ESCOLA E EDUCAÇÃO: Da convergência e divergência

ESCOLA E EDUCAÇÃO:

Da convergência e divergência

Gercinaldo Moura

O mundo globalizado impele as pessoas em direção ao xenofobismo, à intolerância diante do outro, à idéia de que há uma inevitabilidade histórica, ao consumismo e ao individualismo desenfreado. Naturalizam-se as mazelas e misérias da condição humana, em nome de um determinismo amparado num viés tecnicista e nas necessidades da concorrência internacional, isto é, da predominância do mercado.

E nossa inferência acerca da dimensão teleológica da escola, sobretudo, no mundo ocidental tem sido, via de regra, reduzida a uma mera disposição a demanda do mercado, sob o imperativo dos órgãos financeiros mundiais sintetizando a ideologia neoliberal. Com isso, o conceito da educação escolar se consolida na associação muito mais de uma habilidade técnica do que um “fenômeno social”, tornando-se assim, mero sinônimo de instrução.

Os objetivos da instrução é ministrar ao homem o conhecimento, o uso dos objetos e habilidades precisos para sua vida profissional, orientado pelos interesses do mercado, especialmente numa sociedade capitalista, e isso se desenvolve nas delimitações do espaço escolar. Onde cada vez mais o homem tem visto apenas como um meio de ascensão social, através de uma possibilidade da aquisição de uma habilitação profissional, em detrimento, ou mesmo excluindo-se, dela a função política e social que permite uma compreensão da complexidade das relações sociais e da própria natureza do homem. Para Rousseau o ensino deve visar mais a capacidade de discernir do que o acúmulo de conhecimentos e deve fundar-se na experiência em decorrência de um processo espontâneo e em contato com a natureza, e não na racionalização.

A finalidade da educação é formar o homem integral, o eu instruído no ego educado, despertar os valores da natureza humana, que existe em cada indivíduo em forma potencial e embrionária. Isto se desenvolve pelas influencias das condições dos meios sociais em que esteja inserido.

Nossa responsabilidade como educadores é enorme, quanto mais ignoramos este postulado, maior o perigo da negação absoluta de uma civilização eqüitativa.

O ego é o pior inimigo do eu, mas o eu é o melhor amigo do ego. O ego é um péssimo senhor da nossa vida, mas um ótimo servidor. O homem que vive apenas na consciência do seu ego externo, não pode deixar de ser um egoísta, que hostiliza o eu interno.

Embora para teoria neoliberal a sociedade se desenvolve na mesma medida da escola, sendo a escola um indicador do índice de desenvolvimento humano, a idéia de que ela, por si só, é um meio para a garantia da equidade social e de que para cada uma que se abre fecha-se uma cadeia, lamentavelmente não tem se constituído como uma verdade. Pois os grandes criminosos e malfeitores da humanidade não foram, homens de pouca instrução, ao contrario, eram homens de elevada erudição.

Se as nossas escolas fossem centros de educação, poderíamos abrir escolas para fechar cadeias. Mas, as escolas são centros de instrução, e onde há um ego instruído sem um eu educado, há aí um malfeitor potencial. Os egos pouco instruídos pouco mal podem fazer, os egos muito instruídos podem fazer muito mal, se lhes faltar a devida educação do eu.

Do simples fato de o homem ser escolarizado, portanto instruído, não se segue que seja educado, que tenha valor. O ser educado não é, necessariamente, um efeito da escolarização, da instrução. O ser educado é efeito da captação de valores pela consciência e isso é o que pode tornar um homem de valor. Nas palavras de Einstein, educação é o que resta depois de ter esquecido tudo que se aprendeu na escola.

Por vezes, a obediência a esses valores é difícil e dolorosa; mas a consciência, que é o seu eco (no ser educado), exige imperiosamente que o homem obedeça a essa norma imutável.

A ciência é maravilhosa, mas não é ela, necessariamente, que pode valorizar a vida do homem. A escolaridade não garante educação na mesma proporção da instrução. Instrução plena não é necessariamente educação plena. Estes elementos são como duas linhas paralelas que não convergem nem divergem. Suas finalidades são diversas. O ideal seria que um homem tivesse plenitude de instrução e plenitude de educação; que fosse mestre em ciência e mestre na consciência.

Na escola, lamentavelmente, os poderes públicos insistem muito em instrução e pouco em educação. A educação que pretende, chama-se educação moral e cívica. Esta não tem por finalidade tornar o homem educado e consciencioso, mas sim torna-lo adaptável ao convívio social com os objetivos ideológicos vigentes. A tolerância religiosa, étnica, racial com as origens geográficas e cultural dos migrantes, a orientação sexual, deveriam fazer parte do currículo escolar, de um modo diferente daquelas de ordem instrumentalizante. Pois, o motivo dessa educação não é de consciência, mas apenas de conveniência. Por esta razão a educação moral e cívica não poderá jamais estabelecer uma sociedade justa, fraterna e igual entre os homens.

Somente um homem educado pela consciência dos valores é que pode servir para a harmonia e justiça social, portanto a paz mundial. Quando a ciência se integrar totalmente na consciência, quando o homem escolarizado se educar, então o homem terá paz e ordem universal.