ESPELHO DO BRASIL

Faltando menos de trinta dias para o início das Olimpíadas do Rio de Janeiro, o normal seria nossos grandes jornais e revistas falarem dos jogos. Dos atletas e equipes com chances de medalhas. Das obras terminadas. Todas com o custo abaixo do orçamento. Que sonho bom eu estava sonhando... Então me beliscaram!

A revista Veja resolveu sair da normalidade. No script não se fala de jogos. Nem de cidade maravilhosa. Não é exclusividade do Rio de Janeiro, ou das cidades grandes. É um grito de socorro que ecoa por todo o país.

Durante quarenta e oito horas no primeiro final de semana de julho, oito repórteres de Veja acompanham as ocorrências policiais da cidade prestes a receber turistas do todo o mundo. Os corajosos e os desavisados.

O resultado pode ser visto e lido na reportagem de capa da revista desta semana. O prefácio da reportagem é perfeito quando diz que “O que acontece no Rio de Janeiro em quarenta e oito horas equivale a uma guerra civil”. Uma Síria com corcovado.

Neste curto período o resultado foi vinte e sete mortos, vinte feridos, dezenove tiroteios e sete arrastões. Existem ainda outras estatísticas. Um assalto ocorre na cidade a cada quatro minutos. Nos locais mais perigosos há em média um policial para 2.500 habitantes. O recomendado é um para 250. Só que a cidade faliu.

Temos também o mapa da violência que escancara um paradoxo. O crime além de organizado tem comando. Coisas que o Brasil não tem. E se ainda não é um poder paralelo, está próximo de ser. O que pode apodrecer ainda mais os poderes da nação.

A reportagem que divide as ocorrências em capítulos, se assemelha ao um reality show de terror. Se estivéssemos em qualquer outro país, certamente a população pressionaria os governantes que se pronunciariam de imediato. Os nossos estão gozando férias!

Depois de cada capítulo lido, deveríamos refletir e perguntar: Como o Brasil deixou uma guerra civil se espalhar de norte a sul? Mostramos uma capacidade extraordinária para acabar com o comércio das armas de brinquedo. Já com as armas de verdade...

No fim, a reportagem mostra em fotografias 3x4, o rosto dos vinte e sete mortos. A idade, a cor e o local da morte. Menos dos menores é claro. Que estão ali simplesmente como estatística ilustrativa em cores. Enfeitando estupidamente o nosso cotidiano. Encontrar alguém morto na calçada ou na esquina já faz parte da nossa rotina diária.

Pior é constatar que esta guerra civil está se expandindo, e não vemos ninguém interessado em combatê-la. Durante as Olimpíadas existe todo um esquema para proteger os turistas. O exército nas ruas. Depois a sociedade que se proteja sozinha.