"A Mark Twain de Saias"

Felizmente eu não me encontrava no metrô, nem em qualquer outro tipo de coletivo, e nem mesmo em uma fila de banco, quando comecei a ler um certo livro no ano passado. Mais precisamente em 2006.
Estava em meu sebo na USP, confortavelmente instalado em minha cadeira de pano, com amigos e conhecidos em volta, e pude rir à vontade. Rir, comentar sobre o que lia, voltar a ler, e voltar a rir ou a gargalhar com gosto.
Antes, ao colocar o tal livro em minha exposição, eu havia implicado solenemente com ele: “Diabo de livro com essa mulher de cabeça pra baixo na capa…E com esse nome a autora só pode ser uma daquelas americanas chatas que se acham muito engraçadas…”. Eu colocava o livro na mesa, com a cabeça da mulher virada pra baixo e os clientes o examinavam e colocavam de cabeça pra cima, deixando o livro de cabeça pra baixo. Um saco.
Vira pra cima, vira pra baixo, vira pra cima, vira pra baixo, acabei pegando o tal volume com uma certa má vontade, pois já estava com uma “fila” de coisas boas para ler, e resolvi dar pelo menos “uma ligeira conhecida” no conteúdo: “Vamos ver o que essa americana xarope tem a nos dizer nesse tal “Troquei O Meu Destino Por Qualquer Acaso”…
Que americana que nada! A autora, apesar do sobrenome, é tão brasileira quanto eu. Brasileira, inteligente, gozadora, sarrista, nascida em Sorocaba, “apaulistanizada”, ex-jornalista, dona de um site literário, Dóris Fleury tem a rara capacidade de arrancar sorrisos, risos, risadas e gargalhadas do leitor em um grande número de páginas. (Do sorriso à gargalhada ela nos leva de zero a cem em segundos). Daquelas gargalhadas que lavam a alma, que nos fazem esquecer as chatices da vida, que nos fazem lembrar que há muita vida inteligente pulsando em nosso país.
A certa altura do livro, procurando para meu próprio uso um meio de elogiá-la a contento, chamei-a de Mark Twain de Saias e gostei da comparação. Gostei de compará-la, em termos de humor, de ironia, de gozação oportuna, a um de meus ídolos na literatura americana, criador dos maravilhosos personagens Tom Sawer, Huckleberry Finn e tantos outros.
Tive sempre um certo dó de quem ainda não teve a chance de ler Mark Twain. Agora tenho pena de quem não leu ainda o “Troquei O Meu Destino Por Qualquer Acaso.”
Em tempo: Não sou revendedor dos livros de Dóris Fleury. Sou dela apenas um sincero fã. De carteirinha. Daqueles fãs que estão sempre dando uma entradinha do site dela, que é o www.escrevinhadora.com.br . Recomendo enfaticamente.
Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 21/06/2007
Reeditado em 29/07/2007
Código do texto: T536196
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.