ASSIM, NÃO DÁ!

Os dias passam e com eles, a gente vai aprendendo a selecionar o que ouvir, o que assistir. A gente vai entendendo que estamos num barco à deriva. Num barco, em cujo mar navegamos à mercê de um timoneiro que não tem a menor noção do norte onde está situado. Um timoneiro babaca, assessorado por outros tantos, que parecem mais agentes de uma revolta surda contra quem, por mérito e competência, conseguiu fazer sua fortuna ou se mostrar liberto dos grilhões da bandidagem ou da covardia. Hoje perdi vinte e cinco minutos de meu tempo, ouvindo, pela TV Senado, as palavras de um professor-senador, defendo a extensão do bolsa-família, com qualquer outro nome, para todos os brasileiros, inclusive para aqueles mais ricos, como o senhor Antonio Ermírio de Morais. Se eu fosse um tolo, imaginaria que se tratava de uma brincadeira, mas o senador citou em seu aparte, um escritor americano, como sendo a fonte basilar de suas idéias.

Meu Deus, meu Deus! O senador, além de professor é também meu colega de profissão. É um economista. Daí, minha perplexidade e sorte minha que não o tive como professor. Azar do Brasil que o tem como representante no congresso.

É muito pouco provável que o ilustre senador tome conhecimento dos escritos desse pobre escriba, mas seria bom, muito bom, se os “recantistas” procurassem se inteirar do que defende o professor-senador e espalhassem suas idéias entre os demais pensantes do Recanto. O professor-senador, pelo que entendi, quer consolidar a idéia para a miserável população de que, pessoas como o industrial Antonio Ermírio, recebendo a ajuda do governo, vai aumentar sua colaboração fiscal e financeira para mitigar a miséria de nossa população.

Calma, professor-senador! Se o senhor acha que eu, brasileiro que conquistou seu espaço, trabalhando, estudando, pagando impostos e prestes a completar trinta e cinco anos de serviços, vai aceitar esmola de qualquer que seja o governo, o senhor está enganado. Renego sua intenção!

Se o senhor quer igualar a cidadania do Sr. Antonio Ermírio ou a sua. à cidadania daquele homem simples de Acauã-PI ( o senhor só lembrou de Guaribas ), por favor, exclua-me. Eu em nada pareço com Antonio Ermírio, mas também não sou aquele pobre coitado de Acauã/Guaribas. Respeite-me! “Não sou escravo e nunca fui senhor” e não sou obrigado a pactuar com sua absurda idéia, somente porque um americano escreveu um livro, cujas idéias o senhor absolveu e se acha um paladino ou salvador da pátria. Sua condição é muito diferente da minha. O senhor é autoridade, representa a sociedade paulista, tem a mídia para lhe dar suporte, mas como nordestino, detentor de um pouco de conhecimento, sinto-me na obrigação de abdicar da esmola que o senhor me propõe. Mas, fique certo, se dela não preciso, não significa que vou ficar calado, se ela for destinada ao senhor ou aos seus seguidores. Se o movimento dos “cansei” tem eco em São Paulo, apesar do infeliz comentário do dirigente da Phillips, saiba o senhor e o timoneiro babaca, que eu também cansei de ouvir asneiras. Pago meus impostos, que não são poucos e não desejo aparecer para meus infortunados irmãos nordestinos como sendo um caridoso hipócrita. Prefiro que me cobrem mais impostos, mas não subestimem minha capacidade de pensar. Assim, não dá.

Rui Azevedo – 23.08.2007

Rui Azevedo
Enviado por Rui Azevedo em 23/08/2007
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