NOSSAS INDIGNAÇÕES PONTUAIS

Na semana passada, obtive provas de que o Ser Humano não tem a capacidade de enxergar o que acontece a sua volta como um todo. Nem sei quantos têm a plena consciência de pertencer a uma Humanidade única. O resultado dessa cegueira é um planeta caótico.

Sempre digo que a indignação é o nosso sentimento com menor prazo de validade. Pior é saber que ela também é pontual. Costumamos nos indignar apenas com aquilo que nos interessa, ou nos afeta. E cometemos uma espécie de crime, quando nos indignamos só para acompanhar uma multidão.

Foi isso que aconteceu quando se soube que Suzane Von Richthofen, foi “premiada” com uma saída temporária para o Dia das Mães. Eu não penso apenas em Suzane. Quantos outros criminosos também foram “premiados? Assassinos, pedófilos, estupradores e tantos outros. E ninguém falou deles.

É evidente que Suzane ganharia os holofotes da mídia. Só não vejo motivo para toda essa indignação pontual. Suzane foi beneficiada por um direito que a lei lhe garante. Deveríamos ficar indignados com nossas leis, que além de não punirem ninguém, ainda premiam os criminosos.

Outro exemplo dessa indignação pontual foi a atriz Cissa Guimarães. Ao saber que a pena dos envolvidos na morte do seu filho seriam convertidas em serviços comunitários, Cissa desabafou com essas palavras: “Medo, tristeza e injustiça”.

O desabafo de uma mãe que perdeu o filho para a violência é perfeitamente compreensível. Essa sua indignação pontual não. Como atriz conhecida nacionalmente, Cissa poderia levantar bandeira por mudanças nas leis penais brasileiras.

Afinal, Cissa não é a única mãe brasileira que perdeu o filho para a violência. Não é a única mãe brasileira que vê os responsáveis livres e felizes. E também, não é a única brasileira que vive com medo e tristeza. Não é apenas no “país dela” que existem injustiças.

O Brasil está longe do primeiro mundo, quando se trata de educação, saúde e bem estar. Em contrapartida, teimamos em ser um país de primeiro mundo quando o assunto é o tratamento dos criminosos. E não é impressão. O status de importância deles, está mesmo acima da sociedade. Cometer crimes é uma profissão para maiores e menores.

Enquanto nossas indignações continuarem pontuais, os criminosos cada vez mais, seguirão os políticos no quesito “privilégios”. No Brasil, o crime alterou o ditado e acrescentou adjetivos. Aqui o crime além de compensar ainda premia. E infelizmente já deixou de ser atos pontuais. Se transformou num câncer espalhando raízes.