Pesadelo no Recife

Pensei muito antes de escrever essa crónica .

Pelo temor de sofrer represálias, mas cheguei a conclusão que não podemos ser covardes e não avisar as pessoas que tenham cuidado com situações que podem acontecer com qualquer um .

Nossa tendência é sempre acreditar que connosco nada disso pode acontecer, mas pode sim .

Aconteceu comigo!

Viajei de férias ao Brasil com meu filho e como toda a pessoa que esta longe de sua terra, suas raízes foi com imensa alegria que pisei solo brasileiro .

O simples facto de respirar o ar nos deixa emocionados e ainda mais...

O desejo intenso de abraçar a família, pai, mãe, irmãos, sobrinhos e todos os amigos que o coração cativou durante os anos passados no Brasil .

Mesmo aquele receio de pessoa que não esta mais acostumada a viver sob alerta do perigo foi afastado naquelas horas em que o avião que nos levaria a nossa querida pátria sobrevoava o atlântico .

Sob a tensão de chegar ao Brasil e saber que havia uma pessoa de minha família em coma,os pais doentes realizei a viagem que estava programada já a um certo tempo.

Enfim, sob uma tensaõ muito forte e carregada de esperanças que tudo tivesse um final feliz .

Bem, Deus chamou minha prima a família estava de rastos, nada se pode fazer em uma situação dessas a não ser rezar e pedir a ele que a encaminhasse para um lugar melhor ...

Os dias passaram-se rápidos, a vida voltou ao normal com a família mais tranquila e então chegou o dia de retornar a Portugal .

Pegamos o avião em Porto Alegre rumo ao Recife para fazer a conexão que nos traria de volta a Lisboa .

Feitos os procedimentos de praxe fomos fazer o nosso chekin junto a empresa aérea que utilizaria- mos para voltar, a mesma que nos havia levado .

Tudo pronto, passamos pela P.F. do Recife e ai começou o meu pesadelo!

Mostrei minha documentação e ela estava toda correcta, mas quando mostrei a do meu filho qual o meu espanto quando a agente da P.F disse-me que meu filho não poderia sair do Brasil pois eles não reconheciam a autorização de viagem dando-me plenos poderes para realizar a mesma .

Firmada em uma conservatória (cartório) pelo pai do rapaz.

Meu filho tem 17 anos e sete meses e eu jamais imaginaria que depois de entrar no país com os mesmos documentos sem haver problema algum , viajando com a mãe, fossem criar esse tipo de problemas.

E o pior de tudo, sabendo que eu não era daquele estado do Brasil e que é claro estava em pânico com aquela situação

Nem quiseram saber, simplesmente disseram-me:

“Ele não pode sair porque esse documento não é válido cá e a senhora teria que ter uma autorização do Juizado de Menores para poder viajar com seu filho!

Pensem bem...

Enquanto em todas as capitais brasileiras crianças andam desprotegidas, famintas, sem abrigo, morando embaixo de pontes, se prostituindo por um prato de comida, eles foram complicar com uma mãe que levou seu filho para visitar a família e sabem mais uma?

Sabem o que eles alegaram?

O estatuto da criança e do adolescente!

Mesmo eu com toda a documentação que me autorga o pátrio poder sobre meu filho alegaram isso!

A agente em questão , mesmo eu mostrando todos os documentos virou as costas e nada mais disse.

Nem mesmo uma orientação, nem apoio quanto ao lugar que eu e meu filho ficaríamos no Recife, ou seja eu não podia voltar com meu filho para minha casa mas poderia ficar em um lugar desconhecido para mim, a noite , sozinha com ele!

Na gíria brasileira isso que fizeram comigo tem um nome .

Me deixaram sem eira nem beira as 20:00 hs em pleno aeroporto do Recife !

O que será que a P F queria?

Tenho tentado compreender isso!

Como não havia mais nada a fazer e eles simplesmente nos abandonaram sem auxílio algum e nem um tipo de informação quanto a um lugar que nos pudéssemos passar aquela noite até resolver a situação, sai para fora do aeroporto e fui espairecer porque estava em vias de ter um calapso ,afinal perdêramos o voo que nos traria para casa e aqui em Portugal nossa família estava a nossa espera sem nada saber!

Sai da P.F. e fui procurar um banco 24 horas para levantar algum dinheiro pois já não tinha reais, havia gasto todo o dinheiro que tinha em prendas para a família no aeroporto .

Mas o transtorno não havia acabado ai, como já era 21:00 em Recife , em Lisboa já passará da 0:00 hora e os multibanco por medida de segurança na maioria estão fora do ar!

Não havia comunicação entre os bancos!

Moral da história ...

Estava sem dinheiro até mesmo para pegar um táxi e ir para um hotel ....

Resolvi perguntar a uma senhora grávida aonde haveria um hotel ou pousada que fosse perto do aeroporto para passar aquela noite e ela me respondeu que não sabia pois estava se dirigindo para Brasília .

Mas que a irmã e a tia (anjos) poderiam dar-me uma orientação melhor .

Fomos ao encontro das mesmas que estavam dentro do aeroporto .

Bem, essa foi a melhor coisa que poderia me acontecer naquele dia , conheci 5 pessoas maravilhosas!

Edna , Eva , Luciana e Jean que foram incansáveis e me estenderam a mão ...

Edna um ser que quando ri mostra a luz de sua alma a iluminar sua face por inteiro ,e tia eva com o carinho e serenidade que eu precisava naquele momento em que estava completamente fragilizada pela situação que havia sido criada pelas autoridades locais e sem motivo algum.

O próprio juiz no dia seguinte alegou que eles não poderiam ter feito aquilo ...

Uma arbitrariedade, afinal eu sou a mãe e estava autorizada e presente.

Na mesma hora reconheceu o documento que estava em meu poder e permitiu assim que voltássemos no outro dia para Lisboa .

Foram 24 horas de pura tensão!

Pesquisei na internet para me inteirar do ESTATUTO DA CRIANÇA E ADOLESCENTE ....

E qual o meu espanto em ver que realmente a agente da

Polícia Federal do Recife não devia conhecer o mesmo com profundidade , afinal aqui está um código que ela com certeza desconhece ...

Da Autorização para Viajar

Art. 83. Nenhuma criança poderá viajar para fora da comarca onde reside, desacompanhada dos pais ou responsável, sem expressa autorização judicial.

§ 1º A autorização não será exigida quando:

a) tratar-se de comarca contígua à da residência da criança, se na mesma unidade da Federação, ou incluída na mesma região metropolitana;

b) a criança estiver acompanhada:

1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau, comprovado documentalmente o parentesco;

2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, mãe ou responsável.

§ 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais ou responsável, conceder autorização válida por dois anos.

Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a autorização é dispensável, se a criança ou adolescente:

I - estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável;(a mãe o que é?)

II. - viajar na companhia de um dos pais, autorizado expressamente pelo outro através de documento com firma reconhecida.

Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, nenhuma criança ou adolescente nascido em território nacional poderá sair do País em companhia de estrangeiro residente ou domiciliado no exterior.

O que será que eles queriam?

O que eu vi no Brasil e que não é novidade nenhuma apesar da tristeza que sinto de ter que admitir isso é que eles se preocupam com as crianças que tem protecção!

E aqueles que estão a margem da vida como vi no outro dia quando fui tratar dos papeis nas ruas do Recife no semáforo fazendo acrobacias em frente aos carros para ganhar alguns tostões para poder comprar um pedaço de pão eles não se importam!

As crianças que são vítimas de Pedófilia em pleno nordeste brasileiro também não lhes chama atenção .

Mas de um adolescente que viaja de férias todos os anos para fora do país (meu filho) tem dupla cidadania ou seja, tem documentos brasileiros e portugueses...

Com esse eles querem se preocupar!

Porque será?

Marachão, lhes lembra algo?

Pesquisem e descubram o que é!

Agradeço a Edna e a Eva pela ajuda que me deram.

Com certeza sem a força e o carinho de vocês não seria possível que tudo se desenrola-se com tanta rapidez .

Vocês estarão para sempre dentro do meu coração!

Lisboa-13-07-2007