Agro-pecuarista

AGRO PECUARISTA

Faz pouco tempo. Meu filho me perguntou: - pai como se faz para ter sucesso profissional no Brasil? Confesso que me senti um pouco embaraçado para responder, mas como pai que tem até hoje primado pela dignidade, procurei mostrar-lhe que ter sucesso, não significa apenas ganhar dinheiro. Repassei para ele aquilo o que digo para meus alunos: importa que sejamos dignos e que não vale a pena levar vantagem em tudo. Claro que fui de encontro ao que ele aprende junto aos jovens de seu tempo. Felizmente, ele preferiu seguir os caminhos por mim trilhados até hoje e se mantém irredutível e contrário à Lei de Gerson.

Como a pergunta de meu filho e a minha resposta não vai influir em nada no que se refere aos caminhos perseguidos pelo Brasil nos últimos anos, resta a esse pai, torcer para que outros jovens, tão ou mais dignos de que meu filho, procurem entender que a avalanche de espertezas emanadas do esgoto civil da nação, em nada contribui para a dignidade e cidadania brasileira.

Passados alguns anos após a pergunta de meu filho, eis que uma autoridade da república, sem nada saber do diálogo entre nós dois (eu e meu filho), resolve explicar pra ele, não pra mim, qual a melhor maneira de ter um sucesso profissional: primeiro ser senador da república - ressalvados os casos de alguns poucos que não agem como essa autoridade poligâmica; segundo ser agro pecuarista.

Ainda entendendo pouco de tudo que nos acontece, meu filho novamente me perguntou: pai, ser agro-pecuarista, não é uma forma de ser bem sucedido?

Sem saber o motivo da pergunta, eu lhe respondi: - depende, meu filho. Pelo o que eu sei, aqui no nordeste, essa atividade não é muito rentável, mas por que a pergunta?

- Eu soube através dos jornais que um senador da república obteve 60% de rendimento líquido na sua atividade de agro-pecuarista.

- Veja bem, meu filho: quando um homem comum, assim como você, tem um rendimento dessa monta, numa atividade que se sabe, não é lá essas coisas, fique certo que a Receita Federal vai investigar suas atividades nos últimos dez anos, para saber como você conseguiu esse milagre. E aí, chegou a alguma conclusão? – perguntei.

- Cheguei. Não quero ser senador nem agro-pecuarista.

Os motivos são dele. O orgulho é meu. Graças a Deus ele aprendeu a primeira lição de alguns anos atrás: sejamos dignos.

Rui Azevedo – 21.06.2007

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Rui Azevedo
Enviado por Rui Azevedo em 21/06/2007
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