ALFIE EVANS E A LENTA MORTE DO OCIDENTE

No mesmo Reino Unido em que se celebrou, esta semana, o nascimento de mais um herdeiro da família real, uma côrte judicial determinou que os pais de um garotinho chamado Alfie Evans desistissem de tentar salvar a vida do filho, acometido por uma doença rara. Segundo o juiz responsável pelo caso, não havia esperança de salvação, de modo que os aparelhos que mantinham a criança viva deveriam ser imediatamente desligados.

Essa atitude, a de negar a um jovem casal a possibilidade de continuar lutando pela vida de seu filho, é de uma crueldade assustadoramente fria e indiferente, que denota um desprezo quase diabólico pela dignidade da condição humana. E isso, esse desrespeito pela vida, é resultado direto do gradual abandono dos valores cristãos, os quais, como sempre digo, se constituem no arrimo civilizacional do Ocidente. As sociedades ocidentais, de fato, só se tornaram as mais democráticas e humanitárias do mundo por causa de suas raízes históricas judaico-cristãs. Quando começaram a se afastar dessa base espiritual, deram margem para o aparecimento de ideologias de cunho materialista que relativizam a vida e desprezam a crença numa realidade transcendental, que vá além do mero plano físico em que agora nos encontramos.

O caso de Alfie Evans, enfim, é sintomático de toda uma conjuntura de perda de valores e princípios civilizacionais. Nesse sentido, convém recordar o modo como T. S. Eliot enfatizava a preeminência da crença religiosa em relação aos aspectos culturais de qualquer grupo civilizacional. O erudito anglo-americano chegou a dizer o seguinte, em uma de suas mais prestigiadas obras: “Não acredito que a cultura da Europa possa sobreviver ao completo desaparecimento da fé cristã. [...] Se o Cristianismo se for, toda nossa cultura irá com ele”. E que cultura ocupará o lugar dessa que aos poucos esvanece e se vai? Uma cultura de morte e relativismo moral, embasada num materialismo utilitarista cínico e desalmado.

Dostoievski já havia dito outrora: "se Deus não existe, então tudo é permitido". Infelizmente, muitos governos europeus da atualidade parecem agir de acordo com essa infausta premissa. A falta de compaixão e humanidade assola esse continente cada vez mais descristianizado. Hoje, o bebê Alfie morreu - e com ele, uma parte da alma do Ocidente.