MATURIDADE

Maturidade

Ao abrir a janela do meu quarto senti uma brisa perfumada, que fez-me permanecer ali, por horas... sem a diária percepção do passar do tempo. Uma rajada de ar suave, balançou os meus cabelos. Aproximei-me mais do parapeito e me pus a olhar para fora. Algumas folhas ainda novas e outras envelhecidas e ressecadas, rolavam no chão, ao toque da brisa que soprava. É uma noite clara, à luz do luar, e com algumas estrelas como coadjuvantes na formação desse belo cenário universal.

A minha mente em instantes, foi abarrotada de perguntas e mais perguntas... e a maioria delas sem a resposta convincente.

Incógnitas filosóficas? Quem sabe...

As vezes recebemos visitas inesperadas e inexplicáveis, visitas vistas e sentidas, por nossos olhos internos e intuitivos. Tantos sons, tanta movimentação, e nesse espaço ficamos absortos, tão... mais tão envolvidos em nós mesmo, em nossos sentidos e sentimentos que tudo parece-nos sumir, desaparecer, restanto apenas um enorme e duradouro silêncio. Um silêncio assustador, mas reparador ao mesmo tempo.

Assustador porque parece nos transportar para um mundo sem vida, inerte, oco, e opaco. Reparador porque nos faz uma fenda clareando nossas idéias, mostrando-nos que necessitamos de equilíbrio interior, para termos capacidade de viver harmoniosamente.

Senti a natureza auxiliando-me na tarefa de higienizar-me internamente. A brisa que balançava meus cabelos, não só acariciava minha pele e arrastava as folhas lá fora, como também inpulsionava para fora de mim o que me desagradava, e que agora eu considerava maléfico. Hábitos adquiridos ao longo do meu caminhar que sempre fizeram-me mal, mas que somente hoje eu percebera isso.

Lavar a alma requer muita sabedoria e entrega. Requer uma credibilidade indissolúvel, uma fé inabalável. Com o passar do tempo(sempre cronometrado) num tempo sem tempo, fui acumulando lixos. Alguns recicláveis e reaproveitáveis, alguns que se decompõem, mas outros tantos tóxicos, muito tóxicos. Uma das muitas perguntas que se instalaram em minha mente foi: Para que. Porque. Como fui acumular tanto lixo? Como suportamos tantos odores fétidos, tantas necróses?

A vida lá fora olhada pela janela do meu quarto, parece calma, lídima, romantica até, eu diria, com o luar que esparrama um brilho ofuscante. Quantas vezes esse silêncio interno criava-me angústia. Em mim, bem dentro de mim, existia uma apatia, talvez covardia. Meus olhos tapados com grossas viceiras, não permitia que eu enxergasse o real sentido do termo "viver intensamente", ou "a felicidade é o amor", ou ainda "é na paz que encontro a vida eterna".

Muitas vezes o hábito de valorizar o que nenhum valor tem de fato, nos faz criar poços profundos, vazios intermináveis, tristezas e frustrações gritantes. Gritamos, esperniamos, gememos, grossas e pesadas gotas escorrem por nossa face, e nada... nada muda, pois nos apricionamos a um mundo frio, materialista, egocentrico e fétido.

Nos esbarramos no espelho da vida, e encontramos gravado nele a imagem de um ser necrosado pela falta de amor, paz, perdão, coragem, fé e credibilidade. Mas a vida caminha juntamente com nossas pernas e nos traz molhos de chaves. E cada chave traz em si uma oculta, mas fabulosa porta, que ao abrir-se nos completa.

Somos fragmentos, em busca de elementos que nos preencham, que nos aquiete o coração, acalente a alma e sacie a nossa mente. Mas para sentir e compreender um pouco a cada dia, o processo do nosso caminhar, da nossa passagem neste plano é necessário criar espaço dentro e fora de nós para a reflexão, o questionamento.

É importante amadurecer como pessoa, como fruto divino, plantado e enraizado no ser, e não no ter. Amadurecer o suficiente para olhar o mundo todos os dias com os olhos de Deus.

Vez ou outra abro a janela da minha vida e permito que a luz do conhecimento, da aceitação, da compreenção, da complexidade que é ter paz, ser luz, viver o amor, receber e dar graças, se instale e se propague dentro e fora de mim. Procuro um aprendizado maduro, consciente. Ouço os sons mais puros e ternos. Desprendo-me dos alardes gritantes da modernização, ao menos por alguns intervalos do tempo que não perdoa, passa e passa numa velocidade alucinante.

A maturidade se instala e se faz presente, na minha evolução constante como ser humano, criado a imagem e semelhança de Deus.

milizinha
Enviado por milizinha em 17/08/2007
Reeditado em 20/05/2011
Código do texto: T611707
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