“ME BATE QUE EU GOSTO!” ou O INEXPLICÁVEL CASO DE AMOR ENTRE ARTISTAS E O SOCIALISMO

É realmente curioso que a maioria da classe artística (incluídos aí músicos e escritores) se preste a defender de modo tão obstinado o Socialismo, em todas suas vertentes e matizes. Digo isso porque, comprovadamente, não há regime político mais repressivo e controlador em relação às Artes (e à liberdade de expressão como um todo) do que o socialista, quando já plenamente implantado. Eis alguns exemplos:

Em Cuba, um dos motivos de a cena musical ser, ainda hoje, praticamente monopolizada por conjuntos de rumba, cha cha cha e afins é a aversão que o Partido Comunista sempre teve a ritmos estrangeiros, como o rock and roll, por exemplo (considerado durante muitos anos como “lixo imperialista yankee”). Em função da repressão do governo, não houve, portanto, chance de se desenvolverem novos estilos musicais por ali.

Na Alemanha Oriental, jovens literalmente eram obrigados a contrabandear discos de bandas como Rolling Stones ou Pink Floyd, já que esse tipo de música – considerado subversivo por vir de países capitalistas – era oficialmente proibido.

Na União Soviética, artistas plásticos cujas obras não se enquadrassem no ideal estético “revolucionário e socialista” de Stálin eram boicotados, perseguidos e, em alguns casos, presos. Não foram poucos os pintores que fugiram da Rússia naquela época, buscando refúgio em países onde pudessem desenvolver sua arte livremente.

Na China de Mao Tsé-Tung, durante a famigerada “Revolução Cultural”, pessoas podiam ser presas, torturadas e até mortas pelo simples fato de serem flagradas lendo um livro, caso o mesmo não constasse da lista oficial de títulos permitidos. Em geral, autores ocidentais eram terminantemente proibidos. Uma dica para quem quiser entender melhor como funcionava esse absurdo sistema de censura é o livro (e o filme) “Balzac e A Costureirinha Chinesa”, de Dai Sijie.

Por outro lado, países tidos como capitalistas sempre foram um abrigo seguro para artistas de todos os tipos. Os E.U.A, por exemplo, se tornaram o destino de infindáveis pintores, escritores, poetas, escultores, compositores e músicos que, fugindo da repressão socialista, viram na terra do Tio Sam uma espécie de paraíso da liberdade criativa. Além disso, perceberam que num país capitalista haveria muito mais mercado – e aceitação – para sua arte. Aliás, pujança econômica é, muitas vezes, sinônimo de pujança artística. O fato de a Renascença – o maior e mais impressionante movimento artístico da história da humanidade – ter ocorrido em um contexto de explosão do comércio e abundância de riqueza não é uma mera casualidade. A relação entre riquíssimos mecenas e artistas talentosos foi fundamental, nesse sentido. Michelangelo e os Médicis de Florença que o digam.