João sem Deus?

Embora tivesse várias vezes afirmado ser apenas um instrumento nas mãos de Deus, o povo atribuiu-lhe o dom divino de algumas curas milagrosas, algo que o aproximou definitivamente da intocabilidade do céu.

Por isso, é extremamente difícil desconsiderar esse pressuposto quando alguns factos muito sombrios e avassaladores remetem a sua reputação na vala comum, onde os mais vis e repugnantes aguardam a hora do acerto final. Quisera Deus que alguns dos seus filhos não tivessem de passar por essas provações. A ira do povo é do tamanho da sua fé inabalável, duramente ferida por um golpe traiçoeiro e lascivo.

E agora? Como atribuir (ou não) a esse homem a mentoria dos propósitos libidinosos de que é acusado, se à partida ele seria apenas um canal receptor de identidades (um médium) que o incorporaram com fins de cura e redenção, aceite e aclamado por aqueles que o procuraram e agora o acusam? Será legítimo responsabilizá-lo, à partida, pelas monstruosidades e práticas realizadas à luz de uma doutrina espírita, regeneradora e misericordiosa? Existe tribunal e legislação para julgar a espiritualidade nas suas mais intrigantes e instigantes instâncias, ou tudo não passa de uma farsa orquestrada por aqueles que se acham acima do bem e do mal? E as milhares de curas realizadas em pessoas do mundo inteiro que o visitaram e se entregaram à sua conduta e espiritualidade? É difícil! Teriam sido então muitos anos de charlatanismo acobertado, sem que tivessem ocorrido depoimentos desabonatórios de qualquer tipo, o que constrói efetivamente uma poderosa aura de elevação e proteção. É estranho que só agora tenha surgido um rol de mulheres ditas abusadas e inconformadas com o seu guru, sendo que nunca a sua sanidade mental e intelectual fora posta em causa.

Queira Deus que este homem não seja culpado no contexto das acusações que contra ele pesam. Certamente, será muito difícil reconhecer a fronteira entre o real e o ilusório, ainda mais quando o assunto é sobre os desígnios de Deus e a conduta dos homens. Não cabe a nós tecer juízos de valor sobre a religião e a fé de cada um.

Se tiver de pagar por atos conscientes que realizou, que seja feita uma justiça fria, divina e pragmática. Que sirva para aclarar ideias, dúvidas e atitudes sobre causas e assuntos ainda pouco conhecidos e que ninguém tenha a pretensão de julgar os outros sem primeiro se julgar a si próprio, através dos seus pensamentos, palavras e obras.

Tenho comigo que a João (homem) foi dada uma dimensão ilusória e exagerada, sob pretexto de um juízo que talvez não pertença só a Deus.

Acredito que as curas podem se tornar reais e miraculosas quando acreditamos que isso seja possível. Por vezes, temos tendência a idolatrar personagens, rituais e cerimônias, mas esquecemos facilmente que a cura pode estar, simplesmente, dentro de nós.

Mongiardim Saraiva
Enviado por Mongiardim Saraiva em 16/12/2018
Reeditado em 17/12/2018
Código do texto: T6528572
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