ESTILOS ART NOUVEAU E ART DECÓ NA ARQUITETURA DE BELO HORIZONTE

Resumo

O presente artigo tem por objetivo apresentar as características, distinções e confluências entre os estilos Art Nouveau e o Art Decó, tomando como exemplo a arquitetura de Belo Horizonte. Além disso, através de breves considerações históricas, remontaremos à época modernista da constituição da capital mineira e como isso pode ter influenciado a arquitetura. A metodologia adotada para o presente trabalho foi o levantamento bibliográfico e de imagens.

Palavras-chave: Art Nouveau. Art Decó. Arquitetura. Belo Horizonte.

Introdução

O artigo tratará dos movimentos Art Decó e Art Noveau, em Belo Horizonte MG, apontando as características de cada estilo, tomando como objeto de análise algumas obras arquitetônicas existentes na capital mineira.

Embora a primeira vista os estilos pareçam totalmente diferentes, através do presente estudo, encontramos algumas confluências. O tema é de suma importância, na medida em que valoriza e exalta a arquitetura de Belo Horizonte, especialmente relacionada a Art Decó, muito presente e marcante na cidade, expressando o anseio de um povo.

No primeiro tópico faremos breves considerações históricas sobre Belo Horizonte que influenciaram a adoção dos estilos especialmente o art decó. Em seguida faremos uma viagem por obras expressivas de Belo Horizonte apontando características, de ambos os estilos, bem como distinções. Por fim, apontaremos algumas confluências entre os estilos em comento. A metodologia pautou-se em levantamentos bibliográficos e imagens.

1. Breves considerações históricas sobre Belo Horizonte que influenciaram a proliferação do estilo Art Decó.

Belo Horizonte, surgiu da vontade da mudança da sede do governo, para uma cidade diferente de Ouro Preto, o que ganhou força após a proclamação da república. O desejo de mudança da sede do governo se deu por diversos motivos dos quais podemos destacar a localização no centro geográfico de Minas Gerais, o que poderia demonstrar ainda, uma união política, por facilitar o equilíbrio entre diversas facções politicas, além disso, havia o desejo dos republicanos em promover o progresso no estado tornando-o industrializado e moderno e Ouro Preto não oferecia condições para tanto. Por outro lado, Ouro Preto guardava em sua arquitetura diversos símbolos do passado colonial que os republicanos queriam apagar, por expressarem os anos da dominação portuguesa, conspirações e escravidão. Assim a capital mineira foi planejada segundo valores modernos símbolo de uma nova era. Em 12 de dezembro de 1987 foi inaugurada a capital mineira (Portal da Prefeitura de Belo Horizonte). Possivelmente este anseio por modernidade que norteou a criação de Belo Horizonte abriu as portas para o estilo Art’ Decó em sua arquitetura e uma busca de total ruptura com o estilo barroco tão difundido especialmente em Minas Gerais.

Desde os anos 20 a capital mineira passou por alguns processos até superar a sua condição de mera cidade administrativa, e se consolidar como um importante polo de serviços e comércio, nesse aspecto a arquitetura acompanhou estas mudanças. A partir dos anos 30, a cidade começou a caminhar para a industrialização, surgindo edificações no estilo moderno, com ornamentações geometricamente arrojadas e com jogos de volumes (CASTRIOTA e PASSOS, 2015).

Nas décadas de 30 e 40 Belo Horizonte vivia arquitetonicamente o chamado “estilo moderno”, que a partir do final da década de 60 passou a ser conhecido como Art Déco. Em Belo Horizonte, as obras arquitetônicas, neste estilo, eram conhecidas como “cubistas”, “futurista” ou simplesmente modernas. O Art Déco, acaba por ser um esgotamento do academismo e do ecletismo classicista do inicio do século e talvez por isso sofreu críticas negativas na historia da arquitetura moderna brasileira por não ser considerada de grande importância ou interesse (CASTRIOTA e PASSOS, 2015).

Este estilo moderno foi difundido especialmente na Exposição de Arte Industrial e Decorativa Moderna que aconteceu em Paris em 1925 , chegando a Belo Horizonte a partir dos anos 30 e se difunde rapidamente em 1935 aproximadamente.

2. Art Decó e a Art Nouveou e suas distinções, na arquitetura de Belo Horizonte

O estilo Art Nouveou (1880 a 1905) é extremamente decorativo, surgiu na era conhecida como “La Belle Époque” (de 1880 a 1905 aproximadamente). Inspirado em várias fontes, incluindo o Barroco Antigo e o Rococó, o Historicismo Gótico e Celta, o Movimento Artes e Ofícios e as artes da China e do Japão (FAZIO, 2011). Enquanto o estilo Art Noveau (1920 a 1039 aproximadamente) foi influenciado pelo cubismo e futurismo, além de ser desapegado do historicismo (FAZIO, 2011).

O Art Nouveau valoriza as curvas e adornos, flores, animais, inspirado na natureza buscava valorizar os ofícios e trabalhos manuais. Enquanto que no estilo Art Decó, encontramos linhas retas rígidas e sólidas. Tomamos como exemplo dois edifícios belorizontinos, o Palácio da Liberdade e o Cine Brasil (Imagens 01 e 02).

Imagem 01 - Palácio da Liberdade em Belo Horizonte MG

Na escadaria do Palácio da Liberdade a influencia do estilo Art Noveau é evidenciada pelo ferro batido com ornamentação floral.

Imagem 02 - Cine Teatro Brasil Vallorec de 1932, projetado pelo arquiteto Alberto Murgel

O Cine Teatro Brasil, contém grandes vitrais em ferro e vidro, com desenhos geométricos e quatro grandes lanternas em metal e vidro. A presença do estilo Art Decó é percebida ainda, na volumetria bem definida e com pouca ornamentação.

Os arquitetos da Art Nouveau transformaram a necessidade estrutural em uma linguagem de curvas com derivação orgânica (FAZIO, 2011), havendo uma liberdade nas formas como podemos notar em uma das poucas construções inspiradas neste estilo em Belo Horizonte, o Castelinho do Bairro Floresta, antigo Hotel Palladium (Imagem 03).

Imagem 03 – Castelinho do Bairro Floresta

Enquanto isso, no estilo Art Decó, os arquitetos buscavam, projetar edifícios altos, retos e quadrados com uma certa simetria tudo bem estruturado e limpo como podemos notar no Palácio da Municipalidade do arquiteto Luiz Signorelli (Imagem 04), hoje Prefeitura de Belo Horizonte.

Imagem 04 – Fachada da Prefeitura de Belo Horizonte

O edifício da prefeitura expressa a forte tendência da geometrização especialmente na fachada o que pode ser visto também nas torres laterais vazadas por grandes vitrais de concreto armado, sendo possível notar o grande vão na fachada, o que é permitido pelo uso de concreto armado (CASTRIOTA e PASSOS, 2015).

O estilo Art Nouveau, adotava motivos florais em esbeltas construções de ferro (FAZIO, 2011), como podemos visualizar na escadaria do prédio que atualmente abriga o CCBB em Belo Horizonte (Imagem 05).

Imagem 05 – Escadaria do CCBB em Belo Horizonte

O Art Decó, também pode adotar esculturas de animais ou figuras humanas, estilizadas, idealizadas e heroicas (FAZIO, 2011), além de volumes marcados pelo escalonamento e formas aerodinâmicas. Neste aspecto, tomamos como exemplo o Edifício Acaiaca em Belo Horizonte (Imagem 06).

Imagem 06 – Edifício Acaiaca em Belo Horizonte

O Edifício Acaiaca, foi projetado pelo engenheiro e arquiteto Luiz Pinto Coelho, em 1943, inaugurado em 1947 e se tornou um marco na verticalização da cidade com seus 130 metros de altura. As duas carrancas foram construídas em homenagem à tribo do mesmo nome, embasadas em lendas que conferiam a esta tribo força e poder.

A Casa Afonso Pena Júnior (Imagem 07) é outro exemplo da presença da Art Nouveau em Belo Horizonte. Foi a antiga residência do ministro Afonso Pena Júnior. É composta por trabalhos em ferro de acabamento detalhado em estilo floral nas grades e no vitral, bem como nos assoalhos em madeira. Os pilares da varanda também são adornados.

Imagem 07 – Casa Afonso Pena Júnior

Outro exemplo Art Decó em Belo Horizonte é o Museu Inimá de Paula (Imagem 08), construído em 1932, conta com linhas retas, circulares estilizadas, o design é abstrato e elegante.

Imagem 08 - Museu Inimá de Paula

Os estilos apresentam diferenças marcantes especialmente quanto a tendência à simetria no Art Decó contrapondo com a organicidade do Art Nouveau. O Art Nouveau mistura elementos industriais e naturais enquanto o Decó raramente apresenta plantas e flores.

Em Belo Horizonte, não é comum encontrarmos construções no estilo Art Nouveau, talvez seja pela era modernista, quando da fundação da capital mineira.

3. Confluências

Embora os estilos apresentem distinções marcantes podemos identificar algumas confluências, como veremos a seguir.

Como o Art Nouveau o Art Decó precisava inovar em um novo século e ambos os estilos abalaram a arquitetura, incorporando elementos da natureza e depois geometrizando-os, em um ritmo de desenvolvimento industrial.

Ambos os estilos foram de nível internacional, praticados, tanto na Europa quanto nos EUA, e influenciaram o design de tudo, de arranha-céus a joias feitas à mão. Além disso, utilizavam materiais como concreto, ferro e vidro e com inspirações industriais.

4. Conclusão

Belo Horizonte desde a sua fundação estava pautada em anseios modernistas e revolucionários, deixando para traz toda a tristeza de uma época de dominação portuguesa e escravidão, por isso a capital de Minas Gerias antes Ouro Preto passou para Belo Horizonte inclusive por sua localização central e por comportar o crescimento.

Neste contexto, Belo Horizonte passa de um local de admiração, para um eixo comercial, depois industrial, até chegar ao patamar que estamos atualmente nesta cidade onde esta não é tão somente admirada mas vivida.

Adotou dos estilos Art Nouveau especialmente em interiores, mas o que predomina na cidade é o Art Decó, em relação ao outro, o que pode ser percebido na fachadas de prédios grandiosos, imponentes e elegantes.

Os estilos apontam confluências, quanto as inovações em um cenário de mudanças marcantes trazidas pelo industrialismo, buscando trazer beleza, e comodidade à vida das pessoas.

5. REFERÊNCIAS

CARTRIOTA, Leonardo Barci. PASSOS, Luiz Mauro do Carmo. O estilo Moderno. Arquitetura em Belo Horizonte nos anos 30 e 40. Disponível em <://www.academia.edu/1338743/O_estilo_moderno_arquitetura_em_Belo_Horizonte_nos_anos_30_e_40_capítulo_>. Acesso em: 23/01/2018.

FAZIO MICHEL. A História da Arquitetura Mundial. Michel Fazio, Mirian Moffet, Laurence Wodehourse; tradução: Alexandre Salvaterra – 3ªed - Porto Alegre –

AMGH, 2011;

PREFEITURA DE BELO HORIZONTE. Portal pbh. Disponível em: <

http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/comunidade.do?evento=portlet&app=historia&pg=5780&tax=11794> Acesso em 25/02/2018.

EM MINAS GERAIS. Disponível em: < https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2012/12/16/interna_gerais,337295/os-arquitetos-e-suas-marcas-em-belo-horizonte.shtml>. Acesso em 24/01/2018.

ÁRVORE. Disponível em: <aquitemarvore.com.br/noticia/belo-horizonte-esta-entre-as-cidades-brasileiras-com-maior-presenc&#807;a-do-art-deco-na-arquitetura/>. Acesso em 24/01/2018.

BAIRROS DE BELO HORIZONTE. Disponível em:<https://bairrosdebelohorizonte.webnode.com.br/news/conhe%C3%A7a-as-obras-projetadas-por-raffaello-berti-em-belo-horizonte-/> Acesso em 24/01/2018.

CULTURA BANCO DO BRASIL. Disponível em :<http://culturabancodobrasil.com.br/portal/belo-horizonte>. Acesso em 30/01/2018.

ARCHI BRSIL. Disponível em:<https://archibrasil.wordpress.com/arte-nouveau/> Acesso em 28/01/2018.