O que temos agora

Assim como há crises individuais, há crises em um país. Assim como há temores quanto ao nosso destino como indivíduos, há temores quanto ao destino de uma nação. Não há como fugir dessa sensação que estamos no mesmo barco, rumo a um destino ignorado.

Se fôssemos dotados de poderes mágicos, saberíamos de nosso amanhã, dos perigos que nos aguardam, das oportunidades à nossa disposição no caminho. Tanto em nossa vida particular, quanto em nossa vivência coletiva.

Mas só conseguimos enxergar o "agora"...nem um palmo adiante. Essa é a realidade. E neste "agora", o que temos? Parece muito pouco. Temos a fé em nossas possibilidades, em tudo que podemos e sabemos fazer..nos princípios que nos foram passados. E muitos deles parecem não servir mais para esses novos tempos. Mas, assim mesmo carregamos a nossa bagagem, com os nossos pontos de referência e de alguma forma confiamos neles.

Novos fatos surgirão. Em meio ao aparente caos, repetição dos mesmos erros, insistência no mal que parece nunca ter fim, em meio a um quadro desanimador...novos fatos vão gerar novas consequências.

Fatos gerados pela consciência vão se sobrepor aos velhos fatos, tão repisados, vividos, analisados...temidos...

Por esse motivo, embora conheça um tanto de História, não tudo, mas o suficiente...nunca vejo uma repetição de "ismos". Porque nós, não somos os mesmos, o mundo não é o mesmo. E, enquanto os mais velhos repetem o mesmo jargão, aí estão os mais novos...como uma nova visão, menos embolorada.

Certamente esses mais jovens não conviveram com fatos marcantes que sempre estamos repisando. Não vejo que trazem esses mesmo ideais tão românticos ou radicais das décadas passadas. Não enxergo neles esse desejo de transformar o mundo em termos de igualdade absoluta.

O que vejo, e desculpe se minha visão está distorcida ou equivocada, mas o que vejo são grupos lutando pelas minorias, incluindo-se nessas minorias, falando por elas. Hoje não se trata apenas de "homogeneizar" o mundo, de repartir bens materiais igualmente, de repartir oportunidades com absoluta igualdade. Mas de criar um mundo em que as diferenças sejam respeitadas.

Penso que, se acaso essa igualdade utópica fosse instalada, as diferenças continuariam gritando, infinitamente, por seus direitos.

Assim, o que consigo enxergar, nessas novas gerações que estão aí, é menos ideais já vividos e reconhecidamente frustrados, menos "sofrimento" pelo "leite derramado" e mais ação. Não vejo à minha volta fantoches dispostos a adotar regimes extremistas, ou bonequinhos manipuláveis. Ao menos, aqui no Brasil, não vejo isso.

E se isso significa que a nossa nova geração não é politizada, no mínimo percebe-se algo peculiar, próprio do nosso povo. Uma certa defesa contra a intelectualização e excesso de teorias. E uma tendência a não levar nada tão profundamente a sério e de maneira tão definitiva e trágica, vamos dizer assim.

Muitos querem transplantar experiências passadas para esse "agora". Mas, não podemos nos esquecer que há poucas décadas atrás não tínhamos um terço das informações que temos agora, nem toda essa velocidade de comunicação, nem essa quantidade de mudanças que ocorrem em segundos. E o que vemos aqui, ao menos o que vejo, é o nosso povo absorvendo com muita facilidade todas essas mudanças, em pouco tempo e priorizando a comunicação de uma forma muito rápida.

Com certeza todas essa velocidade na comunicação não está resolvendo grande parte de nossos problemas. Ainda estamos na fase de "descobrir", nos indignar e mesmo nos revoltar contra essa realidade...que em certos momentos nos parece intransponível. Mas acredito que estamos nos encaminhando, lentamente, para uma solução "somente nossa"...Não uma repetição de soluções que outros países adotaram para si mesmos...Mas "soluções" nossas...de acordo com o perfil de nosso povo, de acordo com a realidade atual.É nisso que eu acredito.

Mareluz
Enviado por Mareluz em 04/10/2018
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