A GANÂNCIA

A GANÂNCIA

Lá à beira do rio, num ranchinho coberto de sapé, onde as chuvas fortes molhavam tudo que estava dentro, o casal, pescador e sua esposa, abraçadinhos num canto procuravam esquivar-se das fortes goteiras.

No bom tempo ficava lá na sua varanda, com sua viola, tocando e cantarolando canções felizes, desejando ter uma casinha branca, com janelas azuis, uma horta ao fundo, galinhas soltas pelo quintal, um passarinho na gaiola.

Um dia foi pescar. A vara arcava com o peixão dourado e antes que fosse tirado d’água lhe disse o peixão: sou mágico, pode pedir o que quiser! E ele, todo modesto: quero uma casinha branca, com janela azul, um pomar no fundo, galinhas soltas pelo quintal, um passarinho na gaiola...Ah! e um vestido novo para minha mulher E o peixão: pronto, pode ir que você já tem tudo isso.

Divisou ao longe sua casinha branca, com janela azul e sua mulher à porta, com vestido novo que lhe disse ao chegar: tudo isso apareceu assim, sem eu perceber. Ai ele lhe contou a história e ela, retrucando: você é mesmo muito simplório, onde já se viu, devia ter pedido logo uma casona grande, com quatro quartos, bem vistosa e confortável!

Lá foi o pescador de volta. Disse ao peixão: olha, minha mulher desejou uma casona grande, muitos quartos e bem confortável. E o peixão, pronto, já tens tudo isso, pode voltar! E la foi ele e divisou ao longe aquele casarão. Chegando a mulher disse, mas esse casarão aqui, nesse fim de mundo, sem ninguém ve a gente, volta lá, peça para ele colocar essa casa num bairro bem chique, na cidade.

Lá vai novamente o pescador e pede. Olha peixão dourado, minha mulher deseja que aquela casa esteja num lugar bem chique, num bairro de elite. Pronto, já está atendido seu pedido. Lá chegando encontra a mulher debruçada na sacada e observando: olham aquela casa lá esquina e aqueloutra ali na frente. A nossa ta parecendo uma tapera perto dessas. Volta lá, fala pro teu amigo que eu quero um palacete, com altas torres, piscina, sauna, jardim de inverno, torneiras de ouro, muitos quartos, bem bonita neste lugar.

Lá vai nosso submisso pescador novamente e na rotina pede tudo aquilo ao peixão dourado e esse lhe diz: pronto, seu pedido está atendido, pode voltar. E a mulher, vendo uma nuvenzinha pairando sobre aquele seu palácio, torna a pedir: vai lá, peça ao peixão, que quero ter poderes sobre o tempo, que chova ou faça sol sempre que eu desejar.

Lá foi o pescador. E o peixão, ao ouvir o pedido da mulher lhe diz: já sei, vou lhe dar a felicidade. Pronto. E ele, retornando, encontrou a mulher sorridente, sentada na varandinha da casa de sapé, esperando-o feliz, esquecida de tudo aquilo que havia passado, e abraçadinhos foram jantar.

Conto ouvido e aqui transcrito, da palestra do André Bordini da noite de 08/10/06 na SEAK. –

Antonio Luiz Cabral – alacalado@hotmail.com