Nos recônditos da alma males há que não se vêem - VEOE04

Com o passar do tempo, uma conversa ouvida no corredor, uma indiscrição de alguém sobre uma outra pessoa, suas observações e, até mesmo uma brincadeira que você vê acontecer te da novos elementos sobre uma situação e Alguns comportamentos a sua volta. As pessoas continuavam sem falar muito com os “novatos" mas, pelo menos já olhavam com curiosidade além da desconfiança habitual. Você percebe que a maioria delas já tem mais de 80 anos. Alguns não falam com ninguém pois estão literalmente quase surdos e simplesmente não te ouvem. Outros estão nos primeiros estágios de doenças neurológicas e seu neuro córtex está empenhado em se defender dos ataques constantes do complexo cerebral reptiliano e suas emoções. Outros tantos eventualmente declaram que jamais imaginaram que passariam por lugares como esse no final de suas vidas visto que amealharam fortuna e casas na parte mais produtiva de suas vidas sentindo-se magoadas e feridas embora disfarçam esses sentimentos e dores da alma dos outros. Enfim, não é a toa que eles estão como estão. Outros ainda levantam muros à sua volta para não sofrerem e acabam por esquecer de colocar saídas para, eventualmente interagirem com pessoas que se aproximam para interagir com eles. Interessante, se não fosse trágico.

Mais interessante ainda é observar as visitas que aparecem para algumas dessas pessoas. Elas chegam, falam um pouco com os internos e ficam olhando para os relógios loucos para irem embora. Muitos, ocupados demais para ficarem mais de meia hora com aqueles que dedicaram uma vida inteira criando e cuidando desses mesmos visitantes que hoje não tem tempo para uma palavra, um carinho ou mesmo para ouvir apenas seus entes que deveriam ser queridos.