Contraste afetivo

Nas minhas caminhadas matinais, costumo observar as pessoas que encontro, tentando desvendar o mistério que se esconde atrás de cada semblante.

Hoje, destaco duas situações, que apresentam um certo contraste, quanto às possíveis relações afetivas dos personagens:

Um senhor, na faixa de seus 30/40 anos, simplesmente vestido, acompanhado de dois meninos morenos, simplesmente vestidos, com suas respectivas mochilas escolares - aparentando uns 8 anos...

Ele estava empurrando sua bicicleta e se preparava para atravessar a rua.

Cuidadosamente, certificou-se de que cada um dos meninos estava segurando no guidão da bicicleta e só então empurrou-a em direção à escola, olhando antes o fluxo dos carros. Na calçada, do outro lado, esperou que ambos soltassem a bicicleta, acompanhou-os solícito até o portão e inclinou-se para receber um beijo, antes que as crianças entrassem. Ficou olhando-as desaparecerem dentro da instituição e só então subiu na bicicleta, pedalando apressadamente, na direção oposta.

Um senhor, na faixa de seus 30/40 anos, cuidadosamente vestido, caminhava distraidamente, na calçada, a passos largos, com os olhos perdidos no horizonte. Ao seu lado uma menina loira, também cuidadosamente vestida e penteada, portando vários materiais escolares, que carregava com dificuldade. Apressava os passinhos para tentar acompanhar o adulto ao seu lado.

Olhava, de quando em quando para ele, parecendo querer pedir-lhe algo, mas desistia logo. Chegando ao colégio, o adulto passou ao largo, enquanto a menina adentrava ao recinto. Não houve palavras ou gestos que demonstrassem que ambos estavam juntos... apenas uma separação física de caminhos...

Prossegui, tentando descobrir a causa de tão diferentes atitudes:

Os dois homens pareciam ser os pais das respectivas crianças - seriam , de fato?

Que tipo de pensamentos/preocupações mantinham um dos pais distante da realidade presente?

A diferença de intensidade afetiva entre os dois pais seria apenas aparente?

Essas crianças sentir-se-iam igualmente amadas e protegidas?

E nós, em nossos relacionamentos, somos presentes? Demonstramos, nas atitudes, nosso afeto ou apenas deixamo-nos amar? E os problemas corriqueiros, como afetam nossas relações?