Reformando o Mundo II

A briga - de araque, diga-se de passagem - entre a diplomacia brasileira e americana por causa da identificação dos viajantes de um país a outro, completou dois meses, no ano passado, sem que nenhum dos lados desse o braço a torcer. Do meu ponto de vista, parabéns ao Brasil. Estava na hora de mostrar aos Yankees que somos um país independente, livres para fazermos nossas leis e aceitar aqui quem nós queremos.

A Rede Globo, em sua novela no horário nobre, dramatiza uma situação que é mais mexicana que brasileira ou então, centrada numa única cidade mineira. O tema não merece tanto destaque. Nada a ver com a atuação dos atores dos cenários etc. Apenas o tema refere-se ao problema de poucos, muito poucos, e não merecia o destaque que está recebendo.

No entanto, devemos perguntar uma coisa: Se os americanos tratam tão mal os visitantes de outros países, por que tanta gente vai aos Estados Unidos? Por que não os deixam sozinhos, com sua arrogância a brincar com seus próprios umbigos?

A resposta é óbvia: Porque lá existe dinheiro e trabalho. Porque apesar dos pesares é um país organizado.

Não vamos aqui discutir se a riqueza dos americanos é falsa uma vez que eles têm uma dívida fabulosa. E que, se os credores (Japão e Alemanha na frente) cobrassem de uma só vez o dinheiro que os Estados Unidos lhes deve, deixariam Tio Sam falido, mais pobre que a Índia. Não, meus amigos, não é essa a questão.

Os que saem do Brasil atrás de salários, querem atingir o padrão americano. Da mesma forma como os empresários daqui gostariam de atingir o padrão dos de lá. O que não pode ser esquecido é que as leis que regem o relacionamento entre os trabalhadores que empregam e os que são empregados são mais rígidas lá, porque são muito mais simples. O patrão não é considerado, legalmente falando, como rico, explorador do suor alheio, desumano, desonesto e esclarecido. Por outro lado - ainda estamos falando de lá - o empregado não é considerado como ingênuo, pobre, honesto, explorado e analfabeto.

O trabalhador empregado provavelmente só atingiu este nível, nos Estados Unidos e no restante do chamado primeiro mundo, porque é tratado como pessoa competente e responsável, também perante a lei. Se você estiver pensando em migrar, lembre-se que ao firmar um acordo de trabalho, em qualquer destes países, você tem de dar conta do recado. Se você se apresentar como soldador, por exemplo, certifique-se de que você é o melhor nesta profissão. Lá, a mentira é crime. Aqui, é esperteza. Lá, ela gera problemas para você. Aqui, direitos trabalhistas.

Enquanto nossas leis continuarem a “proteger” o trabalhador assalariado, tratando-o como inimputável, ele não estará melhorando de nível. Por outro lado a promoção dele fica engessada em dois paquidermes legais: a proibição de reduzir salários e o alto custo da demissão, quando as coisas deixam de andar bem,

Porém quando o funcionário consegue subir de nível, das duas uma: ou cria sua própria empresa com o dinheiro da indenização ou vai embora do Brasil, atrás da raiz do direito trabalhista. Isto é: do direito de trabalhar e de receber, sem os penduricalhos legais que amarram as relações Capital e Trabalho e, por extensão, toda a economia brasileira.

Luiz Lauschner

Manaus -2004

Luiz Lauschner
Enviado por Luiz Lauschner em 25/06/2007
Reeditado em 25/06/2007
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