Enquanto espero pelo comboio...

Estou de partida. Levo, porém, apenas os meus sonhos. ( A CASA; NEVOEIRO; FRIO; POEIRA; ATÉ AMANHÃ; EU O MEU TIO E O PIJAMA DELE; AFINIDADE; VIAGEM) Os sonhos são o suporte simbólico indispensável. Têm de estar sempre na bagagem. Seguros e resguardados. De repente deu-me um ataque de pudor!! Achei que os meus sonhos - aquelas coisas fantásticas que ocorrem quando estamos a dormir - são a minha história privada. Ora, o privado, as histórias mais lindas, até as vividas, aquelas que já habitam o passado têm de ficar (intocadas, bactereologicamente puras) no mais sagrado de nós. Ao abrigo da luz e da mundanidade. Fiquei tímida. Vou fechar tudo naqueles baús míticos que assombram os sotãos e interrompem a simetria lenta das teias de aranha. É nesses lugares de silêncio, inobservados, que tudo se transmuda em memórias insuportavelmente belas. É só esperar pela passagem do tempo...

Voltarei consoante a disponibilidade, para falar de coisas várias. Mundanas. Pensei partir de vez, mas não fui capaz. Tenho aqui amigas e amigos. Ficarei, portanto. Agora com o meu nome: Adélia Rocha.