Hoje recebi de Celeste Carneiro, organizadora da Revista Transdisciplinar, a notícia da publicação do meu artigo - Violeta - onde reflito sobre a morte. A revista tem ótimos artigos. Boa leitura!

     VIOLETA
     (Artigo publicado na Revista Transdisciplinar Vol. 11 - Ano 6 - Nº 11 -      Jan/2018)
 
     A vida para mim sempre é bela. Não que eu a veja como algo perfeito. Inclusive, penso que as suas incertezas e durezas a torne ainda mais encantadora e única. Somente o fato da nossa presença e consciência no mundo já seria o suficiente para todo o deleite. Como é bom acordar e sentir a beleza do dia. Pode ser uma manhã ensolarada do verão ou um dia frio e chuvoso do inverno. Cada situação nos oferece algumas possibilidades de vivê-la e de nos alegramos. A vida pela vida, do jeitinho que ela pode ser, é o grande motivo para o nosso prazer em viver. Claro, deveremos buscar sempre o de que melhor possamos conseguir, pois, a possibilidade de mudança é o melhor que temos em nós.
 
     Agora, vamos refletir sobre a morte. Na verdade o binômio vida-morte faz parte desse sistema. A vida traz em si essa outra metade, a morte. A vida é a condição sinequa non para a morte. Desde a fecundação trilhamos por esses dois caminhos: a degenerescência ou a sobrevivência. Mesmo ainda quando não tínhamos consciência jogamos com essas duas possibilidades: existir ou não existir, ser ou não ser. Acordamos para a vida com essa dualidade ou talvez não. Também, não vejo a morte como uma oposição à vida. Entendo que esses fenômenos fazem parte de um fluir continuo, sem início ou fim. Nascemos, dormimos, acordamos, amamos, sofremos, trabalhamos e vivemos com a indissociável possibilidade da morte. Por que então o espanto, a angústia e surpresa da sua realidade? Vejo a morte, assim como o nascimento, como um instante. A vida se processa na complexidade da existência. É na prática diária que construímos seus significados ou somente a sua praxis. Apesar de entrarmos no processo de decadência desde a primeira mitose do zigoto, em algum momento essa realidade acontece em sua plenitude: morremos em nossa totalidade existencial.
 
     O processo de morte é um fenômeno contínuo e pari passu com a vida. O adoecimento pode alterar o processo em si e às vezes acontece em forma de um longo romance, talvez um drama reflexivo como os Machadianos e os de Dostoiévski. Às vezes vem em forma de crônica leve, como as de Rubem Alves ou dilacerante como as de Nelson Rodrigues. Também, pode vir em forma de poesia Drummondiana ou como no primitivismo de Manoel de Barros. A morte, inclusive, pode ter cores. Escolha a sua. Eu prefiro o alaranjado, meio dourado da cor do alvorecer ou pode ser azul. Pode ser anunciada em carta, com direito às lembranças e beijos para os filhos e amigos. Às vezes como num alô, seguido de um suspiro. Como a minha morte virá? Não sei. Pode vir tão breve como uma gíria ou uma escrita de telegrama: já fui. Que esse processo tão dentro de mim, tão necessário, tão vital e tão próximo não me assuste mais.

 
     (Rosalvo Abreu Silva – Poeta, médico, autor do livro: “Desmelodia poética” e “A poesia é a semente da palavra” Ed. Pimenta Malagueta, lançado em 2017. Nascido em Nova Canaã, vive em Salvador.
rosalvoabreu@hotmail.com. Artigo publicado na Revista Transdisciplinar Vol. 11 - Ano 6 - Nº 11 - Janeiro / 2018 ISSN 2317-8612. http://revistatransdisciplinar.com.br/)
 
     "Comemorando o 6º ano da Revista Transdisciplinar, atualizamos o site e trazemos entrevistas enriquecedoras sobre a questão da consciência abordadas por Roberto Crema, Rex Thomas Okagbue e Jean-Yves Leloup por ocasião dos seminários comemorativos dos 30 anos da UNIPAZ, trazendo também a bela homenagem de Dalila Lubiano. 

Nesta edição, contamos com artigos preciosos da área de Direito focando a família e a escola, Arteterapia, poema, a criação sob o ponto de vista de uma sensível artista evolucionária americana, Krystleyez, além do grande escritor místico americano Joel S. Goldsmith."

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