O ENIGMA DA EXISTÊNCIA HUMANA.

Durante a magnífica jornada da humanidade, desde seus primórdios até os dias atuais, o enigma da existência foi um companheiro de jornada inseparável do homem, uma vez que faz parte de sua própria natureza.

O que é o homem? De onde veio? Para onde vai? Qual a essência da existência humana? Qual o sentido da vida? Estas questões sempre acompanharam o espírito humano, por vezes velados, por vezes indagados em alto e bom som. Respostas? As mais diversas ao longo da história e ao mesmo tempo a questão de mais difícil resposta. Muitas e nenhuma. E é assim até hoje. E continuará sendo-o assim para toda a eternidade.

O que torna tão difícil a resposta? Talvez o fato de que o homem seja o único ser dotado de racionalidade e de consciência e, portanto, de dúvidas. A história da humanidade é uma história de dúvidas, de dilemas de difíceis respostas. Nunca o homem teve a real certeza do caminho a seguir. Diante da dúvida apenas a razão o guiou e, por vezes, ante sua consciência, apenas mais dúvidas encontrava pelo caminho. E, em não poucos episódios, quando guiado pela “certeza absoluta”, a tragédia mostrou sua face para a humanidade. O homem voltou-se para o próprio homem. As guerras e as degradações ambientais servem de exemplos. Na certeza de que o atual modelo econômico era a única saída, vê-se milhões de excluídos, famintos de alimentos, de morada, de paz, de segurança, de educação e de tantos outros recursos inerentes à própria continuidade do homem sobre a face da terra.

O conhecimento do homem pelo próprio homem é a maior aventura de todas. Uma aventura fascinante. O aforismo grego “conhece a ti mesmo” atravessou fronteiras e se manteve como um imperativo através do tempo. O homem precisa conhecer a si mesmo para continuar existindo. Para continuar humano. Mas como se humanizar novamente diante de um mundo já desumanizado? Outro dilema…

O homem precisa se perguntar por si mesmo e pelos outros. Não há saída. Quando o homem se questiona, quando reflete sobre o mundo que o rodeia, sobre a realidade que o cerca se vê desamparado. No mais absoluto nada. Vê-se numa floresta escura com as luzes apagadas. Pouco resta. A essência precisa ser redescoberta para sair da escuridão que se encontra. Há tempos o homem parou de se questionar. E na ausência de questionamentos certezas são colocadas em prática causando ainda mais angústia e deformação da essência humana. E vemos o que se tornou a humanidade, basta ler as notícias. Homens matam homens por um celular, por um colar, por um desentendimento banal de trânsito, por nada… Homens permitem que outros homens morram da fome, do frio, de sede, de doenças básicas. É o homem deixando de ser humano para se tornar uma besta faminta e incontrolável. É o homem virando vampiro.

Claro, como já dito, que o entendimento sobre o significado da vida e o destino da humanidade não é tarefa fácil, pois “o homem é um ser extravagante e complicado”. Talvez seja mesmo impossível, mas o homem precisa continuar a buscar as respostas, precisa continuar a se questionar.

Quanto ao homem estar perdido já se escreveu “Trata-se de que o homem perdeu-se outra vez mais no mundo. Mas não é uma casualidade: o homem se perdeu já muitas vezes. Mais ainda: é essencial ao homem perder-se, desorientar-se na selva do existir. É seu trágico destino e seu ilustre privilégio!”. Porém, não é possível ver qualquer graça nessa colocação, pois dela conclui-se apenas um final ao homem: um “trágico destino”. O homem não pode aceitar tal imposição, precisa rebelar-se contra ela e agir. Mas, isso só será possível ante o questionamento de si mesmo, de suas “certezas”, de seus atos, de sua consciência e de suas dúvidas. O homem precisa duvidar de suas dúvidas para construir o novo. É, mais uma vez, a dúvida impulsionando a continuidade da jornada humana.

Apesar do desencanto que acompanha desde sempre a humanidade e atualmente ainda mais forte depois do Iluminismo e do fim da Era Industrial, o homem não pode eximir-se de buscar respostas às perguntas inerentes à sua existência, bem como para as relações sociais, políticas, econômicas e coexistenciais para com seus iguais. Num mundo em “crise profunda – de referências sociais, de paradigmas culturais, de identidades particulares e universais, de ideais, de ideologias, de representações históricas e até de padrões econômicos e políticos” é preciso o homem olhar para o próprio homem, para a sociedade e para o ambiente que o cerca e do qual é pleno dependente.

É preciso que o homem, este ser singular, lance um olhar antropológico sobre si mesmo e sobre o mundo para poder “esticar sua existência”.