ESCOLA: DROPS DULCORA

“Através da educação, esperamos que a pessoa se torne mais humana, que

ela tenha uma vida produtiva.”

Edgar de Assis Carvalho (PUC/SP)

O que tem a ver a Escola com o drops Dulcora? Qual é a relação entre Escola e um doce, ou melhor, uma bala? Vamos por parte: para quem não sabe, ou não se lembra, o drops Dulcora surgiu na década de 70/80; era uma bala de cada cor e sabor e, essa bala era delicadamente embrulhada, uma a uma em plástico transparente. A bala era embrulhada para não se misturar com o sabor da outra e também para não ficar grudada uma na outra.

A Escola tem um pouco desse drops também. Seu maior e mais importante compromisso é o de ensinar, isto é, fazer com que a criança, o adolescente e o adulto aprendam. A questão do aprendizado é complicada, complexa, pois cada indivíduo é um, e, quem ensina também é um; um diferente do outro. Nessa diversidade que é a sala-de-aula, nós, os professores, às vezes nos perdemos, porque a Educação acontece rapidamente, muda constantemente, a cada minuto, a cada hora. Ela é viva. Ela é vida. Ela é dinâmica. Nada é imutável quando se fala nela. Não se pode discutir Educação tendo em mente uma idéia acabada. Definitiva. A tecnologia está aí; a ciência também. Tudo corre numa velocidade grande, como o vento, a luz. Nascemos. E morremos. Tudo vai se transformando e, nesse compasso, a Educação também; jamais ela poderá ficar fora do processo.

Se a sociedade está um caos, a Escola também acompanha esse caos. A Escola é uma mini-sociedade. Certa vez, numa conferência, um antropólogo usou a seguinte frase: Estamos navegando por mares bravios em caravelas frágeis. Pode-se inferir, a partir desse contexto, o universo da Escola e o da sociedade; daí a relação de dependência entre uma e outra.

Voltando ao drops Dulcora (aquele que não se mistura): na escola, nós, os professores, temos um pouco disso. Trabalhamos independentes uns dos outros. Nos trancamos em nossas salas e fazemos aquilo em que acreditamos, ou seja, o melhor para o nosso aluno. É muito comum, em reuniões pedagógicas – ainda mais agora, no final do ano – dizer: Comigo, esse aluno foi bem. Comigo, esse aluno não vai. Comigo (em relação ao aluno), está tudo ótimo (ou não está ótimo). Será que não está na hora de mudarmos o pronome comigo para conosco? Não quero, de maneira alguma, generalizar. Sei que há ótimas escolas e excelentes professores, tanto os da rede pública quanto os das escolas particulares que desempenham um trabalho em equipe bastante intenso e eficiente, que se preocupam com o desencadeador principal de todo o processo: o aluno. Por outro lado, há várias que são drops Dulcora.

No final do ensino fundamental e médio – sem citar o ensino universitário – nós, os professores, colocaremos, para além dos muros escolares, esses alunos, frutos (balas) dessa escola que temos, à qual precisa ser urgentemente transformada, pensada, discutida, levada a sério, não somente por nós os professores que estamos na linha de frente, mas pelos nossos governantes, pais, diretores de escola, coordenadores, orientadores educacionais; enfim, pessoas que realmente queiram mudar a cara da Educação desse estado, país ou, pra ficar mais próximo da gente, a da nossa cidade, ou até mesmo da Escola onde estamos hoje.

Será que, a partir de discussões sérias, que não fiquem somente em papéis e mais papéis, que não façam parte somente de belos relatórios e projetos pedagógicos, como também em discursos lindos e envolventes por quem não entende nada de Educação, de Escola, de Aluno; essa Escola, a qual eu me refiro, não ficaria com um outro sabor? Ou com uma outra cor? Ou ainda, cores juntas, todas misturadas, a fim de produzir um nova cor, mais intensa, mais clara, mais viva? Não é exatamente o que queremos (aliás, isso está escrito no projeto pedagógico de cada Escola): tornar o nosso educando um cidadão completo, crítico, participante ativo da sociedade nua e crua que está aí?

Valmir Contiero
Enviado por Valmir Contiero em 30/08/2007
Código do texto: T631359