Até onde se vai

Aos gritos a dor bradava apelando pela compaixão humana, que talvez ele sequer conhecesse. Assim damos vazão a nossa indignação ao presenciar mais um ato do animal sobre o animal. É porque pra ser racional, pra ser chamado de inteligente ou civilizado, a ação daquele motorista de carro contra um cachorro indefeso de frente de uma feira, as cinco da manhã, me pareceu além de um ato covarde, um ato que demonstra mais do que a própria ação. Aquele motorista, que era um jovem, que vinha de alguma festa com os seus amigos, simplesmente atropelou um cão de rua, deixando-o rolando no asfalto, em gemidos de desespero e agonia.

São essas forças joviais, exauridas nos procedimentos ou maus comportamentos, que gostaríamos de ver canalizado as reivindicações pelos nossos direitos. Assumindo uma paternidade pela conquista do devido espaço no âmbito do trabalho, do estudo e de questões atreladas a governabilidade do próprio Estado.

Não cenas lamentáveis como essa, que mostram a sordidez e a falta de humanidade de um individuo, expõe a fragilidade do sistema, o conluio, omissão ou quem sabe o medo das pessoas, ao presenciarem um fato absurdo desses e nada fazerem. Até porque, é fato, que o animal tem uma vida, que a luz da constituição, existe como o bem mais precioso ao ser humano, abrangendo também o animal.

Mas de qual animal estamos falando?... Se na sua “santa” ignorância aquele jovem, com os seus amigos divertindo-se poderiam ter atropelado uma pessoa. E poderia, se não tivesse ninguém na rua para servir de testemunha. Pois nos dias em que se seguem, coisas fora da sanidade vão se tornando banais e todos aceitam passivamente, ou melhor, como disse antes amedrontadamente.

Na essência, se formos a fundo apontar-se-á tantos descalabros, que é melhor fazer idéia do que relembrar. Aquele ato indescritível e vergonhoso, se multiplica por parecer sem importância, visto que os direitos do animal, bem como os de muitos indefesos no país, pouco se questiona e a poucos interessa.

No afã de almejar representar aqui a dor daquele animal, me identifico com as questões sociais, que sempre são relegadas, a roda de reclamações e não de conquista e firmação de direitos.

Não só pela falta de humanidade, não só pela falta de respeito, de valores de família, que convém inferir e deixar aqui o meu repudio aqueles que, independente do ser, não valorizam o bem maior e divino, que temos, por assim dizer e identificar como a vida. Cabendo também lembrar, que precisamos sempre estar preparados para o que virá, pois se hoje, com tantas leis se vê pessoas valorizando tão pouca a vida, o que será o futuro, visto por essas ações? Por essas omissões? Por tanta falta do que fazer, é dever nosso, desde já alertar, crendo numa postura mais austera do Estado e da própria sociedade civil para inibir esse tipo de crime, que amanhã, caindo na simplicidade, poderá ser o nosso maior algoz. Haja vista, o exemplo de filhos que são criados a solta, fazerem do Estado refém e de seus pais corredores de portas de cadeia.