O BANQUETE DE PRATÃO

O BANQUETE DE PRATÃO.

Comer e beber com alguém é, para mim, quase que um ritual sagrado e, por isso, não bebo nem como com o inimigo.

Penso assim talvez por ser do tempo em que a família se reunia duas vezes por dia, durante as refeições, ao redor de uma mesa, para conversar sobre todos os assuntos , principalmente sobre aqueles que faziam parte do cotidiano de todos os seus componentes.

E, por falar em comer à mesa e conversar, no último dia 15 de outubro,. Dia do Professor, participei com minha esposa de uma galinhada, oferecida pela direção do colégio Anchieta aos professores e funcionários: um banquete de pratão.

Pratão de legumes, pratão de patê de alho , da Roberta , pratão de patê de atum , da Rosa , tudo bem temperado, bastante cerveja , bem gelada, e flores, muitas flores em pequenos vasos, além do ramalhete que entregamos à anfitriã, a professora Alcilene Soares Aguiar, ao som de Ray Connif, em comemoração à passagem do dia dos mestres.

Vivemos , por alguns instantes, belos e expressivos momentos de encontro com os nossos semelhantes, que só os pequenos grandes gestos do dia-a-dia podem proporcionar: um sorriso aberto e franco, um aceno ou aperto de mão de duração mais longa.

No famoso Banquete de Platão, Sócrates conta a história de seu encontro com Diotima, quando tinha por volta de 30 anos. Nessa obra universalmente conhecida, o amor é definido por ele como carência daquilo que se ama, do objeto amado. É o que inspira os seres a partir em busca do Belo: esse belo, a idéia eterna da qual todas as coisas belas participam gradativamente, é alcançado pela ascese dialética, por degraus. Primeiro, pode-se ver o belo nos corpos, depois, na natureza, etc, até se chegar ao belo em si.

No nosso banquete de pratão, não discutimos o amor: nós somente o vivemos. Vivemos por alguns momentos — fora do ritmo alucinante de um dia de trabalho na escola — a satisfação de ouvir o colega sobre assuntos nada pedagógicos, o prazer de ver a troca de colos de suas crianças que ainda não freqüentam a escola, a alegria de abraçar cada um que chega com um sorriso e votos de boas vindas.

Depois de quase uma hora de conversa jogada fora, muitas gargalhadas, piadas, chega o pessoal do Barriga – assado na brasa , sem o assado, mas com três enormes panelas da mais saborosa galinhada do ano.

Com o passar do tempo, os grandes grupos vão se desmanchando e transformam-se em pequenos outros grupos espalhados pelos amplos espaços dos pátios do colégio.

Antes de ir embora, ainda sobra tempo para comer algumas amoras — com o ímpeto dos tempos de crianças — retiradas na hora, dos pés repletos de pequenos pontos escondidos entre o verde das folhas, qual saborosas lagartas negras.

Não é preciso ir a Atenas ou Paris para ser feliz: Basta olhar com amor e fraternidade aqueles que fazem parte do nosso cotidiano e, se possível, beber e comer com eles.

Tórtoro
Enviado por Tórtoro em 25/10/2005
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