a proporcional poderia ocorrer a partir dos 30 anos de contribuição.

O que esse caso tem de interessante é que a cena que minha comadre tinha visto no copo 15 anos antes se materializou no momento em que a notícia de que eu não seria dispensado me foi dada pelo colega do RH, na hora do almoço, dentro do refeitório onde eu estava almoçando com mais de 100 colegas de trabalho.

Caso 3 – também acontecido comigo, ateu convicto e sem a interferência de teístas;

No ano de 2004, sonhei várias vezes, não sei precisar quantas, mas foram muitas em que, uma colega de faculdade e eu estávamos numa feira livre em torno do mercado público, nos Andes, com muita gente com trajes típicos, falando alto tanto em espanhol como em línguas totalmente desconhecidas, oferecendo alimentos prontos além dos muitos produtos agrícolas e nós ficávamos observando o povo e os produtos expostos à venda. Olhávamos tudo, o artesanato multicolorido e principalmente os alimentos, mas não podíamos comprar nada...

Em 2011, sete anos depois, na cidade de Cuzco – Peru, a cena do sonho estava em minha frente, perfeita em todos os detalhes, inclusive com uma das feirantes dormitando ao lado dos sacos com as variadas espécies de milho e batatas.

Apesar do aspecto convidativo dos alimentos preparados por aqueles camponeses, a recomendação dada pelo guia quando saímos do hotel foi de que não comprássemos nada a fim de evitar problemas gastrointestinais.

A única discrepância entre a realidade e o sonho foi que a minha companheira na ocasião era uma participante da excursão e não era a colega da faculdade.

Aqueles homens que são casados ou que têm mãe participante de suas vidas já devem ter ouvido:

- eu não confio naquele seu colega. Afaste-se dele porque ele não presta.

E apesar dos nossos protestos, mais cedo ou mais tarde, esse tal colega demonstra que realmente, elas estavam com toda razão...

Seria essa capacidade que a maioria de nós deixou adormecer, um sentido que, em se treinando, poderia ser utilizado como os outros cinco sentidos?