Educação: intelecto x moral uma realidade social

Educação: intelecto x moral uma realidade social

Muito se sabe que quem estuda mais ganha mais. Por isso, injetar recursos no ensino é tratado habitualmente como "investimento" e não "despesa". Essa é uma verdade para o mundo inteiro, mas em especial para o Brasil. Aqui, quem estuda mais ganha muitas vezes mais. Assim, nossa distribuição de renda (a segunda pior do mundo, segundo a ONU) reflete a desigualdade educacional do país. O financiamento, por exemplo, do ensino público brasileiro foi apontado como problema por 12 dos 23 entrevistados. Eles sentenciam: o Brasil investe pouco em educação e distribui mal o dinheiro.

O resultado, as carteiras de trabalho demonstram: o salário médio do brasileiro que tem o superior completo é cinco vezes maior que o daqueles que têm apenas o ensino fundamental completo. É a mais alta diferença entre 22 países selecionados pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) para o estudo "Investindo na Educação", divulgado em 2000, no objetivo de chamar a atenção do mundo para a meta assumida no Fórum Mundial de Educação em Dakar (Senegal, 2000), de reduzir pela metade o número de analfabetos até 2015.

Na Conferência Mundial de Educação para Todos, realizada em Jomtien, na Tailândia, em 1990, foram definidos quatro pilares da educação, que deveriam ser a meta para o desenvolvimento educacional em todos os países signatários de seus documentos. Esses pilares são: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a viver com os outros e aprender a ser.

Pode-se perceber que são objetivos que vão muito além da informação ou mesmo do mero desenvolvimento de um conhecimento intelectual. Abarcam toda a formação humana, social e espiritual. É fácil perceber que metas desse porte envolvem conhecimento, comportamento, conceitos, procedimentos, valores, atitudes, saber, fazer e ser. Não podem ser atingidas com um ensino livresco, fragmentado, conteudista, estereotipado, estagnado. Exigem novas perspectivas, uma nova visão.

Todavia, é sempre um paradoxo coincidir conhecimentos acadêmico e moral, de forma sincrônica. Primeiro, no que diz respeito ao intelecto, a Unesco adverte em seu relatório “os governos precisam urgentemente identificar os grupos de crianças de crianças com maior probabilidade de nunca se matricularem na escola, bem como aquelas que a abandonam”. E para aumentar o nível educacional das crianças, a Unesco sugere a abolição das taxas escolares, o aumento da renda dos lares pobres para minimizar os riscos de trabalho infantil e o ensino da língua materna para assegurar a educação a crianças deficientes e com HIV/Aids. A falta de professores qualificados também é apontada pelo relatório com um sério entrave à universalização do ensino primário. Somente a África Subsaariana, segundo a Unesco, necessita de 2,4 a 4 milhões de novos professores. Já, no âmbito religioso, conforme o Evangelho segundo o Espiritismo, é preciso que enfatize a educação moral. E a educação moral deve se ater às incertezas da vida. Como dissemos anteriormente, não deve se basear em normas preestabelecidas, mas criar condições para que o educando saiba agir, por si mesmo, de uma forma racional, em quaisquer circunstâncias em que for colocado. O aprendizado de uma norma não pode ser somente para uma circunstância interna, mas deve ser utilizada também externamente. Não se deve responder automaticamente, mas de forma raciocinada, de acordo com o meio em que nos encontrarmos. E as situações são sempre novas, pois as pessoas.

Por fim, os espíritos de luz estão sempre nos advertindo: "Olha pelo que te trocas; talvez não percebas de pronto, mas cada um se dá por aquilo em que se troca". Reflitamos sobre a nossa conduta ética. É possível que os outros nos tachem de tolo, de retrógrado, de alienado. Não nos importemos com isso. Saibamos, sim, antever o que o futuro nos reserva.

CENCI, Ângelo V. Sobre a Educação Moral. In PIOVESAN, Américo (et al). Filosofia e Ensino em Debate. Ijui: Unijui, 2002 (Coleção Filosofia e Ensino, 2)

KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.

KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed. São Paulo: Feesp, 1995.

Roberto Cerqueira Dauto

Poeta, professor, publicitário e psicopedagogo

Roberto Cerqueira Dauto
Enviado por Roberto Cerqueira Dauto em 13/08/2007
Código do texto: T605874