A Questão Social

Os capítulos VII (Da lei de sociedade) e VIII (Da lei do progresso) em O Livro dos Espíritos(1) oferecem ampla visão sobre a vida social e os desafios da civilização. O tema é pertinente ao trabalho publicado pelo jornal Folha de São Paulo (no caderno especial Qualidade de Vida) em 10 de julho de 2001, que analisa o Ranking da ONU, com o título O Brasil melhorou?

A abrangente pesquisa traz dados comparativos de inúmeros países e portanto não se restringe ao Brasil, mas naturalmente que procura analisar a situação brasileira numa classificação básica de qualidade de vida, em comparação com itens como expectativa de vida, alfabetização, números do PIB, tecnologia, desigualdade social e outros itens. A classificação baseia-se no IDH (veja quadro nesta matéria), um índice que mede a qualidade de vida das pessoas nos diversos países.

Transcrevemos alguns dados da pesquisa da ONU(*) para efeito didático de comparação com os ensinos da Doutrina Espírita, também comentados ou transcritos mais a frente:

"Em 1999, 9% da população brasileira vivia apenas com até US$ 1 por dia e 22% da população (praticamente uma em cada cinco pessoas ou então 37,0 milhões de pessoas) estava abaixo da linha da pobreza".

"A desigualdade de renda continua alta: os 10% mais ricos consomem 46,7%, enquanto os 10% mais pobres ficam com o equivalente a apenas 1% do total".

"Levantamento indica que seria necessário gastar R$ 1,69 bilhão mensalmente para erradicar a fome (...) O Brasil tem hoje 50 milhões de pessoas em situação de indigência, segundo estudos da Fundação Getúlio Vargas".

"Índice de conquistas tecnológicas, com 72 países, mostra que país perde por falta de profissionais capacitados."

Classificado em 69º lugar no citado Ranking (em dados de 1998 e 1999), num total de 162 países, o Brasil apresenta expectativa de vida de 67,5 anos, 84,9% de taxa de alfabetização de adultos, entre outros dados.

São dados de uma realidade social, embasados naturalmente em pesquisas que desconsideram o fator desencadeante dos extremos que afligem o relacionamento e a vivência humana. Não são considerados o egoísmo gerador do sofrimento e das diferenças, nem tão pouco o orgulho ou a vaidade que destroçam esperanças, bem como a ignorância de nossa realidade espiritual, causa maior das diferenças humanas, por força da evolução e patamar de cada um dos habitantes do planeta.

Importante, pois, buscar o pensamento espírita. Como estabelecer parâmetros verdadeiros de medição desta questão?

Voltemos aos capítulos citados no início do artigo. Na questão 793 do referido livro(1), por exemplo, os espíritos responderam que uma civilização completa será reconhecida pelo desenvolvimento moral. E Kardec, comentando a resposta indica que "Uma civilização incompleta é um estado transitório que gera males especiais... (...) De duas nações que tenham chegado ao ápice da escala social, somente pode considerar-se a mais civilizada, na legítima acepção do termo, aquela onde exista menos egoísmo, menos cobiça e menos orgulho; onde os hábitos sejam mais intelectuais e morais do que materiais (...); onde haja mais bondade, boa-fé, benevolência e generosidade recíprocas; (...) onde as leis nenhum privilégio consagrem e sejam as mesmas, assim para o último, como para o primeiro; onde com menos parcialidade se exerça a justiça; onde o fraco encontre sempre amparo contra o forte; onde a vida do homem, suas crenças e opiniões sejam melhormente respeitadas; onde exista menor número de desgraçados; enfim, onde todo homem de boa-vontade esteja certo de lhe não faltar o necessário."

Solicitamos a gentileza do leitor em reler o comentário do Codificador, acima transcrito - embora parcialmente - a fim de refletirmos sobre a dura realidade de nossos dias, na ausência da fraternidade legítima que a civilização completa deve trazer. Por outro lado, conforme a questão 766 do mesmo livro, os espíritos respondem que "Deus fez o homem para viver em sociedade", exatamente para no relacionamento promoverem o progresso uns dos outros. Isto em perfeita consonância com o tema da igualdade natural entre todos os homens (vide questão 803 de O Livro dos Espíritos). O egoísmo humano, todavia, fêz as desigualdades sociais (vide também questão 806).

Mas não ficamos por aí. Observe-se também a Revista Espírita (2), onde o trecho parcialmente transcrito, de carta endereçada por Kardec ao Príncipe G, deixa clara a importância da divulgação das idéias espíritas para alteração desse difícil quadro do panorama social:

"(...)

Santo Agostinho, em mensagem publicada por Kardec também na Revista Espírita (3), faz um convite ao coração humano:

"(...)

Concluímos, porém, com mensagem do espírito São Luiz(4). Pela qualidade do ditado - em transcrição parcial -, dispensamo-nos de maiores comentários, deixando-a à reflexão do leitor:

"(...)

Referências:

O que é IDH?*

O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é um indicador elaborado pela ONU para medir a qualidade de vida nos diversos países.

O economista Amartya Sem, que recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 1988, foi um dos criadores do IDH, e aperfeiçoou sua metodologia em 1999.

O IDH se baseia no fato de que o desenvolvimento de uma nação não pode ser medido de forma unilateral, levando em conta somente a dimensão econômica. Incorpora também a saúde e a educação, além de computar o PIB "per capita", sendo os três itens medidos com o mesmo peso.

*Transcrição parcial da Folha de São Paulo (10 de julho de 2001), caderno Qualidade de Vida, páginas A-9 a A-12, no trabalho Ranking da ONU com o título O Brasil melhorou?

78ª edição FEB, tradução de Guillon Ribeiro.

Revista Espírita, de janeiro de 1859,

Revista Espírita, de março de 1862

Revista Espírita, de agosto de 1860.

Orson
Enviado por Orson em 16/07/2007
Código do texto: T567007