A Omissão

Neste país, às vezes a gente desvanece da luta e, na maioria dos casos, por não acreditar que nada mais é possível fazer para se mudar o que está posto. E é exatamente em função do que está posto que o esmaecimento acontece e nos leva a assumir posições que nem sempre são as melhores ou as convenientes para determinadas ocasiões. Às vezes também, o grito de alguém mais combativo nos eleva, nos faz mudar de tática e admitir novas estratégias. Fica-nos a sensação de que fomos ou somos incompetentes. Outras vezes, somos envolvidos por uma não menos dolorosa sensação de que a nossa omissão causou um grande mal para nós e para os outros, mas dado que vivemos de esperanças, o mal-estar logo se dissipa e novamente ficamos à mercê de inescrupulosos dirigentes que sempre encontram fórmulas nas famosas “brechas da lei” para postergarem as decisões que lhes forem contrárias ou punitivas.

Em nossos dois últimos artigos, enfocamos os problemas que afetam a AGESPISA, seus funcionários e, por extensão, as comunidades por ela abastecidas. Alguns deles são crônicos e endógenos de difícil solução. Outros, de origem exógena, acontecem ao sabor de cada novo comando que se instala.

Os primeiros fazem parte da cultura da empresa e que, há anos enraizados, comprometem o bom funcionamento da empresa, queiramos ou não admitir. Essa cultura é alimentada diariamente nos “corredores” da empresa por uma pequena parte do corpo funcional que não declara, mas que no íntimo defende a tese “do quanto pior melhor”. Essa minoria encontra no fomento da intriga através do cochicho e da edição de panfletos anônimos, uma maneira de implantar a discórdia às expensas dos usuários.

No elenco das nocividades culturais incrustadas, o que relatamos acima é apenas um detalhe dentre tantos outros.

Por outro lado, a cada novo governo, a cada nova diretoria, novas estratégias são articuladas e implementadas visando soerguer a empresa via financiamentos e/ou tarifa. Essas tentativas nem sempre têm dado certo, haja vista faltar o “espírito de corpo” tão importante na consecução dos objetivos planejados.

A aliança tácita dos fatores internos e externos colocou a AGESPISA na mesma posição em que se encontra o marisco: entre o mar e o rochedo. Do lado interno, o funcional, o descaso e a omissão de muitos que muito poderiam fazer, deixam as águas rolarem rumo ao confronto com o rochedo (o governo). Do lado externo, o político-institucional, que nem sempre se coaduna com a missão da empresa, emanam as diretrizes que por vezes são as piores.

Assim, dia após dia, ficamos a contemplar a derrocada de um patrimônio estadual construído ao longo de décadas de trabalho e a julgar pelas notícias veiculadas pela imprensa, o corpo funcional da AGESPISA, precisa se conscientizar de que somente ele poderá reconstruir o que a maldade, o desamor, a incompetência, a omissão e o descaso com o bem público, tudo junto, ajudaram a destruir. Dadas nossas limitações, não conseguimos enxergar outra via.

Rui Araújo de Azevedo

Economista e Professor

Rui Azevedo
Enviado por Rui Azevedo em 19/09/2015
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