Jornal Destaque: o fim de um sonho na voz do dono

Os destinos das pessoas se cruzam por acaso e eventos inesperados podem também separá-las. Conheci o empresário sergipano Edivan Reis em viagem de férias a Pitangui, MG, minha terra natal, em 1984, mais ou menos um ano antes de me formar em Jornalismo pela Universidade de Brasília. Tinha estabelecido um marco em minha vida, desde os tempos em que vivi na Arábia Saudita: voltar a viver em Pitangui. Isso depois de conseguir o diploma e um registro profissional de jornalista, pois queria trabalhar na profissão em minha terra natal ou em Belo Horizonte.

Dos laços com a capital federal, um já se rompera: tinha pedido exoneração do Itamaraty, faltava a licença sem vencimentos da Fundação Educacional do Distrito Federal e a gradução na UnB. Conversa vai, conversa vem, ao saber que estava me formando em Jornalismo, Edivan me convidou a trabalhar em seu Jornal Destaque, sediado em Conceição do Pará, que ele queria modernizar e abranger todo o Centro-Oeste de Minas. O jornal, segundo ele, era apenas o início de uma rede de comunicação, pois estava partindo para uma rádio FM e também uma emissora de tevê.

Voltei a Pitangui em 1985 e, entusiasmado com o projeto, logo comecei a trabalhar no Jornal Destaque. No entanto, irônica e exatamente depois do grande sucesso de sua promoção do legendário show de Voo Livre (Asa Delta), no feriadão de 19, 20 e 21 de abril de 1986, Edivan fechou o Jornal Destaque e outros empreendimentos na região. Fiquei sem pai nem mãe, como se diz.

Em consequência dessa decisão de Edivan, tive que partir para um plano B: criar meu próprio jornal, que se chamou o Correio de Pitanguy. Em vez do limão, a limonada. Mas isso já é uma outra história. Publico aqui o editorial de despedida de Edivan Reis, anunciando o fechamento do Jornal Destaque, juntamente com os outros empreendimentos de sua propriedade na região:

“QUEM SOU EU...

(Editorial de encerramento das atividades do Jornal Destaque (Ano II, n° 14, de 15 a 30 de abril de 1986), com a notícia do fechamento de algumas das empresas de Edivan Reis na região de Pitangui. O editorial foi copiado ipsis litteris.)

Quando nasceu o Informativo Destaque fui bem claro que aquele veículo de informação não trataria de assuntos tais como política e religião. Deixei bem explícito que sou uma pessoa voltada para os meus negócios.

Como a região carecia de um jornal, o Informativo Destaque foi obrigado a se transformar num grande periódico e para isso investi em material humano e maquinário.

Dedicando-me à comunicação, abrangendo notícias de 12 cidades da região, tive a ideia de colocar uma estação de Rádio FM. Pitangui, que não contava no plano básico das telecomunicações, contratei os serviços de 2 engenheiros e através do Processo n° 29.104.000-128-85, publicado na portaria ministerial SSR062 de 04/09/85, publicado no Diário Oficial da União em 06/09/85, foi liberado a Pitangui o canal 218, frequência 91.5.

Como todos os meus empreendimentos são de cunho popular, me dedicando de corpo e alma a fazer sempre o melhor, causaram, por este motivo, polêmicas e insinuações de que meu trabalho tinha como objetivo grandes pretensões a cargo eletivo.

Detestando este comportamento proveniente de políticos e pessoas mal informadas, decidi pedir baixa ao Ministério das Comunicações de meu processo de concessão para canal. Tomei também a decisão irrevogável de não mais editar o Jornal Destaque, um dos mais modernos e sofisticados sistema de composição computadorizada jamais visto nesta região.

Repugnado com a situação já descrita acima, resolvo a partir de agora aplicar o know-how já adquirido também em outras regiões, criando eventos de grande porte, tais como esse que realizei no último 20/04/86, na cidade de Pitangui, evento este que atraiu um número recorde de turistas vindos de toda parte do Estado e de outras regiões do Brasil, conforme mostravam as placas dos carros estacionados e em trânsito. Todos eles, sem dúvida, foram atraídos pela intensa campanha publicitária divulgada em todos os meios de comunicação disponíveis.

Todos os objetivos destes últimos eventos, tais como Natal, Carnaval, o grande torneio de Voo Livre e muitos outros que já estavam programados para outros locais, tinham a meta de solidificar a Rádio FM, para que a cidade e o povo de Pitangui pudessem ter orgulho de possuir uma emissora competitiva com as mais modernas emissoras do gênero, e para isto seria necessário fazer um trabalho de base e preparação. Infelizmente não fui bem interpretado neste propósito.

Como grande incentivador do esporte e do lazer que sou, já demonstrado nestes anos, investirei em uma nova empresa que deverei lançar muito em breve em uma grande cidade, onde a população possa diferenciar o empresário do político. 8 anos de região não são 8 dias nem 8 horas, e sim 2.880 dias.

Quando aqui cheguei, não me deram crédito, mas os conquistei, através de meu trabalho, onde coloco seriedade e honestidade, em tudo que faço.

Procurei investir o máximo que pude na região, na qual sempre acreditei e acredito, para que a mesma saísse um pouco da estagnação em que se encontrava em termos de turismo e lazer.

Sei que temos empresários capazes de fazer investimentos de grande envergadura neste solo tão rico e fértil, onde plantei, junto com minha família, uma semente.

Quando aqui cheguei pela primeira vez, trazido por um amigo filho desta terra, pensaram que eu seria apenas mais um aventureiro comprador de terras. Mas se enganaram, pois sergipano que sou, fui acostumado desde criança ao trabalho duro, como por exemplo, a plantação e corte de cana dos 10 aos 13 anos na Usina Miranda, interior de São Paulo, dos 14 aos 15 na minha terra natal no plantio da agricultura e dos 16 aos 42 anos que hoje tenho, no Rio de Janeiro.

Quando lá cheguei, após 16 dias de difícil viagem, em que até fome passei, enfrentei todos os tipos de trabalho para minha sobrevivência.

Aos 20 anos montei modesta e pequenina gráfica cujo nome de batismo (e não razão social) foi Destaque, quando também tive grandes problemas para conquistar o crédito, devido ao capital registrado ser mínimo. Hoje, graças a Deus, tenho crédito ilimitado em todos os setores, tudo isto conquistado através de muito suor e trabalho, sem precisar de favores de políticos, já que pertenço a uma família simples de 14 irmãos, 55 sobrinhos, sem termos, até o presente momento, cargos públicos.

Meus agradecimentos a todos os amigos e colaboradores do Jornal Destaque e a todos aqueles que nestes anos estiveram ao meu lado.

Assinado: Edivan Reis”

William Santiago
Enviado por William Santiago em 06/06/2019
Reeditado em 08/06/2019
Código do texto: T6666595
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