Carta do menino sírio encontrado morto destinada à humanidade

Cara humanidade, em 2 de setembro de 2015, aos 3 anos de idade, eu dei meu último suspiro e finalmente encontrei a calmaria em meio a uma terrível tempestade. Eu, minha família e milhares de pessoas, fomos obrigados a deixar para trás nossos lares, fugindo das guerras e da hostilidade, tentando alcançar algo totalmente incerto e chegar a um local sem conflitos, buscando refúgio, na esperança de conseguir ter melhores perspectivas de vida.

É lamentável o fato de tantas crianças inocentes perderem infância ou até mesmo a vida por conta de guerra e ter que ver destruição e fugir delas, enquanto tudo que mais queríamos era brincar tranquilamente, crescer e viver o futuro e eu fui impedido disso. Apenas meu pai sobreviveu e estou muito triste por não poder ficar mais com ele e continuar essa batalha. Infelizmente, eu era apenas uma criança indefesa e vulnerável e infelizmente não resisti.

A foto de meu corpo repercutiu pelo mundo chocando a todos e apesar alguns acharem sua divulgação desnecessária, talvez este tenha sido o propósito de minha vida breve e esta seja a única forma de chamar a atenção para crise migratória e fazer com que a sensibilidade e a solidariedade falem mais alto que que egoísmo e poder, estimulando assim que as autoridades se importem com as vítimas das guerras e evite que o Mar Mediterrâneo continue se transformando num lugar de tristeza, desespero e tragédia.

Em questão de valores morais e sociais, o que a humanidade ganha com isso? Por isso, imploro a você, uma pessoa qualquer, humilde, simples, anônima e solidária: é você que vai fazer a diferença no mundo, não deixe isso passar em branco, ofereça o que está ao seu alcance para socorrer e auxiliar quem está em situações como a que eu passei e não consegui resistir pela falta ajuda. É a isso que realmente vai mudar a vida de alguém e dar uma chance para tantas outras crianças, adultos e idosos. A chance que eu não tive.