Ninguém e todo mundo (uma análise quente)

Há algo de feitiçaria, mas que a razão explica, no movimento frenético do capital financeiro que tudo permeia e comanda nos dias de hoje.

Como resultado de uma estratégia bem montada , do fracasso das primeiras experiências socialistas, mas também do dinamismo da vida, o capital passou a valor central da economia, dos negócios e, principalmente, da ideologia comungada consciente ou inconsciente, de bom grado ou forçosamente, pela maioria.

Daí que todos nos tornamos mais cínicos, mais interesseiros...

Bom, mas o objetivo não é fazer um sermão moralista, e sim uma análise quente da realidade mais contemporânea possível. Análise fria é pra quem já morreu. Pois então, o fato é que na busca por se disseminar e se metamorfosear em ideologia; e de ideologia se converter em mais negócios; e de mais negócios, em mais capital, numa progressão infinita, o capital acabou pulverizando-se em formas mais ou menos sutis: do fundo de pensão ao cartão de crédito popular; da franquia aberta no subúrbio aos mega negócios instalados em regiões antes não “atendidas” pela economia de mercado.

Como procuraram infundir em nossas mentes (com sucesso!) os propagandistas das bolsas de valores e da Bolsa Mercantil e Futuros (BMF), “todos somos especuladores”. Consciente ou inconscientemente, pois, todos participamos dos movimentos de capitais em busca de mais e mais lucros, ainda que o grande capital , na mão da caras como o Bill Gates ou George Sorus ainda dê as maiores cartas. Observação: sempre com o auxílio luxuoso dos burocratas do Fundo Monetário Internacional e outras instituições do gênero, inclusive as agências de classificação de risco (ratings) .

Mas e a feitiçaria? A feitiçaria está na movimentação frenética e nos deslocamentos do centro da ação, gerando uma espécie de autonomia do capital em si, independentemente de que pertença a este ou àquele sujeito, fundo, empresa, etc. É como se, criado pelo homem, o capital tivesse ganho vida própria e estivesse ele determinando seu ritmo e seu movimento, arrastando consigo os pobres especuladores e a população em geral.

Quem manda que eu atue desta ou daquela maneira como empresário, empregado, investidor, correntista, me vista desta ou daquela maneira para parecer mais fodão que meu vizinho, tenha um cachorro pitibul ou compre uma Pajero...? Ninguém e todo mundo. Em última instância é o efeito pulverizado da soma de cada ação individual, mas com um efeito que começa a parecer demoníaco.

Se pensarmos bem, a impressão de que o diabo existe está na autonomia das simbologias criadas pelo homem para representar certo tipo de energias ou pulsões primitivas. Daí porque pode ser assustadora a imagem de um sujeito com chifres, aqueles espetos, fogo e tudo o mais. A gente cria; depois fica à mercê.

Nelson Oliveira
Enviado por Nelson Oliveira em 16/10/2005
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