EDUCAÇÃO FÍSICA, MÍDIA E OBESIDADE

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

Preliminarmente entendemos por Educação Física como sendo o conjunto de atividades e ou exercícios físicos, planejados e estruturados, onde se estuda e se explora a capacidade física e bem assim a sua aplicação no movimento humano. Assim sendo, o seu principal objetivo é melhorar o condicionamento físico e a saúde do corpo e da mente de seus praticantes, via a execução de atividades e ou exercícios físicos diários com tal finalidade. Por outro lado, enfatizamos de que a etiologia referente a obesidade em geral é complexa e multifatorial, tendo em vista diversos fatores, dentre os quais a interação de genes, estilos de vida, fatores emocionais e a própria interação de genes.

Cai como uma luva a idéia das pesquisas relacionadas ao hábito de praticar atividade física na fase infanto-juvenil das pessoas, tendo em vista a possibilidade da mesma prevalecer e ou transferir-se até a vida adulta (GUEDES et al., 2001).

A aptidão física na infância e adolescência, segundo o posicionamento oficial do Colégio Americano de Medicina Esportiva é por demais incentivador para a adoção da prática de atividades físicas desde o inicio da vida humana visando uma substancial melhoria funcional e da saúde na vida adulta (ACSM, 2007). É um bom exemplo a ser seguido pelos pais e educadores, enquanto amantes das atividades físicas.

Existem três componentes primários: o sistema aferente, envolvido pela leptina, bem como outros sinais de saciedade e ou de apetite há curto prazo; o sistema unitário de processo do sistema nervoso central; e bem por fim, o sistema eferente, um verdadeiro complexo de apetite, efetores autonômicos, termogênicos e de saciedade, que leva e ou produz o chamado estoque energético.

Não é por acaso que “obesidade é uma condição patológica na qual o peso corporal da pessoa do sexo masculino está de 20/25% acima de sua exigência física e esquelética” e até porque se deve levar em consideração o sobrepeso, de modo que “é qualquer desvio de 10% ou mais sobre o peso ideal indicado de uma pessoa” (BARBANTI, 2003, p. 431 e 551).

Por outro lado a obesidade é a condição e ou estado de supernutrição, uma vez que “ se a ingestão inadequada se estender por longo prazo (semanas ou meses)

devem ocorrer alterações nos estoques corpóreos de energia e, consequentemente, no peso e composição corporal”(TIRAPEGUI, 2002, p. 90).

O Índice de Massa Corporal – IMC, enfoca e ou determina a existência de gordura corporal, aceito por inúmeros teóricos, porém, existem pesquisadores que não usam tal índice para a realizar tal predição. Assim sendo, tais pesquisadores utilizam o teste de dobras cutâneas, tendo em vista ser mais barato para classificar o sobrepeso e a obesidade (GLANER, 2005, p. 243-246).

É importante que os pais e educadores conheçam “as diretrizes de obesidade, inicialmente elaboradas por um grupo de especialistas em obesidade da Abeso e apro-vadas pela AMB, foram revisadas e atualizadas com o objetivo de fornecer dados recentes sobre o diagnóstico e tratamento dessa doença amplamente prevalente na população mundial” (ABESO, 2009). Tais orientações serão o caminho ético para ser seguido para resolver problemas relacionados com a obesidade, que deve ser tratada como problemas de saúde pública.

Existem inúmeras definições de obesidade, dentre as quais podemos citar que é “uma enfermidade crônica, que se caracteriza pelo acúmulo excessivo de gordura a um nível tal que a saúde esteja comprometida” (CUPPARI, 2002, p. 132). Desse modo, a referida teórica menciona que a obesidade pode ser assim classificada: a) baixo peso, quando o índice de massa corporal (IMC) for menor que 18,5 Kg/m², assim sendo, risco de co-morbidade é baixo; b) considerada normal quando o IMC estiver entre 18,5 e 24,9 Kg/m², assim o risco de co-morbidade é médio; c) o pré-obeso e/ou sobrepeso é assim chamado quando o IMC estiver entre 25 – 29,9/Kg/m², assim o risco de co-morbidade é considerado aumentado; d) o obeso I é considerado moderado porque o IMC está entre 30 e 34,9 Kg/m²; e) o obeso II é severo, haja vista que o IMC oscila de 35 a 39,9/kg/m²; f) o obeso III é considerado muito severo, tendo em vista está na faixa maior e ou igual a 40Kg/m². Ante o exposto se deduz que sem a perda de peso não haverá como se livrar da obesidade e principalmente para quem vive com o sedentarismo.

Não existem milagres contra a obesidade, tudo é uma questão de sobrevivência para mudar de vida, precisa de força de vontade acima de tudo. Tanto é assim que nem a dieta hipocalórica e bem assim o aumento gradativo e ou acelerado de atividades físicas, se tem chegado aos objetivos suficientes de seus praticantes no sentido de obter resultados satisfatórios, em pensando assim, podemos ainda que por analogia enfatizar o

uso de remédios para se ter melhores resultados, tudo porque existe a incapacidade pessoal de cada indivíduo em querer se manter na dieta e ou até mesmo fazendo exercícios e ou atividades físicas (HALPERN, 2004, p. 163-168). Sobra preguiça demais e falta compromisso consigo mesmo, aí a coisa fica difícil tanto para os infanto-juvenis, assim como para qualquer outra faixa etária. E tem casos que mesmo fazendo dieta e praticando atividades físicas o individuo continua sem perder peso. Existe a questão emocional do querer do individuo em praticar tais atividades físicas.

Diante das descobertas tecnológicas os infanto-juvenis se deixam passar o tempo envolvidos com tais mídias e redes sociais, de modo que “as crianças tornaram-se menos ativas, incentivadas pelos avanços tecnológicos. Uma relação positiva entre inatividade, como o tempo gasto assistindo à televisão e o aumento da adiposidade em escolares vem sendo observada”(GIUGLIANO; CARNEIRO, 2004, p. 18). O avanço tecnológico, via suas mídias as mais diversas possíveis tem levado a criançada e a juventude ao delírio em termos de envolvimento e passividade em tudo, inclusive esperando que tudo lhe chegue pronto as suas mãos, acarretando-lhes assim prejuízos diversificados dentre os quais o aumento de peso e sobrepeso, diante de sua quase inatividade física e mental, onde uma simples “máquina”, pesquisa e cola tudo sem qualquer tipo de esforço intelectual, físico e espiritual. A tecnologia fabrica a mídia que é muito importante para o desenvolvimento da humanidade, porém, nunca deve substituir as idéias de seu criador.

As pesquisas e os estudos são os mais diversificados possíveis, de modo que “muitos pais não reconhecem o sobrepeso em suas crianças, e se reconhecem, acreditam que esta situação é pré-determinada e imutável” (SALMON; CAMPBELL; CRAWFORD., 2006, p. 64).

Os teóricos mudam seus conceitos e ou definições com a troca de palavras e não de sentido no que se refere à definição e ou conceito de obesidade, haja vista a forma objetiva que se apresenta, seja qual for o autor e sua definição, nada disso importa, o que importa mesmo são os distúrbios e causas orgânicas que levam ao excesso de tecido adiposo do individuo (DAMIANI; CARVALHO; OLIVEIRA, 2002, p. 567-82).

É importante lembrar que “pessoas obesas não só vivem menos como também tem uma má qualidade de vida em comparação com indivíduos magros desde a infância”. (BERNARDES; PIMENTA; CAPUTO, 2003). O desenvolvimento e ou agravamento das disfunções metabólicas, a exemplo de hiperlipidemia,

hipercolesterolemia, diabetes, hipertensão arterial, cardiopatias, dentre outras estão diretamente associadas à presença da obesidade.

As pessoas diante do sedentarismo poderão desenvolver doenças diversas, dentre as quais: obesidade, doença coronariana, hipertensão diabetes do tipo 2, osteoporose, câncer de cólon, depressão (JOVENESI et al., 2004). Isso é fato e contra fato não se tem argumento.

Não é difícil se detectar um adolescente obeso quando infantil, levando-se em consideração o fato de que uma criança obesa desde sua infância tem de 68% a 77% a probabilidade de assim permanecer na adolescência (RONQUE et al., 2005).

É certo de que crianças que assistem mais televisão estão mais expostas ao sedentarismo que as que não assistem e estão mais ativas (BARUKI et al., 2006).

E a OMS – Organização Mundial de Saúde alerta o grande perigo diante do aumento da massa corporal, especialmente em adolescentes, onde se tem observado 20% (vinte por cento) da referida população em tal condição apresentam riscos para desenvolver doenças cardiovasculares (REGO; CHIARA; 2006).

Os hábitos das crianças estão diretamente relacionados às preferências alimentares e bem assim as atividades e ou práticas físicas dos seus genitores, valendo salientar de que em certa parcela da população tais condutas prevalecem até a vida adulta, o que vem reforçar a tese e ou hipótese dos fatores ambientais considerados saudáveis em suas vidas (OLIVEIRA et al., 2003). Filho de peixe, peixinho é, conforme o ditado popular sem fundamentação teórica aceitável.

Não temos menor dúvida de que criança fisicamente ativa tem maiores chances de chegar à vida adulta ativo. Assim é importante desenvolver atividades físicas logo a partir da infância e bem assim na adolescência, para reduzir o sedentarismo na vida adulta, contribuindo assim significativamente para a melhoria da qualidade vida (LAZZOLI et al., 2007). A prática de atividade física no período infanto-juvenil é como uma motivação para lubrificar uma engrenagem enferrujada, por analogia quando na fase da vida adulta.

Existem pesquisas que nos informa que a educação física escolar pode evitar a obesidade, a ansiedade, a depressão, o bem estar, a saúde, a autoestima e melhorar a socialização ( ALVES et al., 2005).

As crianças devem ser conscientizadas a fazer educação física no seu dia-a-dia, visando melhorar sua qualidade de vida através de melhores hábitos e alimentos saudáveis (COSTA; RIBEIRO; RIBEIRO; 2001, p. 225-229).

A prevenção da obesidade infantil, depende da dieta e da atividade física escolar, pois, é aí que deve aparecer o trabalho planejado e orientado com tal finalidade do professor de educação física, tendo em vista que é na escola onde tais crianças tem contato direto com hábitos alimentares saudáveis em suas vidas (CAMPOS, 2011).

Entendemos de que o ambiente adequado para a implantação de hábitos preventivos da obesidade infantil é a escola, pois, a criança passa grande parte de sua vida em suas dependências à disposição da equipe multidisciplinar, que pode influenciar e conscientizar o alunado, orientando sobre alimentação saudável e a prática regular de exercício físico diário. Assim sendo, as aulas de Educação Física devem ter objetivos claros para oferecer experiências significativas aos discentes (LEE, 2002).

Dentre as mídias sociais encontra-se a televisão, que vem trazendo diversas conseqüências negativas ao desenvolvimento da mente sã em corpo são, a exemplo de provocar:

[...] inibição de diálogo familiar, deterioração sonora e visual, inclinação a distúrbios alimentares, favorecimento de déficit de atenção, indução ao consumismo desenfreado, oferecimento de experiências prematuras, banalização da sexualidade e da violência, entre outros danos (SILVEIRA; VERONESE, 2010, p. 116).

Entendemos por obesidade a condição onde a quantidade de gordura do individuo ultrapassa os limites desejáveis. E por sobrepeso, quando o peso corporal total do individuo excede os limites determinados (GUEDES; GUEDES, 1998). Eis aí a grande diferença existente entre tais termos.

Estudos revelam que reduzir atividade física pode ser causa de aumentar o peso mais do que com a ingestão alimentar (MCARDLE; COL, 1998).

Todos teóricos aqui mencionados, concordam que a obesidade independentemente de ser doença e ou estado nutricional, ela é algo multifatorial: sedentarismo, baixo valor nutricional e ingestão de calorias altas no que se refere a alimentação dos infanto-juvenis.

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REFERÊNCIAS

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FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 29/01/2016
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