A mentira na política: uma combinação catastrófica para a sociedade. - Rogério Corrêa*

A MENTIRA NA POLÍTICA: UMA COMBINAÇÃO CATASTRÓFICA PARA A SOCIEDADE

LIE IN POLITICS: A CATASTROPHIC

COMBINATION TO SOCIETY

RESUMO: No presente texto serão discutidas e problematizadas algumas questões que causam repulsa em boa parte da sociedade, como mentira na política, desvios morais, e implicações do uso da mentira para a sociedade. Por fim, destacar-se-á a importância da ética na política como princípio norteador do comportamento dos nossos representantes.

Palavras-chave: mentira - ética – política.

ABSTRACT: this text will be discussed and problematized some issues that cause revulsion in much of society, as lie in the political, moral deviations, and implications of the use of lies to society. Finally, will highlight the importance of ethics in politics as a guiding principle of the behavior of our representatives.

KEYWORDS: lie - ethics – politics.

Introdução

Lamentavelmente, vivemos em uma sociedade que se encontra em uma ampla crise política e de valores morais principalmente no meio político. É fato que atualmente a mídia tem mostrado repetidamente escândalos envolvendo esses servidores públicos. Nesse contexto a população tem protestado por mudanças de seus comportamentos, das legislações e punição dos envolvidos para acabar com essa sensação de impunidade.

Não é de hoje que a população clama das condutas de alguns de seus representantes e do uso corriqueiro da mentira para serem eleitos e durante os seus mandatos. Apesar, da insatisfação que parece importunar parte da população, os eleitores não conseguem modificar sua indignação em atitude positiva no sentido de afastar de uma vez por todas os políticos com desvios de comportamentos e/ou maus gestores de recursos públicos dos cargos eletivos, por meio do voto consciente.

No desenrolar do texto buscar-se-á levantar e discutir algumas questões que causam indignação em boa parte da população e inevitavelmente surgem alguns questionamentos: O que acontece quando se vive uma vida pautada na mentira? Quais são as consequências do uso da mentira na sociedade? Por que mentira e política provocam tantos males? Qual conduta o político deve seguir? O que pode ser feito para mudar o comportamento de nossos representantes? Não encontramos respostas definitivas quanto ao estudado, contudo buscamos contribuir para o desenvolvimento da discussão.

No primeiro capítulo “A mentira”, será abordado alguns pontos colocados por pesquisadores e consequências do uso da mentira para a sociedade. No segundo capítulo “A política e a mentira”, discutiremos o uso da mentira por políticos e as suas impricações. No último capítulo, “A ética na política” será abordada a necessidade de um comportamento plausível dos nossos representantes para que sirvam de exemplo para os membros da sociedade. Por fim, nas considerações finais abordar-se-á algumas possibilidades para combater os desvios comportamentais.

A mentira

A confiança do ingênuo é a arma

mais útil do mentiroso (Stephen King).

De acordo com o dicionário mentira é: o ato de enganar, de iludir, de manipular, de falsidade, de fraudar. Por outro lado, verdade é: aquilo que está em conformidade da ideia com o objeto, do dito com o feito, do discurso com a realidade; é algo diferente do erro, da ilusão e da mentira; qualidade do que é verdadeiro, igual a exatidão, realidade; coisa certa e verdadeira; é igual a autenticidade, boa-fé, sinceridade e diferente da mentira; princípio certo .

Apesar da mentira ser algo que conhecemos muito bem, foi colocado acima o seu significado em contraponto a verdade e deixar bem delimitado os seus significados. Pois, há muitos séculos já se preocupavam com os efeitos causados pela mentira na sociedade. Aristóteles em “Ética a Nicômaco” estabeleceu uma tipologia da mentira, na qual distingue entre as toleráveis e as intoleráveis. Em sua afirmação alude que certas pessoas podem agir de formas diferentes de acordo com a oportunidade que mais o convier. Nesse sentido, escolhe a opção que possa “dar preferência a contribuir para ele e a abster-se de causar sofrimento, elas se deixarão guiar pela consideração das consequências, se estas forem mais importantes, ou seja, pela honra e pela conveniência. Tendo em vista um grande prazer futuro, elas também poderão causar pequenos aborrecimentos imediatos” .

Dado o exposto, a pessoa que utiliza dos artifícios da mentira acaba se moldando a uma dada situação de acordo com o seu interesse. Não obstante, é necessário que os integrantes da sociedade confiem uns nos outros. Pois, caso contrário acaba perturbando a ordem social, afrontando a paz pública e a concórdia entre os indivíduos. Não é à toa que consta nas escrituras de várias religiões observações para nos vigiarmos contra a mentira permanentemente.

Segundo Sá, a mentira tem seus aspectos qualitativos vinculados, porque nem tudo que se propaga na mídia ou uma informação que nos é dada pode ser considerada verdadeira, contudo, isso não quer dizer que sejamos mentirosos, apenas estaremos difundindo aquilo que nos fizeram crer, que nos foi ensinado. Lembra ainda, que “Se nos forçam a crer que água é um explosivo, sem explicar que os explosivos são apenas seus componentes, sob determinadas condições, e, se divulgamos o que nos foi imposto como dogma, estaremos veiculando o que nos fizeram crer; estaremos difundindo algo falso, em realidade, sem, contudo, sermos mentirosos essencialmente” .

Menciona também, que algumas mentiras podem ser consideradas válidas, mesmo que cometidas conscientemente. Como num caso hipotético de um médico que é obrigado a mentir para o seu paciente para evitar um mal maior ou ministra comprimidos sem qualquer propriedade farmacológica a um paciente que acredita estar tomando o remédio propriamente dito, porém é um placebo . Nesse sentido, a mentira não tem o objetivo de prejudicar a pessoa, pelo contrário de ajudá-la ou preservá-la.

Nessa perspectiva, Sá menciona que se deve buscar a sabedoria para assimilar certas falsidades. Uma vez que, “a inteligência emocional é uma importante arma em prol do sucesso, e, também, que algumas mentiras podem ser válidas, ainda que conscientemente praticadas, quando os efeitos das mesmas se materializam em uma finalidade virtuosa de qualificada expressão” .

De acordo com o filósofo americano Smith, ao ser questionado sobre o porquê mentimos, responde: “A mentira está por toda parte. Ela é normal. Todos mentimos e quem diz o contrário mente. Temos dificuldade em nos reconhecer como mentirosos porque há um julgamento moral contrário. Mentimos para obter vantagens e para nos proteger de algo, o que significa que estamos, de certa forma, passando a perna em alguém. Quem mente bem costuma se dar melhor do que quem não consegue fazê-lo” . Entretanto, tem-se a necessidade de desconfiar dos que usam desse artifício para obter alguma conveniência e naturalmente essa pessoa passa a não ser um indivíduo confiável e quebra a cadeia de confiança entre os integrantes de uma sociedade.

Por outra vertente, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche foi um dos que perceberam os contornos obscuros que envolvem a mentira e a verdade. Nesse processo, pode atribuir algo como verdade e considerá-la como tal, em consequência de uma construção social, linguística e cultural. Consequentemente, concluiu que as falsas moralidades funcionam mais como uma prática de uma ética de mentiras do que de virtudes autênticas. Em razão disso, acreditava que a mentira ganha forma de verdade quando o enganado não consegue refutá-la por falta de provas ou conhecimento sobre o assunto. Em seguida, essa mentira é passada para as outras gerações e ela se torna uma verdade indubitável. Nesse sentido, muitos são enganados porque pensam que a mentira é uma verdade .

Para o alemão, “quando justamente a mesma imagem foi gerada milhões de vezes e foi herdada por muitas gerações de homens [...] então ela termina por adquirir, ao fim e ao cabo, o mesmo significado para o homem, assim como um sonho que se repete eternamente seria, sem dúvida, sentido e julgado como efetividade” .

A principal forma que o mentiroso se utiliza para distorcer a realidade é a linguagem. Todavia, Nietzsche alegava que certas mentiras possuíam um papel importante na sociedade, pois elas contribuíam para a melhoria do convívio social, alegando inclusive que o homem gosta de ser enganado. Neste ponto, garantiu que o homem não foge da mentira e sim das suas consequências. Do mesmo modo, poderia fugir da verdade caso ela provoque consequências trágicas aquela pessoa .

Nessa perspectiva, pode-se afirmar que a mentira e a verdade podem ser estabelecidas ou refutadas por meio do uso da argumentação e da manipulação das informações que as constituíram. No entanto, a condenação moral da mentira é um princípio ético tradicional da nossa cultura. Aristóteles, garante que a verdade é nobre e merecedora de aplauso e a mentira é vil e repreensível .

Por fim, quando o ser humano vive uma vida pautada na mentira, ele não vive em harmonia com seus semelhantes, por ser um potencial propagador da discórdia e de prejuízos aos demais. Enquanto a verdade os leva à liberdade e ao crescente respeito pela pessoa, ao desenvolvimento de bons valores morais, de uma sociedade mais justa, da melhora da qualidade de vida e bem estar de toda a coletividade, a mentira os arrasta para a servidão, a desconfiança e ao descrédito pessoal.

*Trecho do livro "Otimistas incorrigíveis", para continuar lendo acesse um dos links abaixo:

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