AULA DE ANATOMIA EM MOTEL

José Arnaldo Lisboa Martins

Meu curso primário foi no G.E. Demócrito Gracindo, em Mata Grande. Enfrentei o difícil Exame de Admissão ao Ginásio e, em Penedo e depois em Palmeira dos Índios estudei os 4 anos ginasiais. Em Maceió, no Colégio Guido eu fiz os 3 anos do científico e, depois da conclusão, fiquei como professor de Matemática e Física . Fui aprovado no vestibular da Escola de Engenharia e, depois de 5 anos, meus queridos pais me levaram, orgulhosamente, para receber o diploma e o anel de engenheiro. Para afugentar o sono e conseguir me formar, estudei com os pés dentro de uma bacia com água, além dos comprimidos de “perventin”. Perdi praias, viagens, namoros, cinemas e farras. O curso de engenharia era difícil como eram o de medicina, direito, economia, odontologia, serviço social, administração e filosofia. Ainda não existiam agronomia e veterinária. Se não tivemos excelentes professores, pelo menos eram esforçados, abnegados e preparados para o “sacerdócio” e, as aulas eram “ao vivo”.

Hoje, décadas depois, constantemente tomamos conhecimento de greves de professores universitários e das Secretárias de Educação, dos Estados e Municípios. Agora, um só caderno é suficiente para doze matérias ! Para os mais de 200 cursos existentes, os alunos vão para as aulas, de bonés, bermudas e sandálias e, muitos professores vão dar aulas copiando livros didáticos nos quadros-negros. Os cursos superiores proliferam, como a dengue, alguns com nomes ridículos e de finalidades duvidosas e estranhas. Das universidades de hoje, saem doutores médicos que não sabem, fazer um curativo ou interpretar um estetoscópio. Das escolas de engenharia, saem profissionais que não aprenderam a extrair uma raiz quadrada ou calcular uma percentagem, já que os camelôs vendem calculadoras por dez reais. Formam-se advogados que não sabem compor uma petição ou um pedido de “hábeas corpus” ou de liminar. Cirurgiões Dentistas não sabem nem passar remédios para curar dor de dente. O ensino brasileiro, desde o maternal até a universidade, está uma zona. Os diplomas e os anéis de formatura já não valem nada. Nos vestibulares, os trotes são mais importantes do que a aprovação e nas festas de formatura de hoje, são mais importantes, os bailes com embalos, forrós, lambadas e pagodes.

Matrículas para vestibulares de cursos superiores pela internet estão sendo oferecidas por 20 reais. Vamos encher o Brasil de “doutores por correspondência” e o difícil do vestibular, vai ser a reprovação. Não serão necessários professores, pois, as aulas através de computadores podem ser baixadas em “sites” e de qualquer parte do planeta. Quem possuir um “lap-top” pode assistir aula de anatomia num motel, aluno do Serviço Social numa favela, de Veterinária numa vaquejada e de Engenharia numa corrida de fórmula 1. Vão formar doutores pra tudo e pra todos os lados. Vou me matricular no curso de “adjunto de assistente do vice-carimbador reserva e de gestão interdisciplinar, para encostos e descarrêgos na fogueira santa de Israel, sobre um tapete de fogo.”.

Melhor seria se acabassem com o Ministério da Educação, dirigido pelo PT e fechassem as Universidades e os Conselhos e, em lugar deles criassem o Ministério da Computação, para cuidar dos cursos superiores por correspondência. O bom é que agora os médicos vão saber o que é um “vírus”, os doutores em carpintaria o que é um arquivo, os doutores em mecânicos o que é uma ferramenta, os engenheiros o que é uma estrutura, os doutores em piano o que é um teclado e os doutores em cartório o que é um documento. Já houve Educação no Brasil, éramos felizes e não sabíamos!

Obs:Agradeço o aplauso e o incentivo:ao Dr.Humberto Barros Corrêa, à Professora Maria Salete Bezerra e ao comerciante Luiz Carlos Sobral.

Em tempo: Este artigo será publicado amanhã, 9/8/07 no jornal EXTRA

José Arnaldo Lisboa Martins
Enviado por José Arnaldo Lisboa Martins em 09/08/2007
Código do texto: T600299