Matriz Africana do Brasileiro

INTRODUÇÃO

No artigo, “Tráfico de Africanos para o Brasil” foi nossa intenção o entendimento do que é o Escravismo e, além disso, entender as causas, o processo e a mudança de rota do tráfico de africanos ao Brasil.

Com este artigo queremos esboçar aspectos quantitativos e qualitativos do escravo para a consecução do objetivo do colonizador, a empresa mercantil, Colônia Brasil.

Com isso, numa abordagem não tão ampla como seria necessária, compreendemos, que completamos o entendimento sobre nossa matriz africana.

A partir dessa compreensão de esboços de como eram nossa matriz europeia, majoritariamente representada pelo colonizador português, e nossa matriz africana, todos os outros artigos, a partir deste, sobre o tema, “Mestiçagem em Preto e Branco” estarão voltados para as consequências dessa mestiçagem em preto branco, ou seja para aspectos de nossa etnia em formação: tipo físico; linguagem; alimentação; música;dança...

NOSSA MATRIZ AFRICANA

ASPECTOS QUANTITATIVOS

As primeiras estimativas relativas à quantidade de negros introduzidos no Brasil durante os três séculos de tráfico variam muito. Vão desde números exageradamente altos, como 13,5 milhões, até bem menores como 3,3 milhões.

As estimativas mais recentes que encontramos foram cálculos de M. Buescu, de 1968, e estudo de P. Curtin, de 1969.

O estudo de P. Curtin, feito com base nos registros oficiais arquivados na Bahia, chegou a um total de 3.036.800, que somado aos 180 mil prováveis ingressos anteriores sem registros, daria um total 3.216.800. Entretanto, como não se levou em conta o contrabando e a ocultação de contingentes escravos, para evitar pagamento de impostos, supõe-se que o número mais próximo da realidade se aproxime do dobro.

M. Buescu, em suas estimativas, aplicou taxa de reposição necessária, para manter o volume da população e agregou taxas adicionais, para o período em que aumentou a massa escrava. Chegou a seguinte conclusão: “de 1540 a 1860 foram importados 6.352.000 escravos”.

Assim, podemos tomar como 6.500.000 o número de escravos, que foram traficados para o Brasil e aqui viveram como escravos. Como é estimada em torno de 30% a média dos que pereciam nos navios negreiros, então foram traficados ao Brasil em torno de 9.300.000 africanos. À mortalidade, ainda, deve ser acrescido os que morriam no processo de captura em território africano.

Finalmente, admite-se a estimativa de que 20% desse quantitativo eram mulheres e 80% homens.

ASPECTOS QUALITATIVOS

Quando se leva em consideração a região da África de origem do escravo, entende-se que essas áreas de origem não estavam todas no mesmo grau de cultura. Entretanto, das áreas com mais contacto com os árabes desde o século VII, com os egípcios e os berberes, desde épocas imemoriais, vieram negros de cultura superior, não só à cultura indígena, mas, também, à da grande maioria dos colonos brancos, estabelecidos inicialmente na colônia Brasil.

Esse melhor da cultura negra da África foi ativo, criador, e desempenhou função civilizadora.

Foram determinantes na formação agrária brasileira, na mineração e na metalurgia de ferro em forjas rudimentares, além do que, muitas práticas de criação de gado tem origem africana.

Por aqui chegaram da África não só os braços fortes de corpos resistentes e dispostos para as monoculturas da cana e do café, mas, também, donas de casa para os colonos sem mulher branca; técnico para as minas; artífices de ferro; entendidos na criação de gado e na indústria pastoril; comerciantes de panos e sabão; mestres; sacerdotes; e tiradores de reza maometanos.

Da África, também, vieram seres predispostos biológica e psiquicamente para a vida nos trópicos. Seres de fácil integração ao clima e as condições aqui existentes. Seres identificados com o sol e as florestas.

Vieram seres com maior fertilidade em regiões quentes. Plásticos, adaptáveis, expansivos, alegres e extrovertidos.

Esses aspectos qualitativos explicam, em parte, ter sido o negro o maior e mais plástico colaborador do português na obra de colonização; e o fato de, até, haver desempenhado missão civilizadora entre os indígenas.

Entre populações do Brasil Central, existem evidências de negros quilombos, que promoveram a cultura do colonizador. Escravos fugidos propagaram entre os indígenas, antes de qualquer missionário branco, a língua portuguesa e a religião católica.

ORIGEM

O tráfico negreiro classificava os escravos com vários termos como Nagôs, Minas, Angolas, Congos, Benguelas, Luandas e Moçambiques, os quais se referem mais propriamente à região de origem do que a nações ou culturas. Cada um destes termos inclui, portanto, diferentes etnias.

Outra fonte de confusão é que muitas vezes os escravos eram classificados pelo tráfico negreiro de acordo com a língua que falavam ou entendiam como, por exemplo, Iorubás (ou Nagôs), que entendiam a língua Iorubá e Haúças, que entendiam a, haúça.

Os africanos mandados para o Brasil podem ser agrupados em: Bantus; Sudaneses; e Guinenos-sudaneses muçulmanos, ou grupos de culturas islamizadas.

BANTUS

Os bantus foram o grupo mais numeroso trazido para o Brasil e podem ser divididos em dois subgrupos: angola-congoleses e moçambiques. Vieram das regiões que atualmente são os países: Angola; República do Congo; República Democrática do Congo; Zaire; Moçambique; e, em menor escala, Tanzânia.

Apesar da diversidade de etnias, tinham unidade no que se refere à língua. Falavam línguas da família banta. Pertenciam a grupos étnicos que os traficantes dividiam em: Anjicos, Boximanes, Benguelas, Cabindas, Cassangas, Dembos, Hotentotes, Macuas, Quiloas, Rebolos, etc.

Constituíram a maior parte dos escravos levados, para o Maranhão, Pará, Rio de Janeiro, São Paulo e para a zona da mata do nordeste.

SUDANESES

Os sudaneses dividiam-se em três subgrupos: Iorubás - chamados Nagôs; Dahomey – designados geralmente como Gegês; e Fanti-Ashantis - conhecidos como Minas. Além de grupos menores da Gâmbia, Serra Leoa, Costa da Malagueta e Costa do Marfim.

Esse subgrupo tinha origem onde hoje é representado pela Nigéria, Daomei e Costa do Ouro e seu destino, geralmente, era a Bahia.

Ao grupo Nagô, que falava a língua Iorubá, pertenciam diversas etnias como: Egbá, Ifé, Ijebu, Ijexá, Ilorin, Ketu, Oxogbô, Oyó, e Sabé

Ao subgrupo Gegê de língua Ewe pertenciam etnias como: Agnis; Ewés; Krumans; e Timinis.

Ao subgrupo Fanti-Ashantis de língua akan pertenciam etnias como: Ashanti; Fanti; e Minas.

GUINENOS-SUDANESES MUÇULMANOS

Os Guineanos-sudaneses muçulmanos dividiam-se em quatro subgrupos: Fulas; Mandingas; Hauçás; e Tapas. Esse grupo tinha a mesma origem e destino dos sudaneses, a diferença estava no fato de serem convertidos ao islamismo.

Os Fulas que vinham principalmente para a Bahia procediam principalmente de: Guiné; Gâmbia; Camarões; Costa do Marfim e Serra Leoa. A língua era o Fula e a religião o Islamismo. Conhecidos como pretos de raça branca e de origem nos antigos egípcios, hamitas - povos africanos que pertencem à raça caucasóide, originária da Europa. Outra etnia islamizada Bornu falava o Fula.

Os Mandingas foram embarcados da Guiné, Gambia, Serrra Leoa, Costa do Marfim e acusam sangue árabe e tuaregue – nômades que habitam a região do sahara, falam dialeto da língua berbere e são muçulmanos.

Foram capturados em conflitos e o destino dessa etnia muçulmana era a Bahia em sua maioria. Parte significativa dos afro-americanos do norte descende dos Mandingas.

Os Hauçás, que tiveram larga importação, para o Brasil notadamente para a Bahia, são igualmente mestiços de hamitas e talvez de berberes – conjunto de tribos norte africanas que falam dialetos com base comum na língua berbere -, embora neles os traços negros predominem.

Sua procedência era principalmente: Togo Dahomey; Nigéria; Camarões; Costa do Marfim e Serra Leoa. Adotaram o islamismo no século XI e identificados na Bahia como Malês e no Rio de Janeiro como Alufás.

Muitos deles falavam e escreviam em língua árabe, ou usavam caracteres do árabe para escrever em hauçá.

Os Tapas, ou Nupes é um grupo étnico da Nigéria. É o grupo dominante nos estados de Níger e Kwara. Com mesma procedência e destino dos subgrupos anteriores.

OUTRAS ETNIAS

Tivemos grandes dificuldades em encontrar fontes que classificassem as etnias, que vieram ao Brasil como mão de obra escrava.

Somente a título de ilustração vamos enumerar outras etnias citadas nas fontes, que não conseguimos caracterizar a que subgrupo pertencem, mas que implica em reconhecermos a diversidade étnica africana. Dentre elas destacamos: Bagirmi; Cabindas; Gurunsi; Kamur; Kanembu; Krumanos; Mahis; Mangbatu; e Savalu.

CONCLUSÃO

Ao longo de mais de três séculos, enquanto a própria nação brasileira iniciava sua formação os africanos foram trazidos das mais diferentes partes do continente africano abaixo do Saara - África Subsaariana. Não se tratava de um povo, mas de uma multiplicidade de etnias. Diversidade de culturas e origem em múltiplas nações.

Apesar de chegarem na condição de escravos, devido a muitas etnias terem desenvolvimento civilizatório relevante para a Colônia, tiveram papel decisivo no sucesso dos colonizadores, em seu empreendimento mercantil.

As etnias mestiças, resultantes dessa fartura de miscigenação, renderam-se às influências dessa diversidade e qualidade da matriz africana.

FONTES:

Livro: Casa-Grande e Senzala – Gilberto Freyre;

Sites:

bndigital.bn.br:

cesarmangolin.files.wordpress.com

historiabrasileira.com:

pt.wikipedia.org:

sintetufu.org:

sociologiaeducao.blogspot.com.br; e

usp.br.

J Coelho
Enviado por J Coelho em 10/07/2018
Reeditado em 10/07/2018
Código do texto: T6386110
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