Obitu intimare: um recorte analítico acerca da expectativa e idealização no poema "A Hora Íntima" de Vinicius de Moraes

Com notória beleza e teor, o poema A Hora Íntima é mais uma das grandiosas e artesanais obras de Vinicius de Moraes, o “poetinha” do Rio. De tal maneira percebe-se a destreza com que Vinicius, assim como retrata em todas as suas criações, desmistifica ou mistifica o lado abstrato do homem. O amor está no cerne de Vinicius, e por conta disto, seus poemas estão repletos de elementos motivados por tal sentimento, levando à perda da razão, como vemos nos poemas: Soneto Do Maior Amor e São demais os perigos desta vida. O texto A Hora Íntima está presente no livro "Vinicius de Moraes - Poesia Completa e Prosa", Editora Nova Aguilar - Rio, 1998, pág. 455. Farei algumas elucidações acerca de elementos atinentes à estrutura e sentido explicitados pelo narrador.

Em toda a sua essência o narrador expressa sobremaneira a sua expectativa dos eventos futuros. Tal incerteza e idealização estão presentes em todo o texto, de forma que se sobressaem orações interrogativas pertinentes ao momento fúnebre, que para este, representa um instante de expressão humana (in) verdadeira e de reflexão. Seus pensamentos expressam certeza dos fatos, mas se voltam duvidosamente para os atuantes de tais circunstâncias. No que diz respeito a este âmbito, o título faz uma recorrência ao momento que não tão somente revela o sentir humano, mas, “intimida”, testando desta forma o comportamento de outrem diante do momento da morte, como em: Quem se abraçará comigo//Que terá de ser arrancada?

A expectativa criada pelo narrador mostra uma idealização formada relativa ao funeral, mas, sobretudo, de tal forma que este começa e conclui o poema, procurando questionar os níveis de intimidade daqueles que acompanharão sua partida, uma vez que, “Quem vai pagar o enterro e as flores // Se eu me morrer de amores?”. Todos podem acompanhar o enterro e expressar seus sentimentos, mas só permanecem os íntimos, que, todavia estão próximos e serão responsáveis pelos encargos do enterro e das flores. Outro fator que é de intrínseca importância, é o fato de o autor utilizar a expressão “Se eu me morrer de amor” (grifo meu), o que remete a des-responsabilidade dos “outros” pela sua morte, visto que, a causa da “morte” cabe somente a si, fruto da viva expressão do seu amor, que pode ou não ser devolvido. O uso do pronome obliquo/reflexivo me especa este complemento, permeando ainda mais a dúvida do narrador sobre quem estará junto a ele.

O esquema abaixo procura compendiar tal mecanismo de expectativa, de dúvida do narrador e a presença do Quem? e Quantos? e o que o personagem espera destes:

Eu

(Narrador-personagem)

Hoje Funeral

Expectativa Quem?

Quantos?

Não obstante de dúvidas, Vinicius deixa um legado de cultura através de seus textos e de suas músicas. Sua marcante expressão da paixão foi ao largo de seus nove casamentos, mostrando que cada um foi “infinito enquanto duraram”. “Ser feliz é viver morto de paixão”, Vinicius de Moraes.

Diego Guima
Enviado por Diego Guima em 04/08/2007
Código do texto: T592611
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