Acidente aero-terrestre

Depois de ver uma, duas, vinte vezes aquelas reportagens sobre o acidente da TAM na televisão, depois de ver aquele filme do avião pousando a 240 kms por hora e continuar acelerando até se espatifar e explodir contra o prédio, lembrei-me de uma ocasião, há muitas décadas passadas, quando eu andava pelos garimpos, lá pela amazônia oriental.

Numa ocasião eu ia tomar um daqueles aviões antigos, daqueles que decolavam e pousavam em pista de terra batida, e era um avião da marca “Dart Herald”, uns monstrengos que tinham dois motores enormes turbo-hélices, lá em cima das asas, que já eram altas do chão. Passando por baixo do aparelho, me lembro, vi uma chapinha de identificação. O dito aparelho começou a voar em 1942. Em plena segunda guerra mundial. Impressionado com a idade do dito, vi o piloto ali pela pista, e puxei conversa: “Puxa meu amigo, como é antiga esta aeronave, heim? Será que não tem perigo dela cair?” Ele me olha, meio que sorri, e diz de pronto: “Ô companheiro, os aviões não caem. Eles são derrubados”.

Entrando nós os passageiros, o único comissário de bordo nos dava dois tampões para os ouvidos, pois aqueles motores faziam um barulhão dos diabos, sem cabine pressurizada voamos a baixa altitude umas 3 horas por sobre a verdejante selva amazônica.

Computadores de bordo? Nem imaginar.

Agora leio nas páginas da revista Veja, que os computadores interpretaram de forma errada as ordens dos pilotos, e os “spoilers” das asas, que freiam o avião não abriram. As manetes postas de forma errada, desaceleraram uma turbina e aceleraram outra. Os “reverses” das turbinas não abriram. A pista é curta e estava molhada. Era o vôo 3054 da TAM.

Enfim uma combinação de erros, um festival de incompetência, exposição das vísceras das empresas, misturadas às gentes do Governo, acusações, choro e ranger de dentes.

Resultado: morte e dor. 199 vítimas. E dá-lhe falação sobre aquele que caiu na selva. E mais aquele outro que voou alguns segundos e caiu no Jabaquara, ali pertinho de Congonhas.

Mas será que as coisas não melhoraram e nem evoluíram daqueles tempos dos DC 3, dos Dart Herald, dos Caravelles?

É para se pensar e se lembrar da frase aquela do piloto lá do garimpo, na selva amazônica: “Os aviões não caem. Eles são derrubados”

E olha que este Airbus nem derrubado foi. Foi um terrível acidente terrestre.

Matogrosso
Enviado por Matogrosso em 09/08/2007
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