desculpem-me os cientistas, mas...

hoje eu estava sentada em minha mesa, estudando tranquilamente para minha prova de amanhã, quando uma reportagem anexa me chamou atenção. ela se intitulava 'dilemas éticos do projeto genoma'. como me interesso pelo tal do projeto genoma e ainda mais por dilemas éticos, resolvi ler.

a reportagem mistura filosofia e ciência, e a questão principal é 'como seremos capazes de lidar com o conhecimento do nosso ser?'. apesar da pergunta ter sido feita com uma conotação científica, me chamou atenção a profundidade de suas implicações. mas o que de fato me fascinou foram os resultados (não tão esclarecedores) obtidos até agora.

o projeto genoma teve um avanço significativo nos últimos anos. hoje já é possível identificar portadores de genes deletérios, que se dividem em dois grupos: assintomáticos, nos quais o risco de uma doença genética só existe para a prole, e os sintomáticos, nos quais existem riscos tanto para a prole quanto para si mesmos.

olhando os dois lados da moeda, observa-se pontos positivos nesse reconhecimento, como por exemplo, uma pessoa que já passou ou já presenciou os efeitos de uma determinada doença ter o direito de escolher se quer ou não transmiti-la para sua descendência. ou ainda tomar medidas preventivas para que a doença previamente conhecida não tome proporções mais graves tardiamente.

seria fantástico se tudo em nossa vida fosse tão técnico. sim, seria. se não houvessem esquecido uma pequena falha do ser humano: os sentimentos.

alguns trabalhos realizados no canadá mostraram que o prévio conhecimento de uma doença incurável levou jovens adultos à depressão, angústia e desespero. alguns se recuperaram e passaram a aproveitar melhor o hoje; outros 10% nunca conseguiram se recuperar emocionalmente.

o direito de saber - essa é uma questão muito debatida no mundo e possui posições divergentes. nos estados unidos a maioria é favorável ao diagnóstico precoce, enquanto na inglaterra a população prefere não saber.

no brasil, nenhum dos jovens quis se submeter ao teste, o que mostrou que 'viver na incerteza' era mais tolerável do que o risco de 'ter certeza'.

esse foi um dos trechos da reportagem que mais me atraiu. 'viver na incerteza' é melhor do que 'ter certeza'. morrer na dúvida - literalmente.

sou brasileira e...concordo.

não sou uma pessoa sem visão de futuro. apenas acho indagante como os cientistas conseguem ver as pessoas como máquinas: reconhecer nossa própria essência com uma pitada de testes e alguma análises laboratoriais.

'viver na incerteza'. será que não vêem que isso sempre impulsionou o homem a ser? ter um calendário para a própria morte - o que se espera dos estudos daqui a alguns anos - é extremamente desanimador para toda raça humana. sim, eu concordo que é necessário viver o 'hoje'. mas tudo com seus limites, afinal, o meio também interage no dia-a-dia, e o que todas as pessoas com o conhecimento de uma morte pré-matura seriam capazes de fazer?

a beleza da vida está no desconhecido. apreciar a vida imaginando como será o nosso amanhã nos impulsiona, cria uma válvula chamada 'não desistir' em nossa consciência. tudo na vida tem o seu limite - conhecer a si mesmo é um direito de cada um: com seus sonhos, ideais e incertezas; não com uma máquina que os destrói.

o desconhecido não é um limite - respeitar a si mesmo é.

Carolina Meneses
Enviado por Carolina Meneses em 31/08/2007
Código do texto: T631655