Vigiai, e obrai

O Evangelho, que se ocupa das coisas transcendentais, movidas pela fé, estatui: ..."...Vigiai e orai..." Sem haver alcançado o dom da contemplação - ainda - situo-me no patamar visivel e palpavemente inferior que é o Vigiai e obrai. E não que queira desafiar ou desafinar a doutrina.

Busco-lhe, tão-somente, consequência. E da melhormente produtiva e tento me explicar sem recorrer à saliva ou à sativa. Ainda que de forma e norma quiçá cansativa. Mas imperativa: os acepipes divinos, conhecêmo-los em variada forma: do singelo maná, que sustentou hordas por anos a fio na travessia do deserto rumo à Terra Prometida, à ceia do Senhor, que, aliás, incluiu pão e vinho, e que vem nutrindo almas e corações ao longo das gerações. E isso tudo sem falarmos na multiplicação dos pães e dos peixes, no verdeiro panis angelicorum, ou pão dos anjos e até nas passas de Corinto, que no ingente trajeto para o calvário deram alento ao Salvador.

As subsequentes disputas e trocas de acusações, ao longo da história, sobre se comunistas ou eclesiásticos pedófilos seriam os maiores responsáveis sobre uma variação drástica do menu talvez merecessem farto capítulo adicional ou uma discussão a parte.

Mas vamos e venho a mim. O que ao longo de toda minha existência ingeri, dos líquidos aos sólidos, à natureza, como sói e como por vezes até dói, devolvi. Verdade que tudo já devidamente processado, proteínas retiradas para me garantirem a sustança do viver. Como aliás se passa com todo ser vivo e aqui, de nenhuma singularidade privo.

A vida privada, contudo, é que pode naturalmente, ser variada. Verdade é que nunca me faltou acesso a instalção decente para esse alívio e benefício comum a toda gente. Cheguei até, já próximo de virar sessentão, a conhecer vasos sanitários japoneses, dotados até do conforto do aquecimento e do misturador de sons, para se evitar qualquer constrangimento.

Mas o que me cumpre confessar, é que sempre fui mais partidário da comunhão com a natureza e se na infância e na juventude as muitas moitas quintalícias e de lotes vizinhos baldios me proporcionaram essa comodidade, hoje, as câmeras insidiosas e os joelhos que não garantem a elasticidade doutrora, recomendam-me os recônditos e imaculados vasos ao estravaso, que, a contragosto, acolho e na minha insigne-ficância, me recolho. E se bem iluminado e pouco frequentado acho bom, até consolador, contar com um Pedro Nava de lado.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 19/01/2018
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