ESCOLA ALEXANDRE PORFÍRIO - Anísio Teixeira

Série Figuras da Bahia

HOMENAGEM AOS PROFESSORES

Falar de professores, me vem à memória o nome de Anísio Teixeira, criador da Escola Parque, Secretário da Educação da Bahia, Reitor da Universidade de Brasília, que teve como seguidor mais conhecido o Professor Darcy Ribeiro, seu aluno, que criou os CIACS, CIECS, CAICS, copiando a primeira experiência de Anísio Teixeira com a Escola Parque, de tempo integral, na década de 1940, no bairro do Pau Miúdo, em Salvador.

ESCOLA ALEXANDRE PORFÍRIO

Em Poções, temos o exemplo da obra que Anísio Teixeira deixou como eterno legado para a Bahia e para o Brasil. Em 1940 o Grupo Escolar Alexandre Porfírio, que depois passou para Escola Alexandre Porfírio, marca época na sede municipal com um corpo de mestres de primeira grandeza. A expansão do ensino público para o interior foi a meta desenhada na pasta pelo Prof. Anísio Teixeira, considerado o maior educador brasileiro de todos os tempos. Neste período os inspetores escolares eram homens, professores escolhidos a ponta de dedo para inspecionar o ensino no interior do Estado. Por Poções, passaram o Pai do Professor e Geógrafo Milton Santos, Prof. Irineu Santos, o Prof. Leopércio da França Ribeiro, entre outros. A primeira diretora do Alexandre Porfírio foi minha saudosa mãe, Profª Nadir Chagas De Benedictis que um ano após implantar a escola, passou a direção para a Profª Alzira Brázida Santa Rita e continuou seu mister como regente de classe, enquanto Alzira acumulava a regência e a direção. Elas eram muito amigas, desde o bancos do Instituto dos Perdões, onde estudaram e concluíram o Curso Normal, no Barbalho, em Salvador.

Ainda em salvador, conheci professores da estirpe de Isaias Alves, Helvécio Carneiro Ribeiro, Milton Santos, Adroaldo Ribeiro Costa, Cid Teixeira (completou 80 anos por esses dias), Hugo Baltazar da Silveira, Pedro Pereira, Almécio, Rosier, Nogueira Passos, Cícero Pessoa, Rosita Stavola de Menezes, Péricles, Moacir, Raimundo Nonato, Seixas, Antonio Pinto. Em Jequié, Milton Rabelo, Maria Adélia, Maria Teresa, Padre Spinola, Antonin, entre outros.

Na minha infância, no ensino fundamental, à época designado de Curso Primário, tive uma formação exemplar. E aí eu tenho que falar das minhas professoras e das professoras que marcaram época em Poções, minha cidade natal, localizada no sudoeste da Bahia, às margens da BR-116 - Rio-Bahia. O palco da formação da minha geração foi o Grupo Escolar Alexandre Porfírio, em Poções.

MESTRAS QUE PASSARAM POR POÇOES

Minha mãe, a Professora Nadir Chagas De Benedictis, foi a primeira professora formada a lecionar em Poções e a minha preletora. Quando cheguei à primeira série do curso primário, lia e escrevia com certa desenvoltura, aos sete anos de idade. Sempre é pouco falar do seu trabalho abnegado à frente de tantas e tantas turmas de alunos, muitos dos quais ocupam ou ocuparam posição de destaque nos vários setores da vida, graças aos ensinamentos que receberam da grande mestra, professora e conselheira.

Falar de outras mestras abnegadas, entretanto, muito me orgulha. Posso dizer sem modéstia, que recebi um pouco de cada uma das professoras que enumerarei a seguir, como um grande preito de gratidão àquelas que foram as responsáveis pela formação que tenho e que, graças a Deus, me tem facilitado a vida e a convivência com meus semelhantes por todos esses anos...

ALZIRA BRÁZIDA SANTA RITA

A professora Alzira era escura, gorda, bem apessoada, muito simpática e muito enérgica. Um exemplo de competência e disciplina. Além de ensinar na Escola Alexandre Porfírio, manteve em sua casa um internato e uma escola particular. Ali estudavam à tarde, boa parte dos alunos que necessitavam de reforço para não sucumbirem ao final do ano letivo. Durante cerca de 20 anos a professora Alzira dedicou a sua vida a Poções. Naquele tempo, o professor era um sacerdote. Ensinava por amor ao oficio e o sucesso dos seus alunos era motivo para continuar a luta. Vi algumas vezes a professora Alzira a chorar, quando o desânimo ameaçava o seu ego profissional. Minha mãe era sua amiga incondicional e a ajudava a vencer muitos dos obstáculos que a afligiam. Lembro-me de uma reguada que deixou hematoma num garoto da família Fagundes. O pai do menino resolveu ir à policia prestar uma queixa contra a professora Alzira. Minha mãe intercedeu junto à família, cuja consideração era muito grande, a ponto de contornar-se a situação vexatória. Segundo minha mãe, o garoto tinha problemas de sífilis, pois Alzira não batera com tanta força para chegar ao ponto que chegou. Enfim, a reguada foi esquecida. Era prática da época o uso de palmatória pelos professores. Alguns pais autorizaravam o professor a castigar o malandro que não queria estudar. E foi numa dessas que Alzira quase embarcou... A severidade da professora Alzira era famosa. Escreveu não leu, o pau comeu. Doze bolos para fulano, seis bolos para beltrano, mas sua severidade diminuiu após o episódio da reguada. Minha mãe também não ficava atrás. Molequeira em sua sala de aula era sanada à bolos e reguadas nos inquietos e maus alunos. Os bons alunos, os mais aplicados, nestes ninguém punha a mão. Dai porque, por questão de inteligência, era muito melhor ser bom aluno. Além de não apanhar na vista dos coleguinhas, tínhamos regalias, presentes e sempre os melhores lugares em tudo que se fazia na escola. Tempo bom, aquele...

GESILDA CAMPOS DE OLIVEIRA

A professora Gesilda era filha de D. Cândida e do professor Campos, Inspetor escolar aposentado que norava na antiga rua Apertada, hoje Av. Olímpio Rolim. Gesilda era bem mais nova e veio com novos métodos de ensino. Era amiga de minha mãe e também foi minha professora. Sempre me dei muito bem com ela, principalmente por ser um bom aluno, sempre o primeiro da classe. Um dia ela conversava com minha mãe sobre o meu aproveitamento e dizia em tom preocupado: Didi você não tem medo dos problemas que Ricardo pode vir a ter, estudando tanto? E minha mãe respondeu: Olhe, Gesilda, não sei mais o que fazer para este menino estudar menos. Êle gosta de ler, Gesilda, tenho receio dos seus olhos. Cada dia que passa, sinto que ele está pior das vistas. E não quer usar óculos. O médico passou umas lentes de correção, mas quem disse que êle usa? E Gesilda retrucou: Vou forçar um pouco prá ver se ele usa os óculos... Era assim. As professoras iam conversar com os pais sobre os problemas dos alunos, na maior intimidade e com o maior interesse. E desta feita eu ouvira tudo...

IRACY OLIVEIRA

Também foi minha professora. Era prima de Gesilda e veio de Salvador. Logo, logo, foi a minha casa e abriu o meu viveiro, soltando uma dezena de passarinhos que eu mantinha no cativeiro. Fiquei muito triste e ela tentava me consolar, alegando que os bichinhos tinham direito à liberdade. Era um despertar ecológico para mim, que vivia a caçar e até a matar os pássaros utilizando o estilingue, à época conhecido por bodoque...

JACY DOURADO ROCHA

Naquele tempo, o professor pegava uma turma de primeiro ano primário, ou pnmeira série e levava a turma até a conclusão da 5ª série. Com os novos métodos, os professores ficavam a ensinar a série tal, enquanto cada ano o aluno mudava de mestre. Para mim ambos os métodos foram aprovados, já que tive a minha mãe na 1ª série e depois, a cada ano mudava de professora. No meu caso, entretanto, eu tinha em casa uma mestra de primeira grandesa que me orientou durante muitos anos, até mesmo quando fazia o ginásio e o secundário, tirando-me as dúvidas. Considero-me, portanto, um privilegiado. Quero lembrar que minha mãe era perfeccionista e não admitia que se falasse errado em nossa casa. Até meu pai que era italiano, era constantemente admoestado para falar corretamente.

A professora Jacy era casada com Hildebrando (Deco) Rocha, e ambos eram muito amigos da minha família. Ela foi uma excelente professora e deixou saudades.

A todos os mestres citados neste humilde artigo e, em extensão, a todos os bons professores deste imenso Brasil, vilipendiados por salários medíocres, as nossas homenagens mais sinceras. E que os governos tomem tento e tratem a Educação como prioridade de Estado, o que, de há muito deixaram de fazer.

Ao mau professor, aconselho a deixar a sala-de-aula e procurar sua praia em outra atividade. Quem não gosta de ensinar, às vezes porque não sabe, ou não gosta de estudar, ou não gosta de ler, não gosta de criança, etc, não fique tomando o lugar de quem precisa trabalhar. Vá para uma atividade burocrática e deixe a criança se desenvolver para que nosso país deixe esta condição primeiromundista que tanto nos humilha. Um bom professor faz bem à Pátria. O mau só atrapalha e é pior para o país que o político ladrão. Enquanto o político ladrão rouba o nosso dinheiro, o mau professor rouba a nossa esperança!...

Ricardo De Benedictis
Enviado por Ricardo De Benedictis em 15/10/2005
Reeditado em 22/03/2023
Código do texto: T59835
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