COLISEU: PROJETO ARQUITETONICO E DIVISÃO DE CLASSES SOCIAIS

RESUMO

O presente artigo tem por finalidade demonstrar a influência da hierarquia social no projeto arquitetônico do Coliseu. Além disso, como o Coliseu foi utilizado para promover a integração entre toda sociedade independente da sua classe social. O anfiteatro servia ainda, para conter conflitos por meio do entretenimento. Através da pesquisa bibliográfica, iconográfica e documentários foi realizada uma abordagem que liga a arquitetura à sociedade.

Palavras-chave: hierarquia social, Coliseu, segregação, projeto arquitetônico.

1. INTRODUÇÃO

O Coliseu Romano foi construído não somente com o intuito de devolver aos romanos a área usurpada pelo imperador Nero para a construção da sua grandiosa residência, mas também para apagar os efeitos negativos do seu império. A grandiosa obra também tinha como objetivo promover interação de toda a sociedade, afinal o acesso era gratuito, evitando assim, revoltas populares através do entretenimento e ser motivo de orgulho e expressão de poder para a nação, conforme preleciona Cunha (2012, p. 124).

Embora o Coliseu tenha sido construído para abrigar todas as classes sociais, o seu projeto arquitetônico viabilizava a segregação social, expressa através dos corredores de acesso e arquibancadas separadas e a evacuação no caso de tumulto, era realizada por setores. Assim, os expectadores que detinham maior poder aquisitivo e prestigio social se retiravam do Coliseu antes que os mais pobres (REESCREVENDO A HISTÓRIA – COLISEU. 2013).

A divisão de classes sociais também se estendia às arenas, afinal este espaço separava o romano do não romano, o obediente do resistente, o normal do anormal, onde eram expostos ao suplicio, enquanto aos gladiadores na maioria das vezes, ocupavam um lugar de destaque e honra na sociedade (REILLY).

O objetivo do presente trabalho é demonstrar a divisão de classes existentes no Coliseu, relacionadas às suas avançadas técnicas projetivas, que inclusive são adotadas até hoje na construção de locais que recebem o grande público. Além disso, a divisão de classes se estendia àqueles que compunham o espetáculo na arena. A metodologia de trabalho pautou-se em levantamos bibliográficos, iconográficos e documentários.

2. O Coliseu para a sociedade

O imponente Anfiteatro Flaviano, posteriormente conhecido como Coliseu , foi construído de 72 d.C até 80 d. C, em terreno que anteriormente foi desapropriado pelo imperador Nero para construção da sua invejável residência imperial . Todavia, Nero suicidou-se em 68 d.c.. Com o óbito de Nero, iniciou-se a Dinastia dos Flavianos , tendo como primeiro imperador Vespasiano, com isso, o terreno antes ocupado pela residência do Imperador Nero, foi escolhido para a construção do Coliseu, para devolver ao povo a área que lhes fora usurpada por Nero, neste sentido ensina Cunha (2012).

A construção do Coliseu não foi tarefa fácil, contou com um grande número de trabalhadores, engenheiros e arquitetos experientes, acostumados a grandes empreendimentos e detentores de técnicas consagradas. Apresentou ainda, desafios físicos, pois foi construído em terreno pantanoso, que o imperador Nero utilizava para represar seu lago artificial. Ao contrário dos demais anfiteatros edificados nas províncias ou periferias romanas, aproveitando encostas e morros, visando economizar tempo e recurso o Coliseu foi construído solto, independente e no coração de Roma, para reunir todo o povo romano (CUNHA, 2012).

Aparentemente o Coliseu teve finalidade populista, na medida em que, a imponente obra poderia unir todas as classes sociais em eventos comandados por imperadores gratuitamente. Assim, o povo ficaria feliz, agradecido, entretido e consequentemente o imperador Vespasiano seria considerado benevolente e seria poupado de revoltas promovidas por uma massa insatisfeita (GUARINELLO, 2007).

3. Projeto do Coliseu e divisão de classes sociais

O Coliseu foi projetado em forma de elipse, com altura máxima da estrutura existente de 50 metros, o equivalente a um edifício moderno de 16 andares. A capacidade máxima de espectadores era estimada entre 50 e 70 mil. Em que pese o anfiteatro ter sido projetado para todo o povo romano sem qualquer distinção, havia uma divisão marcante relacionada à classe social do espectador e inclusive relacionada aos que participavam dos espetáculos na arena.

A divisão de classes se iniciava na entrada na medida em que, as galerias inferiores continham 80 arcos, todos enumerados, números estes que, correspondiam ao acesso do público aos andares e arquibancadas, conforme cada classe social (CUNHA, 2012). A entrada principal era destinada ao imperador e seus convidados, localizada no lado norte, no eixo menor da elipse, enquanto a elite, tais como senadores, entravam por outros três corredores principais nas entradas sul, leste e oeste sobre os eixos principais. As portas que davam acesso às galerias do térreo e depois aos níveis superiores eram enumeradas por algarismos romanos de I a LXXX, e o número da entrada de cada individuo estava inscrito no ingresso, conforme traz em sua obra Cunha (2012).

Era clara também, a divisão de classes nos assentos e arquibancadas. As arquibancadas mais baixas e próximas à arena possibilitavam maior visibilidade, eram designadas aos senadores e magistrados e a do lado norte ao imperador. Os andares superiores, mais distantes da arena, eram ocupados por plebeus e mulheres. A separação de classes também poderia ser para evitar que, pessoas com interesses distintos com muita proximidade entrassem em conflitos. Dessa forma, a arquitetura do anfiteatro criava uma poderosa imagem de exclusão de desordem e desavenças.

As arquibancadas eram divididas em três partes, neste aspecto destaca Reilly (2005), que correspondem às diversas classes sociais: o podium destinava-se às classes altas, composta pelo imperador e convidados ladeado pelos assentos reservados aos senadores e magistrados, os éqüites era o setor da classe media ou segunda classe de nobres e as popularias destinada a plebe livre (soldados e serventes) e mais acima as mulheres e escravos.

O podium era protegido contra a invasão de animais selvagens por uma barreira, ou parapeito de ouro ou bronze dourado e como uma defesa adicional a arena era cercada por uma grade de ferro e um canal. O imperador ficava no trono em cima de uma plataforma elevada, sombreado por uma tenda. A classe média que ocupava a équites sentava-se a quatorze fileiras após os senadores e as arquibancadas da popularia se elevavam em bancada sobre bancada (REILLY, 2005).

Tal como o acesso, a evacuação também era facilitada e eficiente. Em caso de tumultos sociais, terremotos e incêndios, em poucos minutos o Coliseu poderia ser totalmente evacuado sem problemas ou confusão. Entretanto, a evacuação ocorria com destreza e divisão social, afinal era em ordem de setores, partindo do podium para a popularia. As passagens percorridas pelas classes mais baixas da sociedade eram engenhosamente mais estreitas, deixando-as congestionadas em caso de evacuação, permitindo que a multidão fosse controlada, o que dificultava o acesso da plebe ao piso inferior onde estava a elite, neste caso a elite poderia se retirar antes dos plebeus, conforme trazido pelo documentário Reescrevendo a História – Coliseu (2013).

Na arena também havia segregação social, pois este espaço separava o romano do não romano, o obediente do resistente, o normal do anormal. Bárbaros, vencidos, cristãos e inimigos que se opunham a ordem romana eram expostos ao suplicio na arena, para estes a arena era um lugar de sangue, dor e morte. Por outro lado, os gladiadores ocupavam um lugar honrado, embora no início a maiorias dos gladiadores adviessem de prisioneiros de guerra ou escravos comprados. Quando da construção do Coliseu boa parte dos gladiadores era de origem livre e até de origem nobre, como cavaleiros e senadores, que se colocavam ao poder de um mestre ao qual prestavam um juramento sagrado e assim se tornavam seres sagrados (REILLY, 2005).

O gladiador na sociedade romana poderia ser degradado, mas em muitos casos poderiam conquistar fama e riquezas e até se aposentarem, além de ser uma espécie de realização humana e um modelo para filósofos e religiosos. Em alguns casos, o público poderia decidir se o gladiador deveria morrer, quando apontavam o polegar para a garganta, se estivesse muito ferido. Ou se lutasse de forma desonrosa. O povo poderia poupar a vida do gladiador mesmo perdendo o duelo, desde que fosse de forma honrada conforme mostrado pelo documentário Reescrevendo a História – Coliseu (2013).

O Coliseu era um misto de dor, sofrimento, poder, superação, honra e glória. E embora no anfiteatro houvesse a divisão de classes sociais, era o espaço no qual a sociedade não somente assistia ao espetáculo, mas também se interagia, convivia e se fazia ouvir. O imperador, plebe, dirigentes se confrontavam e o anonimato da massa dava força para que os anseios da sociedade fossem atendidos.

Atualmente, é notória a influencia das regras estabelecidas pelo projeto arquitetônico do Coliseu em construções que recebem o grande público como nos estádios espalhados por todo o mundo. A reprodução pode ser observada em especial quanto ao formato de elipse dos estádios, bem como quanto às arquibancadas que separam o público a depender do quanto poderão pagar.

Podemos citar como exemplo alguns dos considerados os melhores estádios do mundo, pela revista FourFourTwo em 2015, que são semelhantes ao Coliseu como o Estádio do Maracanã situado no Brasil, o estádio Camp Nou situado na Espanha, o estádio Wembley situado na Inglaterra e o estádio Azteca situado no México.

O Coliseu é de suma importância para a humanidade, pois além de suas técnicas projetivas e construtivas serem copiadas até hoje é a maior atração turística de Roma e uma das mais famosas do mundo. Embora o Coliseu esteja em ruínas decorrentes de terremotos e roubos é considerado uma das suas sete maravilhas do mundo e passa por um intenso processo de restauração.

4. Considerações finais

O Coliseu era ambíguo, por um lado unia toda a população romana, por outro lado, expressava a divisão de classes sociais em seu projeto arquitetônico, o que poderia ser observado em suas passagens, arquibancadas e corredores. Além disso, expressava o poder e conquistas da época e mantinha a população entretida evitando revoltas contra o imperador.

O projeto arquitetônico do anfiteatro é de suma importância para o mundo, na medida em que, suas avançadas técnicas projetivas são reproduzidas atualmente em locais que recebem o grande público. O reflexo do Coliseu nestas edificações ocorre tanto nas suas formas de elipse quanto na separação dos espectadores por arquibancadas a depender do quanto poderá pagar ou da sua posição social.

Assim, o Coliseu demonstra o quanto os métodos projetivos e construtivos de Roma eram evoluídos e minunciosamente planejados para um imperador alcançar seus objetivos populistas, para demonstrar a sua força, desenvolvimento do seu estado, tanto para o seu povo quanto para outras nações.

5. Referências

CUNHA, José Celso da. A História das Construções, volume 4 – Belo Horizonte: Autentica Editora, 2012.

O’ REILLY, A.J. Os Mártires do Coliseu. Tradução de Marta Doreto de Andrade. 3ª ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2005.

FAVERSANI, F. Panem et circenses : breve análise de uma perspectiva de incompreensão da pobreza no mundo romano. Varia História, Belo Horizonte, v. 22, p. 81-87, 2000. Disponível em: <http://www.fafich.ufmg.br/varia/admin/pdfs/22p81.pdf>. Acesso em: 18 dez. 2016.

GARRAFFONI, Renata Senna. Hierarquias e Conflitos: repensando os anfiteatros Romanos no início do Principado; História: Questões e debates, Curitiba, n. 41, p. 45-56, 2004. Disponível em: <http://revistas.ufpr.br/historia/article/view/4626>. Acesso em: 18 dez. 2016.

GUARINELLO, Norberto Luiz. Violência como espetáculo: o pão, o sangue e o circo; História, São Paulo, v. 26, n. 1, p. 125-132, 2007. Disponível em:< http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-90742007000100010&script=sci_abstract&tlng=>. Acesso em 18/12/2016. Acesso em: 18 dez. 2016.

JUNIOR, Antonio Gasparetto. Coliseu, Infoescola. Disponível em: <http://www.infoescola.com/civilizacao-romana/coliseu/>. Acesso em 17/02/2017.

MENTEGATILHADA. Reescrevendo a História – Coliseu. 2013. 1 post (44 mim 36 s). Postado em: 10/08/2013. Disponível em:< https://www.youtube.com/watch?v=4_kTP29vfbE>. Acesso em: 20/11/2016.

UOL. Revista põe Maracanã entre os 10 melhores estádios do mundo. UOL, São Paulo, 2015. Disponível em < https://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2015/11/13/revista-poe-maracana-entre-os-10-melhores-estadios-do-mundo.htm >. Acesso em 17/02/2017.