CALDEIRÃO DO DIABO

CALDEIRÃO DO DIABO

Aos poucos, porém com muito alarde, a sociedade brasileira dá sinais de clamor por mudanças nos diversos matizes de sua conjuntura político-institucional. Com maior velocidade, os fatos que comprometem e agridem o equilíbrio democrático da nação se alastram como praga e ao sabor dos ventos. Suborno, propina, extorsão, corrupção e inúmeras outras veleidades ferem de morte, o coração da democracia – o povo. Denúncias fundadas e infundadas também geram o pânico social, confundem os incautos e excitam a desordem, que por sua vez, lança mais fogo sob o caldeirão.

Desatento e sem instrução, o povo segue os caminhos abertos pela ventania dos sofistas inescrupulosos que insistem em fazer valer a lei de Gerson ( o jogador de futebol ), ou seja, tirar vantagem em tudo e de tudo e ainda pousam de líderes perante à massa.

Alguns poucos e competentes cidadãos brasileiros admoestam sobre o risco que corre a nossa democracia. Não o risco de voltarmos a uma ditadura, mas o de se perder o controle dos movimentos sociais que no afã de verem atendidas suas justas reivindicações, o que nem sempre acontece, descambem para a baderna com resultados imprevisíveis. E aí reina o perigo que nossos dirigentes, por má fé ou incompetência, não conseguem enxergar seu crescimento nos grandes e agora também nos pequenos aglomerados urbanos. Estamos, pois à mercê de medidas provisórias, engendradas nas caladas da noite pelos “cabeções” do planalto ou de leis votadas no congresso que não atendem aos anseios da população, exatamente porque, a maioria delas, quando sancionadas, não são cumpridas, prevalecendo ainda o enfadonho jargão: no Brasil tem lei que “pega” e lei que não “pega”. Consideramos essa prevalência como sendo o resultado da desarmonia entre os poderes constituídos. Eles não se entendem e nós arcamos com as perdas.

Como a vida da maioria do povo brasileiro parece mais um inferno (sem renda, sem saúde, sem educação, sem trabalho, sem terra e sem esperança), espera-se que para o CALDEIRÃO DO DIABO vão todos os ingredientes ruins que temperam, com muito mau gosto, a nossa democracia e que o povo, razão maior dela, iluminado por uma nova liderança nacional, saiba separar o joio do trigo e expurgue da política aqueles cujas práticas atuais vão de encontro ao que prometeram.

Não precisamos de um santo de barro, mas sim de um líder com sabedoria e competência para entender que o Brasil, com 190 milhões de habitantes, não suporta mais arremedos de democracia, pautados no deslumbramento do poder. Enquanto esse líder não chega, reproduzimos uma lenda persa que nos remete a acreditar que sua chegada será possível, além de ser esperada.

Conduzido ao alto de uma torre maciça para ali morrer de fome e sede, conforme a crença de seu rei, logo que os guardas retiraram a escada e se foram, o homem viu sua mulher que o acompanhara à distância e chorava com desespero. Disse-lhe que não chorasse, que fosse à procura de um pouco de mel, um besouro grande, um carretel de linha, um rolo de barbante e trinta metros de corda. A mulher sem entender bem as coisas, cumpriu as ordens do marido. Ele a instruiu para que, depois de lhe quebrar as asas, colocasse na cabeça do besouro uma gota de mel, amarrasse bem a linha em uma das patas e o colocasse na parede da torre, com a cabeça voltada para o alto. Puxado pelo cheiro do mel, o inseto subiu a parede, até o alcance da mão do condenado que, em seguida, mandou que a mulher amarrasse o barbante à linha. Puxou o barbante pela linha e a corda pelo barbante. Pôde então descer e escapar.

Essa lenda poderá inspirar muitos brasileiros a buscarem uma saída para a vexatória situação que se aproxima célere. Se você, caro leitor, está acomodado, tranqüilo, sereno e acha que nada pode fazer, cale-se. Caso contrário, pense, concorde, conteste, contribua, para que, como o condenado persa, discutamos e encontremos uma maneira de extirpar de vez a corrupção que nos condena a ser a pobre coisica que somos perante o mundo moderno do qual cada vez mais nos distanciamos e nos afastar do maldito caldeirão do retrocesso.

Rui Azevedo - 09.08.2007

Rui Azevedo
Enviado por Rui Azevedo em 09/08/2007
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